Cotidiano

Teori critica ?espetáculo midiático? do MPF ao denunciar Lula

BRASÍLIA ? O ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), criticou nesta terça-feira a ?espetacularização? da força-tarefa do Ministério Público Federal em Curitiba ao apresentar a denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no mês passado. Na ocasião, foi apresentado um gráfico do esquema de irregularidades, com o nome de Lula ao centro. O ministro considerou o episódio incompatível com a seriedade que as investigações demandam. Teori ressaltou que não estava se referindo ao juiz Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava-Jato em Curitiba.

? Nós todos tivemos a oportunidade de verificar o espetáculo midiático de forte divulgação se fez em Curitiba, não com a participação do juiz, mas do Ministério Público Federal. Se deu notícia sobre organização criminosa, colocando o ex-presidente Lula, dando a impressão de que se estaria investigada essa organização criminosa, mas o que foi objeto de oferecimento da denúncia não foi nada disso, houve um descompasso. Essa espetacularização do episódio não é compatível nem com o que foi objeto da denúncia, nem com a seriedade que se exige na apuração desses fatos. Se houvesse reclamação, deveria ser contra esse episódio, não contra o que está nesses autos (no STF) ? disse Teori.

O ministro deu a declaração durante o julgamento, na Segunda Turma do STF, de uma reclamação apresentada pela defesa de Lula contra decisão de Teori de manter nas mãos de Moro três inquéritos que investigam o ex-presidente. A denúncia da força-tarefa foi apresentada em um desses inquéritos. As apurações que estão na primeira instância são sobre vantagens indevidas supostamente recebidas por Lula em um tríplex no Guarujá e um sítio em Atibaia, ambos em São Paulo. Os imóveis seriam de uso do ex-presidente. Outro inquérito trata da forma como Lula foi remunerado por palestras.

A defesa argumentou que as investigações deveriam ser transferidas para o STF, porque já existe na corte outro inquérito que trata dos mesmos temas. Teori explicou que o inquérito que está no STF trata da quadrilha supostamente montada para fraudar a Petrobras, da qual Lula participaria. Ele explicou que, apesar de Lula ter sido colocado como líder da organização criminosa no gráfico dos procuradores de Curitiba, o ex-presidente não está sendo acusado disso na primeira instância.

Teori ressaltou que, se todos os envolvidos na Lava-Jato forem investigados pela corte por todos os crimes supostamente cometidos, o julgamento dos processos ficará inviável. Os outros três integrantes da Segunda Turma que participaram do julgamento concordaram com ele: Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes. O ministro Celso de Mello também integra o colegiado, mas não estava presente à sessão desta terça-feira.

? Desde o início dessa investigação denominada Lava-Jato, fez-se o esforço de manter aqui apenas aquilo que diz respeito fundamentalmente a pessoas com prerrogativa de foro, na medida do possível está se fazendo isso, estamos descentralizando fatos e episódios que podem ser destacados. O fato de o magistrado de primeira instância ter afirmado que o ex-presidente teria recebido vantagem indevida, hipótese que dependeria de provas no curso do inquérito, não faz concluir que ele (Lula) é investigado também por crime de organização criminosa na primeira instância ? declarou Teori.

O ministro comparou a Lava-Jato com o mensalão, que tomou seis meses das atividades da corte para ser julgado.

? Se fossemos acolher essa reclamação pela possível relação com fatos que estão sendo investigados no inquérito 3989 (o principal inquérito da Lava-Jato no STF0, teríamos que trazer de volta para o STF todos os inquéritos e ações penais em curso envolvendo fatos relacionados ao recebimento de propina. Teríamos aqui provavelmente uma ação penal envolvendo não só pessoas com prerrogativa de foro, mas várias centenas de réus. Se demoramos seis meses para julgar uma ação penal com trinta e poucos investigados (mensalão), julgar uma ação com 500 ou 600 réus seria absolutamente inviável. Devemos nos manter minimalistas em matéria de concentração no Supremo de investigados dessa natureza ? afirmou o ministro.