Cotidiano

Transpetro repassou ao PMDB mais de R$ 100 milhões em propina, diz Machado

BRASÍLIA – O ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado afirmou, depois de fazer acordo de delação premiada, que intermediou o pagamento de mais de R$ 100 milhões de propina para políticos do PMDB durante o período que permaneceu de 2003 até o ano passado. Deste total, aproximadamente R$ 70 milhões foram repassados ao presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), ao ex-presidente José Sarney (AP) e ao senador Romero Jucá (RR), conforme revelou o GLOBO no último dia 3. Segundo ele, a propina era repassada diretamente aos beneficiários ou disfarçadas de doações para campanhas eleitorais.

Machado afirmou ainda que intermediou o pagamento de dinheiro desviado da Transpetro para o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (RN), para o governador em exercício do Rio, Francisco Dornelles (PP-RJ) e para o presidente do DEM, Agripino Maia (RN) e para o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN). Também foram destinatários de propina a ex-ministra Ideli Salvatti (PT-SC) e a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), entre outros políticos de vários partidos.

As informações contam do acordo de delação de Machado homologado pelo ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).

Depois de rejeitar os pedidos de prisão de Renan, Sarney e Jucá, apresentados pelo procurador-geral Rodrigo Janot, Teori afastou o sigilo das investigações e autorizou a divulgação dos dados.

Em depoimento prestado aos procuradores Marcello Muller e Sérgio Bruno no dia 6 do mês passado, no Rio de Janeiro, Machado falou sobre o pagamento de mais de R$ 100 milhões em propina para políticos do PMDB e descreveu os valores pagos a alguns dos beneficiários dos recursos. Também falou sobre pagamentos a políticos do PT, PP e DEM. Segundo Machado, todos eles sabiam que o dinheiro era desviado de contratos entre a Transpetro e empresas privadas.

“Durante a gestão do depoente na Transpetro foram repassados ao PMDB pouco mais de R$ 100 milhões, cuja origem eram comissões pagas ilicitamente por empresas contratadas”, afirmou Machado, ex-presidente da Transpetro e ex-senador pelo PSDB..

Machado disse que intermediou o pagamento de R$ 1.550.000,00 o ministro Henrique Eduardo Alves (RN). Segundo ele, o dinheiro teve como origem contratos entre a Queiroz Galvão e e Galvão Engenharia com a Transpetro. Durante um determinado período, Henrique Eduardo Alves fez lobby para a Transpetro contratar determinadas empresas de tecnologia e serviço, mas os negócios não avançaram. Pelo relato, o ministro era insistente na busca de doações. “Ele (Henrique Eduardo Alves) ligava diversas vezes para a Transpetro e o depoente ligou algumas vezes para ele”, disse Machado.

Machado disse ainda que intermediou o pagamento de R$ 250 mil da Queiroz Galvão para Francisco Dornelles. Para esconder a origem ilegal dos recursos, o dinheiro foi repassado na forma de doação eleitoral para o PP, do Rio de Janeiro durante as eleições de 2010. “Quando era presidente do PP, Francisco Dornelles esteve na Transpetro e solicitou apoio ao partido durante as eleições de 2010. Depois de estudar o caso, Machado chamou Dornelles na Transpetro para dizer “de onde viria a doação”. Logo depois a transação foi concretizada.

O ex-presidente disse que, com base no mesmo esquema, repassou R$ 300 mil da Queiroz Galvão para Agripino Maia em 2010 e mais R$ 250 mil para o deputado Felipe Maia (DEM-RN), filho do senador. Também foram repassados R$ 550 mil para Garibaldi Alves. O dinheiro teria saído de contratos da Camargo Corrêa e da Queiroz Galvão com a Transpetro. Foram repassados ainda mais R$ 250 mil da Queiroz Galvão para o deputado Walter Alves (PMDB-RN), filho de Garibaldi. Os repasses ocorreram em 2010 e 2012.

O senador Valdir Raupp (PMDB-RO recebeu R$ 500 mil da Lumina Resíduos Industriais, do Grupo Odebrecht em 2012.Num outro trecho do depoimento, quando fala do caixa geral da propina para o PMDB, Machado afirma que Raupp recebeu R$ 850 mil camuflados de doação eleitoral. Não está claro se os valores são cumulativos.

Machado disse ainda que a ex-ministra Ideli Salvatti (PT) recebeu R$ 500 mil da Camargo Corrêa em 2010, quando se candidatou ao governo de Santa Catarina. Segundo Machado, a ex-ministra ligou para ele e pediu que o ex-presidente da Transpetro fizesse uma reunião com um de seus funcionários. Depois das tratativas oficiais, ficou acertado que o dinheiro desviado da Transpetro seria repassado pela Camargo Correa para campanha em que a ex-ministra acabou sendo derrotada. Machado disse ainda que intermediou o repasse de R$ 100 mil para a campanha de Jandira Feghali. O dinheiro foi repassado pela Queiroz Galvão.

O deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) recebeu R$ 400 mil da Queiroz Galvão, uma parcela de R$ 200 mil em 2010, e outra do mesmo valor em 2010. Segundo Machado, Jandira e Luiz Sérgio eram “defensores da indústria naval” e nos períodos eleitorais eles o procuravam e “pediam apoio”. Da mesma forma que fez em outros casos, Machado teria mostrado aos dois a origem do dinheiro. No depoimento, Machado é incisivo. Entre os parlamentares que para quem o depoente “repassou recursos ilícitos” estavam os deputados Jandira Feghali e Luiz Sérgio.

Machado disse ainda que intermediou o pagamento de R$ 200 mil para o ex-deputado Jorge Bittar (PT-RJ) e R$ 500 mil para o também ex-deputado Cândido Vacarezza (PT-SP). Segundo ele, Vacarezza costumava procurá-lo para conversar com um grupo de 10 a 12 deputados sobre projetos de navios e conjunturas políticas. Alguns deputados do grupo de Vacarezza tentaram fazer a Transpetro contratar algumas empresas, mas os negócios também não foram adiante.

O ex-senador José Sarney (PMDB-AP) teria recebido R$ 18,5 milhões, sendo R$ 16 milhões em espécie, ao longo de nove anos. Na delação, Machado disse também que recebeu pedido do presidente interino Michel Temer para financiar a campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de Sâo Paulo em 2012. O valor acertado entre ambos foi de R$ 1,5 milhão. O ex-presidente da Transpetro afirmou também que o senador Aécio Neves (PMDB-MG) recebeu, de forma ilícita, R$ 1 milhão em dinheiro em 1998.