Cotidiano

Trigo fora do mercado decepciona produtores

Volume de produção é 31% maior que o registrado na safra de 2015, quando a produtividade média não superou os 2.411 quilos por hectare

Cascavel – Há muitos anos não se via um trigo assim: de excelente qualidade e uma produtividade média excepcional. Apesar do clima mais hostil e o frio intenso do inverno passado, o alimento indispensável na mesa dos brasileiros teve um resultado considerado um sucesso. Então você deve estar pensando que os triticultores, depois de muitos anos, estão felizes da vida e comemorando a safra que acaba de ser colhida, certo? Errado. Na maioria dos casos os triticultores estão decepcionados e com o cereal, de excelente qualidade, estocado.

Em 111 mil hectares destinados ao trigo neste ano, em 28 municípios abrangidos pelo Núcleo Regional da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) de Cascavel, a produtividade média foi de 3.457 quilos por hectare, 140 sacas por alqueire. Este volume é 31% maior que o registrado na safra de 2015, quando a produtividade média não superou os 2.411 quilos por hectare.

A colheita acabou, o grão está pronto para ser triturado e só falta o comprador. Não que exista fartura do cereal no Brasil. Para se ter ideia, são consumidas no País cerca de 12 milhões de toneladas de trigo por ano e, quando muito, planta-se e colhe-se no País sete milhões de toneladas e em tese o restante precisaria ser trazido de fora. Ocorre que há 30 dias o produto está com sua cotação fora do mercado – situação em que não há valor estipulado a ser pago para o produto brasileiro. “O que temos percebido é que o mercado tem trazido trigo da Argentina e do Paraguai enquanto o nosso produto fica nos estoques”, reconhece o técnico do Deral (Departamento de Economia Rural), J. J. Pértille.

O agricultor Jurandir Francisco Tomazi é um dos poucos com motivos para comemorar. Ele não conseguiu garantir R$ 45 à saca, como estava cotada no momento do plantio, mas fechou negócio com uma cooperativa a R$ 38. “A gente não pode ficar com o cereal muito tempo parado, precisamos pagar as contas. Perdemos um pouco, mas precisávamos do dinheiro”, reforça ao lembrar que apesar de amargar perdas, optou por vender as mais de quatro mil sacas colhidas no sítio. “Foi para pagar as contas e fazer caixa”, finalizou.