Cotidiano

Toshiba registra baixa contábil de US$ 6,3 bi e executivo se demite

TÓQUIO – A Toshiba anunciou uma baixa contábil de 712,5 bilhões de ienes (o equivalente a US$ 6,3 bilhões) em sua unidade de energia nuclear. Após o informe desta terça-feira, o presidente do conselho da companhia, Shigenori Shiga, comunicou que vai deixar o posto. Shiga comandava as operações nucleares da empresa nos EUA, um dos focos de problema citados no comunicado.

A companhia também havia decidido pedir um mês a mais de prazo para divulgar seu resultado do terceiro trimestre fiscal ? encerrado em dezembro de 2016 ?, para ter tempo de submeter os números a uma auditoria completa. Porém, de acordo com o ?Financial Times?, a Toshiba voltou atrás e divulgou os dados com algumas horas de atraso em relação ao programado.

O pedido de adiamento gerou questionamentos no mercado sobre se a companhia japonesa tem controle sobre suas finanças e derrubou as ações da Toshiba a seu menor patamar em 38 semanas. Os preços melhoraram um pouco ao longo do resto do pregão, e os papéis encerraram com queda de 9,20%, a 227 ienes.

O resultado trimestral revelou perdas de 500 bilhões de ienes nos nove meses do ano fiscal até 31 de dezembro. Naquele mês, a Toshiba alertara que a baixa contábil poderia chegar a vários bilhões de dólares, o que causou uma desvalorização de suas ações, corroendo mais de US$ 7 bilhões do valor de mercado da empresa.

A empresa japonesa cita custos extras em sua usina nos EUA e a diminuição das perspectivas para suas operações de energia nuclear para justificar a baixa contábil. A compra da Westinghouse em 2006 foi uma aposta no futuro da energia nuclear e uma forma de equilibrar a volatilidade do negócio de chips da Toshiba com receitas estáveis de longo prazo.

Essa visão, contudo, foi afetada pelo desastre na usina nuclear japonesa de Fukushima em 2011. Isso comprometeu a demanda, e a nova tecnologia de reator modular desenvolvida pela empresa se mostrou difícil de ser implementada.

CONSTRUÇÃO DE USINA FICA AMEAÇADA

O britânico ?Independent? destaca que a baixa contábil anunciada nesta terça-feira pode comprometer os planos para a usina nuclear de 10 bilhões de libras que a Toshiba planejava construir na Inglaterra. A expectativa é que a empreitada criaria mais de 20 mil postos de trabalho na região.

A empresa agora está sendo pressionada a apresentar um plano para equilibrar sua folha de balanço, que já estava na berlinda após um escândalo em 2015 relacionado ao registro errôneo de lucros o que acabou levando a empresa à reestruturação, a perdas recorde e à venda de ativos.

? As questões ao redor da Toshiba são tão numerosas, que você nem sabe por onde começar ? afirmou Masahiko Ishino, analista da Tokai Tokyo Securities. ? Os investidores querem saber o que vai acontecer aos negócios nuclear e de chips, se a unidade de elevadores e algumas das subsidiárias da Toshiba listadas serão vendidas. Há ainda a questão de por que a baixa contábil nuclear aconteceu.

Em um sinal de como a situação é séria, a Toshiba disse estar considerando vender uma fatia majoritária de seu negócio de chips de memória. Antes, a companhia planejava limitar a venda a 20% para manter o controle.

A empresa informou que vai separar a unidade de chips até o fim de março, mês em que acontecerá uma reunião com os acionistas da Toshiba.