Cotidiano

Terceirização: prejuízo à agricultura familiar

A Prefeitura de Cascavel segue, ainda, com um estudo que, segundo a própria administração, visa analisar como a terceirização de merenda ocorre em outros municípios e a viabilidade ou não de aderir ao modelo em Cascavel. De acordo com a Prefeitura, ainda não há definição quanto à implantação ou não do sistema, nem previsão para que isso ocorra.

Porém, o assunto tem gerado polêmica na cidade, principalmente para o Legislativo. Na avaliação dos vereadores, a terceirização prejudicaria, principalmente, a agricultura familiar. Isso porque a maioria da alimentação das crianças da merenda escolar vem dos pequenos agricultores. “As empresas terceirizadas, quando muito, cumprem a lei, que é usar 30% dos produtos da agricultura familiar. Em Cascavel, estamos próximos a 100%. Vamos deixar de gerar renda ao nosso produtor se a terceirização da merenda se tornar realidade”, analisa o vereador Paulo Porto, presidente da Comissão de Educação.

Nas sessões da Câmara de Vereadores, Celso Dal Molin também tem falado sobre o assunto. Ele investiga o fornecimento de merenda na gestão passada, de 2013 a 2016. “Porém, a forma como o setor era conduzido naqueles anos não condiz com o que é feito agora. Temos uma excelente equipe trabalhando e levando merenda de uma forma muito boa às nossas crianças”, avalia Celso.

“Não podemos perder esse alimento de primeira qualidade que é servido às nossas crianças, e trocar por uma empresa terceirizada, que pode fornecer um alimento industrializado. Prejudicando, desta forma, a nutrição dos nossos alunos. Sem contar o cheirinho de comida na cantina feito pela ‘tia’ da merenda”, resume Dal Molin.

Reunião

O assunto foi motivo de reunião ontem da Comissão de Educação com os representantes da Agrivel, Cooplaf, Conselho Municipal de Educação, cooperativas de produtores de reforma agrária e Conselho de Segurança Alimentar.

Durante a reunião, um relatório produzido pelo Fundeb, o Conselho Municipal de Educação e o Conselho Municipal de Alimentação Escolar foi apresentado. É que os conselhos visitaram os municípios de Indaiatuba e Chapecó, onde a merenda é terceirizada. A opção, nessas cidades, se mostrou mais cara e de qualidade inferior ao oferecido em Cascavel.

Valores

Em Indaiatuba, são 40 mil alunos dia a um custo de R$ 24 milhões ao ano. Em Chapecó, são 21 mil alunos dia a R$ 12 milhões por ano. Em Cascavel, em que 30 mil alunos são atendidos, R$ 12,5 milhões, por ano, são investidos. O que significa R$ 180 a menos por aluno.

Outros problemas

No relatório, os conselhos também consideram baixa a qualidade nutricional da alimentação, além do descumprimento do cardápio previsto, a demora na entrega dos alimentos, e também pouco uso de produtos da agricultura familiar. Os membros dos Conselhos também se mostraram absolutamente contrários a uma possível terceirização da merenda em Cascavel.

Da agricultura familiar

Os estudantes consomem produtos como alface, cheiro verde, brócolis, alho, banana, ovos, filés de tilápia, macarrão, leite, iogurte e também produtos orgânicos. Isso direto da agricultura familiar. E que, para algumas famílias, é a única fonte de renda. “É preciso enaltecer também outros pontos da alimentação produzida nas escolas. O cuidado, o acolhimento. As merendeiras fazem a comida na hora, com produtos mais frescos, o que se torna o mais próximo possível ao que é fornecido em casa”, destaca Claudia Pagnoncelli, que faz parte do Conselho Municipal de Educação e também é educadora.

‘Cobaias’

De acordo com o Paulo Porto, há informação de que 20 escolas seriam usadas como ‘cobaias’ para fazer uma experiência do modelo de terceirização. “E ficamos sabendo que são escolas da parte mais pobre da cidade. Queremos entender por que de fazer o experimento justamente com crianças que muitas vezes só tem aquela refeição no dia”, lamenta o presidente da Comissão de Educação da Câmara.

As escolas

Segundo a Comissão de Educação, o Executivo pretenderia testar o modelo terceirizado nas escolas CAIC I e II, Escola Maria Tereza Abreu de Figueiredo, Escola Florêncio Carlos de Araújo Neto, Escola Ana Neri, Escola Artur Carlos Sartori, Escola Atílio Destro, Escola Quintino Bocaiuva, Escola Dulce Perpetua Piorezan Tavares, Escola Aníbal Lopes Da Silva, Escola Adolival Pian, Escola José Henrique Teixeira, Escola José Henrique Teixeira, Escola do Residencial Rivieira, Escola Profª Maria Fumiko Tominaga, Escola Francisco Vaz De Lima, Escola Profª Michalina Kiçula Sochodolak, Escola Profª Kelly Christina Correa Trukane, Escola Profº Ademir Correa Barbosa e Escola Luiz Vianey Pereira.