Cotidiano

Trilhas de diferentes níveis garantem caminhadas pelo país

RIO – Acampar entre o mar e a areia nos Lençóis Maranhenses. Junto aos lagos da Chapada Diamantina. Em meio à Mata Atlântica para ver o pôr do sol a 2.300 metros de altitude. Essas paisagens tão diversas têm em comum o fato de que só podem ser alcançadas através de trilhas em meio à natureza. E o Brasil, país com a maior biodiversidade do planeta, oferece centenas de trajetos como estes, que promovem contato com os diferentes biomas do território.

Há opções para todos os tipos de viajante, inclusive os que nunca pisaram na mata, diz Silas Barbi, da agência de viagens Desviantes. Segundo ele, não é preciso ser aventureiro para curtir o passeio:

— O principal é respeitar seus limites. Se nunca fez uma trilha, melhor começar pelas pequenas e mais planas. E sempre se informar sobre o equipamento.

Veja mapa do Brasil com trilhas em todas as regiões

O público que mais procura este tipo de turismo são mulheres acima de 40 anos, afirma. A carioca Mônica Torres, hoje com 55 anos, é uma delas. Até 2013, não tinha pensado em fazer trilhas, por achar que não aguentaria o trajeto. Depois da primeira, perto de casa, não demorou muito para ela se aventurar por Minas Gerais. Hoje, se prepara para subir o Monte Roraima. Será sua primeira trilha de grau avançado:

— A sensação é de superação e de satisfação por fazer um contato com a natureza que eu tinha perdido.

Oficialmente, as trilhas são classificadas em cinco níveis de dificuldade. Para simplificar, a maioria dos operadores coloca os percursos em três categorias: fácil (para qualquer idade); moderada (para os que têm alguma experiência); e difícil (para quem tem preparo físico e caminha por ao menos seis horas, atravessando dificuldades no solo. Na página ao lado, algumas opções em cada nível, em todas as regiões do país.

NÍVEL INICIANTE: PERCURSOS FÁCEIS TÊM BELAS PAISAGENS

dsc01099.jpgAntes de comprar o tênis, é importante se informar sobre o nível de dificuldade da trilha para escolher a mais adequada ao seu perfil. Algumas envolvem escaladas e, para quem não tem experiência, podem ser perigosas. Avaliar o esforço físico exigido e os equipamentos obrigatórios também são fundamentais. O bancário Antonio José, de 42 anos, sentiu na pele a importância de seguir as instruções recomendadas:

— Fui sem experiência e achei que a mochila e o tipo de calçado eram frescura, pois a subida não parecia difícil. Acabei com os pés molhados, sem ter como me aquecer e com dor, pois usei tênis e mochila errados. Fui salvo por um colega, que tinha um saco de dormir extra.

Para não sofrer como ele, é bom levar em conta cada aspecto do trajeto. O ICMBio, órgão responsável pelos parques nacionais, oferece em seu site (icmbio.gov.br) uma cartilha com informações e indicações de cada trilha nos parques do país. Os percursos são classificados segundo quatro critérios. Um deles, a severidade do meio, se refere às características da região, levando em conta temperatura, pluviosidade, riscos de quedas e facilidade de resgate. A orientação do percurso é outro fator e trata de como é feita a sinalização e a marcação, com a existência ou não de pontos de referência.

As condições do terreno, se há pedras soltas, o tipo de piso e os obstáculos ao longo do caminho também são considerados na hora de avaliar a trilha. Assim como a intensidade de esforço físico necessário para terminá-la, contando a extensão e os desníveis do local. Essas definições brasileiras de demarcação são parâmetros para o mundo todo.

FALTAM OS SÍMBOLOS

Algumas trilhas, no entanto, são definidas sem respeitar esses critérios, pois não foram oficialmente demarcadas. Com isso, para quem está começando, é bom pesquisar com cuidado o percurso escolhido. Não há símbolos que indiquem o grau de dificuldade de cada uma em nível nacional, mas alguns estados, como São Paulo, adotam paletas de cores para determinar o grau de dificuldade de acordo com os critérios brasileiros.

Especialistas recomendam que os iniciantes escolham trajetos pequenos, de até duas horas de duração, para que se acostumem com as condições locais e as dificuldades pessoais que possam surgir no caminho.

— Procure realizar a primeira trilha sempre na companhia de alguém que já tenha experiência. Como regra, esteja com um calçado resistente e preferencialmente de cano alto, já que a proteção no tornozelo evita as torções — aconselha Silas Barbi, da agência Desviantes.

Há diversas trilhas urbanas no Rio, como a da subida da Pedra Bonita, de 40 minutos, consideradas fáceis.

— O Açude do Camorim é neste nível, na Zona Oeste, no maior parque natural urbano do mundo, o da Pedra Branca. É caminhada leve, de 1h30m, por uns 3 km, ideal para famílias — indica William Siqueira, da Trilha a pé.

Outra opção para aproveitar paisagens deslumbrantes é fazer as trilhas da Chapada dos Veadeiros. A recomendação é seguir pela cachoeira Loquinhas. Ou conhecer a Lagoa Azul e a dos Peixes, nos Lençóis Maranhenses. Todas na categoria fácil: de fazer e de admirar.

MÉDIO E DIFÍCIL: EQUIPAMENTOS E CAMINHADAS

pico_das_agulhas_negras.jpgTomou coragem, fez a primeira trilha e se apaixonou? Repita mais alguns trajetos no nível de dificuldade fácil antes de expandir os horizontes para percursos mais longos. Segundos especialistas, antes de se aventurar ao nível intermediário, é importante consultar alguém com mais experiência para escolher a melhor opção de trilha.

— O ideal são aquelas de cerca de 4 horas de duração. Já dá para investir em outros equipamentos mais reforçados, como botas impermeáveis e agasalhos corta-vento. Muita gente começa a ficar confiante demais e acaba ultrapassando seus limites, correndo perigos. Então, o conselho principal é mesmo ser consciente daquilo que pode fazer — diz Silas Barbi, dono da Desviantes.

Barbi recomenda algumas trilhas de, no máximo, um ou dois pernoites neste nível de dificuldade, como a Pedra do Sino, em Teresópolis, a mais de dois mil metros de altitude, que, diz “tem um nascer do sol indescritível”.

Outra opção é atravessar o Parque Estadual de Ibitipoca, em Minas Gerais, conhecendo suas grutas, cachoeiras e rios. O trajeto demanda duas noites, mas que podem ser passadas em pousadas, sem necessidade de acampar, atividade que tem sido recomendada apenas a quem está no nível avançado ou tem experiência em camping.

Aliás, trilheiros mais experientes não só podem, como costumam procurar percursos mais difíceis, que incluem obstáculos, longas caminhadas e pernoite por vários dias. Quem chega neste estágio, ganha autonomia para fazer alguns trajetos sozinho e tem a oportunidade de apreciar sensações diferentes, como dormir em meio à natureza mais selvagem. Ainda sim, relembra Barbi, cautela nunca é demais: se não está familiarizado com o local, não se arrisque.

— Mesmo nós, que trabalhamos com isso há anos, sempre que estamos em área desconhecida, procuramos um guia ou amigo experiente, que conheça o local. Ter bons sacos de dormir e barracas são essenciais.

DIFÍCEIS E INESQUECÍVEIS

Para os avançados, indica Barbi, opções de trilhas são aquelas em que se caminha por mais de um dia, como a do Vale do Pati, na Chapada Diamantina, “com paisagens inesquecíveis”, mesmo para quem — como ele — já trilhou boa parte do Brasil:

— Já estive em muitas trilhas pelo mundo, mas não canso de dizer que o Brasil tem os percursos tão bons ou melhores do que muitos locais famosos pelo planeta. Outra que recomendo é chegar ao Pico das Agulhas Negras, em Itatiaia. É cenário de outro mundo, mas para se chegar no cume, é preciso ter conhecimentos de escalada.

A Trilha do Boi, no Rio Grande do Sul, por paredões que chegam a atingir 700 metros também é uma opção recomendada.

 

COMO EVITAR OS PERIGOS MAIS COMUNS

Algumas precauções são importantes em qualquer nível de dificuldade. Veja algumas.

COMPANHIA EXPERIENTE. Vá com alguém que já conheça a trilha. Ou contrate uma empresa ou um guia. O uso de equipamentos de localização, como GPS, também deve fazer parte da caminhada. Mas não se arrisque sozinho.

HIDRATAÇÃO. Leve água, em quantidade relevante. Numa atividade física, o corpo humano consome duas vezes mais líquidos. E lembre-se do protetor solar, mesmo em dias nublados.

AQUECIMENTO. Use roupas adequadas de acordo com a temperatura de cada região, para evitar a hipotermia.

PRIMEIROS SOCORROS. Quedas podem acontecer: prefira tênis de cano longo, como apoio e evite passos largos. É importante carregar sempre um kit de primeiros socorros com curativos, gazes e ataduras.

 

SERVIÇO

Agência Trilha a pé. Entre as trilhas oferecidas estão Pedra do Sino, em Teresópolis (R$ 430); Travessia dos Lençóis Maranhenses (R$ 2.160); Parque Nacional de Ibitipoca, Minas Gerais (R$ 500). trilhaape.com.br

Desviantes. A agência faz trilha guiada, entre outras, para Vale do Pati, na Chapada Diamantina (R$ 2.640), e Agulhas Negras, Itatiaia, (R$ 650). desviantes.com.br

Roraima Brasil Adventures. O principal produto da agência é a Trilha pelo Monte Roraima (a partir de R$ 2.490). roraimabrasil.com.br

Ventura Viagens. Trilhas pelo parque do Jalapão (a partir de R$ 2.380), entre outras. ventura.com.br