Política

Tensão entre Rússia e Ucrânia mobiliza comunidades do PR

Igreja Ucraniana em Cascavel, traços da cultura e da ligação brasileira com a Ucrânia

Tensão entre Rússia e Ucrânia mobiliza comunidades do PR

Cascavel – A tensão quem vem preocupando o mundo nos últimos dias entre a Ucrânia e a Rússia, com influência dos Estados Unidos, de uma possível guerra entre os países também traz tensão para comunidades ucranianas de Cascavel, do Paraná e do país que se mobilizam para, de alguma forma, auxiliar as ações do governo federal. A reportagem do Jornal O Paraná conversou com o presidente da RCUB (Representação da Central Ucraniana Brasileira), que tem sede em Curitiba, sobre toda esta situação.

Vitório Sorotiuk, presidente da RCUB, contou que os ucranianos são uma imigração antiga e que atualmente existem cerca de 600 mil brasileiros descendentes de ucranianos no país, sendo que 80% vivem no Paraná, espalhados em pelo menos 80 cidades, principalmente na Região Metropolitana de Curitiba, Prudentópolis, União da Vitória e Ponta Grossa. Em Cascavel, também existe uma presença bastante forte da comunidade, inclusive uma igreja com traços arquitetônicos do país e um tradicional e conhecido grupo de dança ucraniana.

Sobre a tensão no país, Vitório explicou que muitos ucranianos do Paraná têm parentes, familiares e uma ligação tanto genética, quanto cultural com a Ucrânia e que vivem juntos essa apreensão de um possível confronto. Como forma de se mobilizarem, nos dias 22 e 23 de janeiro todas as 300 comunidades ucranianas religiosas no Brasil, foram convidadas a se unirem em oração e pedir a paz no país de origem. “Temos um sentimento com a Ucrânia que nos fez chamar esse movimento”, disse Sorotiuk.

 

Ofício ao Ministério

Ainda em janeiro, a Representação Central Ucraniano Brasileira encaminhou ofício ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil, nominando todas as entidades integrantes, solicitando que o Brasil levasse apoio à Ucrânia. No documento três pontos específicos foram apontados.

O primeiro, informou que a comunidade como um todo está preocupada com a tensão que chegou aos ucranianos no Brasil. Em segundo lugar, que o país não deve se abster de uma posição e deve se posicionar de forma pacífica diante do conflito e, por último, que a crise é de grande dimensão e que pode desestabilizar o próprio Brasil, que é um parceiro comercial da Ucrânia.

“Ainda não tivemos nenhum retorno oficial ao nosso pedido, mas deixamos claro que o país não deve encarar a Ucrânia apenas como um balcão de negócio; que temos laços culturais e que o Brasil deve tomar uma posição de paz diante deste conflito”, reforçou Vitório.

 

“Guerra híbrida”

Outro importante fator, lembrou o presidente, é que desde 2014, quando ocorreu essa ocupação da Rússia na região da Crimeia, a Ucrânia vive em uma “guerra híbrida” e em uma constante preocupação, que só piorou agora com essa tensão do governo russo e o cerco dos soldados ao país, mas que ainda é cedo para saber qual o desfecho que terá a situação.

“A tensão e a possibilidade de guerra não é de agora. O importante é termos países unidos a Ucrânia na luta pela a paz. Não existe nenhuma garantia que a Rússia não venha a invadir a Ucrânia. E não sabemos como evoluirá a situação.”, salientou Vitório.

Além disso, foi elaborada uma carta padrão que foi encaminhada por milhares de membros da comunidade e amigos aos presidentes das Comissões de Relações Internacionais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A RCUB vem desenvolvendo contatos com parlamentares de todos os partidos políticos e buscando apoio nas diversas instituições nacionais para aumentar o apoio e solidariedade à Ucrânia.

“O Brasil assumiu assento no Conselho de Segurança da ONU que tem como missão assegurar a paz e a segurança no mundo. Cabe ao Brasil mostrar que não assumiu o posto para enfeitar a cadeira. A nossa comunidade no Brasil deve buscar influenciar o governo brasileiro para o seu apoio à independência e soberania da Ucrânia; unir-se na determinação ao apoio e solidariedade ao povo ucraniano; apoiar e ajudar nossas entidades na organização do apoio”, disse Vitório na carta.

 

Resgate histórico

Na carta é feito um resgate histórico da situação. A Ucrânia em 1994 era o terceiro arsenal nuclear do planeta e desfez-se dessas armas de destruição em massa em troca da assinatura pela Rússia, Estados Unidos, Inglaterra e Irlanda do Norte, depois tendo se somado a França e a China no denominado “Memorando de Budapeste” de garantias em respeitar a independência, a soberania e as fronteiras existentes da Ucrânia naquela data.

Em 2014 a Rússia ocupou ilegalmente a Crimeia, quebrando o acordo do Memorando de Budapeste e travou uma guerra de agressão nas províncias do leste ucraniano de Donetsk e Luhansk. Esta guerra custou à Ucrânia mais de 14 mil mortos, mais de 30 mil feridos e 1,5 milhão de deslocados internos. Muitos dos ucranianos mortos, feridos e deslocados são familiares de brasileiros.

 

Cascavelenses em oração

 

A reportagem do Jornal O Paraná também conversou com o Padre Sérgio Chmil, pároco da Igreja Ucraniana, em Cascavel, que contou que no último domingo (13), a comunidade se mobilizou em orações pela paz na Ucrânia, quando realizaram um missa um pouco diferente. Segundo o padre, não se sabe ao certo quantos descendentes de ucranianos tem na cidade, mas que muitos são ligadas a igreja, assim como aos costumes do país de origem étnica.

“Ninguém quer guerra e sabemos os males que isso causa. A tensão é muito ruim para todos. Sabemos que existe um jogo de interesses, mas que na última semana acabou ficando ainda maior. Por isso, como cristãos, estamos rezando e pedindo para que a guerra não aconteça”, disse o padre. Ele disse que a missa ocorre sempre dentro dos ritos tradicionais, mas que sempre lembram da situação e se unem em oração pela paz. “Temos uma ligação forte com o país”, finalizou.

 

Rússia: tropas estão deixando Crimeia

 

O Ministério da Defesa da Rússia informou ontem (16) que mais tropas que concluíram os exercícios militares estão deixando a Península da Crimeia, dando sequência a retirada parcial dos militares na fronteira com a Ucrânia. “As unidades do Distrito Militar do Sul, tendo completado sua participação em exercícios táticos, estão se movendo para seus postos permanentes”, informou o Ministério da Defesa em comunicado

O Ministério da Defesa publicou um vídeo que mostra uma coluna de tanques e veículos militares deixando a Crimeia à noite através de uma ponte ferroviária após exercícios. Um comboio separado de veículos militares atravessou uma ponte diferente, informou a agência de notícias Tass.

A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), bem como a Ucrânia e países do Ocidente, ainda permanecem céticos sobre a desmobilização pela falta de informações como, por exemplo, quantos soldados deixaram a península e em outras áreas próximas à Ucrânia.