Cotidiano

Tratamento intensivo com pais de crianças autistas mostra melhoras substanciais, aponta estudo

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RIO – A intervenção nos primeiros anos de vida de uma criança com autismo, especificamente entre 2 e 4 anos, com foco no suporte à comunicação dos pais com seus filhos, mostrou efeitos na redução da severidade dos sintomas do distúrbio, incluindo os seis anos posteriores ao tratamento, mostrou um estudo publicado no periódico ?The Lancet? nesta terça-feira.

O trabalho, liderado por pesquisadores da Universidade de Manchester, do King?s College London e da Universidade de Newcastle, foi o primeiro a identificar os efeitos a longo prazo nas intervenções precoces no autismo. Seis anos depois do tratamento, as crianças tiveram melhoras na comunicação interpessoal e reduziram comportamentos repetitivos, apesar de não terem sido observadas mudanças em outros aspectos como linguagem ou ansiedade. Os autores do estudo ressaltam que as dificuldades permanecem e que um suporte adicional se mantém necessário conforme a criança se torna mais velha.

A intervenção precoce utilizada no estudo, chamada de ?Preschool Autism Communication Trial? (PACT, algo como ?Experimento comunicacional com o autismo na fase da pré-escola?), trabalha diretamente com os pais e envolve, por exemplo, a exibição de vídeos deles interagindo com os filhos ? o que é comentado por terapeutas. Isto permite que os adultos qualifiquem a percepção e a resposta aos padrões de comunicação incomuns de seus filhos. Os pais participam também de 12 sessões de terapia por um semestre, seguidas de sessões mensais no semestre seguinte. Além disso, os pais se comprometem a desempenhar de 20 a 30 minutos diários de comunicação planejada e atividades recreativas com seus filhos.

Na pesquisa, 152 crianças com idade entre 2 e 4 anos com autismo receberam uma intervenção precoce de 12 meses ou um tratamento comum. Os resultados publicados nesta terça-feira analisam os resultados dos tratamentos em 80% das mesmas crianças ? um total de 121 ? seis anos depois. Destas, 59 passaram pelo experimento do PACT e outras 62, o tratamento comum. A severidade autismo foi avaliada através do padrão internacional de medida dos sintomas do autismo (ADOS CSS), que combina sinais de comunicação interpessoal e de comportamentos repetitivos e restrititivos para classificar, em um espectro de 0 a 10, o grau de seriedade do distúrbio ? em que o grau 10 é o mais severo.

No início do experimento, os dois grupos tinham graus ADOS CSS semelhantes (8.0 no grupo de intervenção e 7.9 no grupo com tratamento comum). Crianças que participaram do PACT obtiveram o grau 7.3 e 46% delas foram classificadas como pertencentes ao nível severo. O grupo que passou pelo tratamento comum teve, respectivamente, grau 7.8 e percentual de 63%.

? Nossos resultados sugerem que mudanças consistentes nos sintomas de autismo são possíveis depois de uma intervenção precoce, algo que anteriormente era visto como difícil de ser conquistado. Porém, não encontramos evidências de qualquer efeito da saúde mental da criança, como na ansiedade ou comportamentos desafiadores, o que sugere que intervenções adicionais são necessárias para lidar com estas dificuldades nas idades mais avançadas. Estamos trabalhando para incrementar nossa intervenção ? afirmaram os professores Tony Charman e Andrew Pickles, da King’s College London.

O autismo é uma desordem no desenvolvimento que afeta aproximadamente uma em cada cem pessoas. Ele pode levar a um efeito profundo no desenvolvimento social da criança até que esta se torne adulta e resulta em custos estimados de R$ 3,8 milhões a R$ 5,7 milhões para a família e a comunidade em toda a vida.

? As descobertas do estudo são animadoras, uma vez que elas representam uma melhora nos sintomas essenciais do austimo, anteriormente vistos como resistentes à mudança. Isto não é a cura, no sentido que as crianças que mostraram avanços continuarão mostrando sintomas remanescentes no longo prazo, mas sugere que trabalhar com os pais para que interajam com seus filhos desta forma podem levar a melhoras por um amplo período ? destacou o professor Jonathan Green, da Universidade de Manchester.

Os autores ressaltam algumas limitações da pesquisa: as crianças envolvidas apresentavam sintomas severos, portanto não é certo como o tratamento poderia influenciar as crianças com sintomas menos severos; além disso, o estudo avaliou os resultados posteriores do PACT, portanto nas idades entre 7 e 11 anos, o que torna restrito o conhecimento sobre o desenvolvimento do autismo na vida adulta.