Cotidiano

Trump aumenta abismo muçulmano-cristão, diz produtora iraniana-alemã

Trump Travel Ban Washington-G6F33ITDJ.1.jpgBERLIM – Desde que o decreto contra os muçulmanos de sete países entrou em vigor, a produtora de cinema Minu Barati-Fischer, esposa do ex-ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Joschka Fischer, está proibida de pisar em solo americano. Trump

A nova lei pode atrapalhar o seu trabalho?

Vai atrapalhar e muito. Eu nasci em Berlim, minha mãe é alemã, mas, de repente, só por causa da minha etnia (meu pai é o dissidente iraniano Mehran Barati) passo a fazer parte de um grupo que está sob suspeita. Sinto como se os EUA fossem agora uma ditadura. Eu nem uso o meu passaporte iraniano. Mas quando os americanos veem no meu passaporte o nome do meu pai, passo a ser muçulmana.

E se viajar acompanhada do seu marido, será da mesma forma barrada no aeroporto?

Com certeza. E eu nem tentaria. Ouvi de amigos histórias absurdas. As pessoas estão em pânico, sem saber o que fazer. Mesmo com passaporte alemão, são vistos como cidadãos de segunda classe. Há pais que estão proibidos de ver os filhos nos EUA. Vejo como uma ofensa e uma humilhação a milhares de pessoas de origem muçulmana.

As críticas internacionais poderão influenciar Trump a renunciar à sua controversa lei?

Tenho a esperança que a lei seja arquivada em breve. Trump vai continuar a receber críticas, não somente das pessoas afetadas, mas por Hollywood e representantes da economia. Será pressionado a suspender esse decreto absurdo que põe os EUA no mesmo plano de ditaduras e países tiranos e vai ser uma fonte enorme de prejuízos.

A suspeita sobre os muçulmanos pode provocar reações do Estado Islâmico?

A nova lei aumenta o abismo entre muçulmanos e cristãos e pode ser usada como propaganda pelos terroristas. Ao exagerar na sua generalização, que faz de mim, uma filha de uma alemã, suspeita de terrorismo, Trump acaba ajudando os terroristas. E receio que também a extrema-direita da Alternativa para a Alemanha (AfD) seja ajudada. Os EUA deixaram de ser a pátria da democracia.