Cotidiano

Três anos após primeiro filme, Keanu Reeves volta a encarnar John Wick

Nova YORK ? A conta quem fez foi o produtor
Basil Iwanyk: se no ?John Wick? original 84 pessoas foram assassinadas, na
sequência, em cartaz nos cinemas, o número vai a 141. Três anos depois de o
filme de ação de Keanu Reeves se tornar uma surpresa cult, a ordem em ?John Wick
? um novo dia para matar? foi a de incrementar o que já era explosivo sem
sacrificar a estética apelidada nos EUA de ?lado B dos filmes de super-heróis?.
É que enquanto estes são produções milionárias repletas de efeitos especiais, os
dois longas de Chad Stahelski têm orçamento mais modesto; são centrados nas
cenas de lutas e na capacidade de o personagem-título, um assassino profissional
sem talento para se aposentar, encontrar maneiras cada vez mais criativas de
encerrar a vida de seus inimigos.

? Alguma coisa acontece comigo
quando eu coloco o terno do John e leio as falas curtas do roteiro. Começo
imediatamente a coçar as mãos com a quantidade de cenas de enfrentamento físico
boladas por Chad e pelo (roteirista) Derek (Kolstad) e dá uma
tremedeira boa ? diz o ator de 52 anos no principal set do filme,
localizado em um enorme galpão no subúrbio de Nova York.

A conversa se dá pouco antes de Reeves começar a filmar uma das cenas
centrais do segundo capítulo da franquia, passada em um labirinto de espelhos
dentro de um museu, uma referência a ?Operação Dragão?, o clássico de Bruce Lee
de 1973. Uma das principais inspirações para o universo criado por Kolstad é o
cinema setentista de Hong Kong, mas desta vez a geografia muito singular de
?John Wick? leva o personagem para as catacumbas de Roma e as ruas labirínticas
de Nova York.

? Quando decidimos fazer uma sequência a ideia era aumentar o volume ao
máximo. Mais mortes, mais cenários, mais personagens, mais Keanu ? resume
Stahelski.

Entre as novidades estão o novo
cachorro de Wick (a sangrenta vingança da produção original começa depois de os
inimigos do protagonista roubarem seu carro e derem cabo de seu cãozinho) e a
retomada, 15 anos depois das filmagens finais de ?Matrix?, da parceria de Reeves
com Laurence Fishburne. Na trilogia dos irmãos Wachowski, os dois viviam,
respectivamente, os inesquecíveis Neo e Morpheus. Agora, Fishburne encarna uma
espécie de comandante do submundo da parte sul de Nova York, cujo epíteto é ?rei
do Bowery?, referência a uma das áreas mais perigosas de Manhattan até a década
de 1980.

? Nós seguimos amigos estes anos todos e sempre pensamos em trabalhar juntos
novamente. Laurence viu ?John Wick? e imaginou que teria um lugar para ele se
decidíssemos expandir o universo da história, que, como ele mesmo gosta de
frisar, tem um clima meio de graphic novel. Falei então com o Derek
(Kolstad) e logo ele apareceu com um personagem típico de história em
quadrinhos que, convenhamos, é, também, a cara do Laurence ? diz Reeves.

O veterano ator indicado ao Oscar
em 1993 pela hoje pouco lembrada cinebio de Tina Turner (ele viveu o genial e
terrível Ike Turner) aparece apenas na segunda metade de ?Um novo dia para
matar? na introdução a uma figura que terá importância nas próximas histórias de
Wick. Além de um final em aberto, que anuncia a terceira matança em vias de ser
filmada, Stahelski, responsável pelo treinamento dos dublês em ?Matrix?, quando
se tornou amigo de Reeves e Fishburne, também prepara uma série televisiva,
ainda em negociação com produtoras e canais, a ser lançada nos próximos anos.
Será, ele avisa, uma investigação sobre a vida de Wick antes dos eventos
narrados no primeiro filme.

Com tanta ação, Laurence Fishburne brinca com o fato de ser apenas três anos
mais velho do que Reeves mas não ter uma única cena de luta em ?Um novo dia para
matar?:

? Fiquei de queixo caído com a coreografia das lutas apresentadas no primeiro
filme, e, dando meu pitaco, acho que elas ficaram ainda mais espetaculares
agora. Quem sabe em uma próxima oportunidade?

ATOR PRATICOU JIU-JITSU BRASILEIRO

Se Fishburne não suou em cenas de enfrentamento corporal, Reeves conta que
passou, imediatamente antes das filmagens, quatro meses praticando diariamente
jiu-jitsu brasileiro com os irmãos cariocas Machado, difusores da arte marcial
nos EUA. O jiu-jitsu serviu de base para os movimentos praticados pelo ator na
maioria das lutas do segundo filme e foi especialmente decisivo na sequência em
que enfrenta Cassius, personagem do ator e músico Common, segurança de uma
magnata italiana, a mais importante vítima de Wick em sua nova desventura.

A trama de ?Um novo dia para matar? leva Wick para Roma, onde ele acaba se
enfronhando nas brigas fratricidas da Camorra. Lá ele se depara com um inimigo
ainda mais duro na queda do que Viggo Tarasov, personagem do ator sueco Michael
Nyqvist no primeiro filme. O vilão da hora é Santino D?Antonio, papel do
italiano Riccardo Scamarcio. Também é apresentada ao público a impressionante
Ares, uma mercenária muda a serviço de Santino vivida por Ruby Rose, conhecida
pela Stella Carlin da série televisiva ?Orange is the new black?.

Outra aquisição importante, por detrás das câmeras, é o diretor de fotografia
Dan Laustsen, parceiro de Guillermo del Toro em seus dois mais recentes longas,
?A colina escarlate? (2015) e o aguardado ?The shape of water?, ainda sem título
em português, com lançamento previsto para o meio do ano. O dinamarquês pensou
no filme como um ?John Wick? em esteroides, e usou lentes anamórficas em busca
de um visual ao mesmo tempo mais etéreo e preciso.

? Sei que esta já é uma sequência, mas sinto que estou apenas começando a
testar as águas com o John Wick. Cara, ele ainda vai dar muito trabalho nos
próximos anos ? diz Reeves.