Cotidiano

Trangêneros relatam medo e estigma em consultas médicas

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NOVA YORK- Tânia Walker tinha câncer de pulmão e estava tossindo sangue, mas, segundo ela, na sala de emergência o médico perguntou repetidamente sobre seus órgãos genitais.

? Era como se eles não fossem me tratar a menos que eu lhes dissesse que órgãos genitais eu tinha ? contou Walker, uma mulher transgênero de 53 anos, sobre sua experiência em um hospital do Departamento para Assuntos de Veteranos, em Nova York.

Tânia experimentou um estigma compartilhado por muitos transsexuais. A mesma rejeição que enfrentam em casa e na sociedade pode frequentemente esperá-los no consultório médico, onde muitos relatam que estão sendo assediados, ridicularizados ou até mesmo agredidos.

Segundo um relatório publicado na revista “Medical Care”, cerca de 30% dos pacientes transsexuais nos Estados Unidos relatam atraso em procurar consulta médica, ou mesmo, desistência de ir ao médico devido ao medo de sofrer preconceito. Além disso, um em cada quatro pacientes relatam que lhes foi negado tratamento igualitário em unidades de saúde.

? Temos muito o que nos desculpar pela comunidade médica. Nosso tratamento dedicado aos transgêneros tem sido abominável ? afirmou Aron Janssen, fundador e diretor do serviço de Gênero e Sexualidade do Centro Médico Langone, na Universidade de Nova York. ? O mundo médico está muito atrás. É uma organização conservadora. As coisas demoram a mudar.

Os transsexuais enfrentam necessidades médicas delicadas nos Estados Unidos: eles têm taxas maiores de doenças preveníveis, abuso de drogas, tentativas de suicídio e distúrbios mentais do que a população geral.

Segundo o artigo da “Medical Care”, simplesmente ao perguntar algumas coisas, os médicos que não têm conhecimento de questões sobre a transsexualidade “podem sem querer criar uma atmosfera de de desaprovação para os pacientes”.

Transsexuais relatam que são rotineiramente chamados por seus nomes de nascimento e gênero, mesmo que seus documentos de identificação tenham sido legalmente alterados.

Jay Kallio, de 61 anos, um homem transgênero, teve um nódulo na mama identificado em 2008. Ele conta que seu médico nunca o chamou para relatar os resultados de uma biópsia, só descobrindo que tinha um câncer de mama agressivo quando um radiologista o procurou para checar suas condições de saúde.

Kallio posteriormente falou com o médico.

? Ele imediatamente disse: eu tenho um problema com a sua condição transgênera e não sei do que te chamar ? conta Kallio.

O quadro, porém, não é universalmente cruel para pacientes transsexuais, que dizem perceber, especialmente em grandes centros médicos em cidades grandes, profissionais da saúde mais aptos.

A rede de hospitais Mount Sinai Health System em Nova York treina seus empregados que têm contato com pacientes transgênero e, em março, abriu o Centro para Medicina e Cirurgia Trangênera, que oferece cuidados integrados.

? Comparado com onde estávamos quando comecei a trabalhar com transsexuais na década de 90, tivemos um tremendo progresso ? afirma Barbara Warren, diretora de programas e políticas LGBT da rede Mount Sinai.

Mesmo assim, nos Estados Unidos, aproximadamente 42% de homens transgênero relataram abuso verbal, agressão física ou negação de tratamento igualitário em consultórios e hospitais, segundo uma outra pesquisa, publicada em 2015, por Shires e Jaffee.