Cotidiano

Temer lançará pacote de medidas para combater a crise

henrique-meirelles.jpgRIO – Os principais conselheiros e aliados políticos do
presidente Michel Temer, alegando necessidade de medidas urgentes para combater
a recessão, passaram a defender ajustes na economia e a substituição do ministro
da Fazenda, Henrique Meirelles. Mas, em entrevista exclusiva, neste domingo, ao GLOBO, o
presidente da República reagiu: aceita a primeira proposta e até anunciou um
pacote de dez medidas ?microeconômicas?, a ser divulgado nos próximos dias, mas
se recusa veementemente a trocar o ministro.

? Falar em troca de ministro da Fazenda agora não é um desserviço apenas ao
governo, mas ao país. Por isso, quero desfazer de forma contundente, categórica,
todas as iniciativas danosas nesse sentido.

Mas reconheceu ser preciso ?impulsionar a economia a partir de agora, com
essas dez medidas?, que serão conduzidas ?pelo ministro Henrique Meirelles,
portador da mais absoluta confiança e apoio do presidente da República?. Temer
reconheceu que existem ?movimentações?, para evitar a palavra pressões, para a
saída de Meirelles. Ressaltou, porém, que nenhum dos seus interlocutores
apresentou objetivamente esse tema a ele.

? O que tem havido, e isso não posso negar, são
ponderações no sentido de que o governo, pelo curto espaço que tem, não pode
esperar de braços cruzados a retomada do crescimento econômico, prevista somente
para o segundo semestre do próximo ano. Concordo, mas aviso: essa tem sido
também uma preocupação constante não só minha, mas principalmente do ministro da
Fazenda.

MAIA E RENAN DEFENDE SAÍDA

O GLOBO apurou que entre os conselheiros e aliados do presidente da
República, os mais veementes defensores da saída de Meirelles são os presidentes
da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL),
respectivamente, o ex-ministro Romero Jucá (PMDB-PE), o líder do PMDB no Senado,
Eunício Oliveira, e os senadores tucanos Aécio Neves e Tasso Jereissati.

Pelo menos em dois grandes encontros, a substituição de Meirelles foi
debatida por esse grupo. Um deles aconteceu na noite de domingo passado, na casa
de Renan, antes da chegada de Temer à reunião. Mas a mais importante delas
ocorreu no gabinete do próprio presidente da República com parte da bancada do
PSDB, na última quinta-feira.

TEMER NÃO SÓ CONFIRMOU A CONVERSA, COMO FEZ UM BREVE RELATO DELA

? Realmente recebi no meu gabinete os senadores Tasso
Jereissati, José Aníbal (PSDB-RO), Armando Monteiro (PTB-PE) e Ricardo Ferraço
(PSDB-ES). Eles pediram medidas que possam impulsionar o crescimento, alegando
que não dá mais para esperar até o segundo semestre. Gravei bem uma expressão do
senador José Aníbal de que ?cabe ao dono cuidar da padaria?.

Segundo o presidente, Tasso, então, sugeriu-lhe ouvir o secretário de
Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Mansueto de Almeida, um dos
economistas, ao lado de Arminio Fraga, mais endeusados pelo tucanato. Temer
respondeu que chamaria não só Mansueto como também outros economistas para
conversar com ele e Meirelles, por considerar salutar ouvir todas as
opiniões.

Temer, mesmo sem citar episódio específico e muito menos nomes de pessoas,
disse não ser o tipo de presidente que deixa seu ministro da Fazenda exposto à
própria sorte e à sanha de partidos. Talvez, quisesse se referir ao tratamento
dado por Dilma Rousseff a Joaquim Levy.

Quanto ao encontro na casa de Renan, o presidente disse
ter chegado lá por volta das 23 horas do domingo para discutir uma pauta
específica, a do projeto de abuso de autoridade. Estavam nesse encontro o
ex-presidente José Sarney, os senadores Aécio Neves, Eunício Oliveira, Romero
Jucá, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o secretário executivo do Programa
de Parceria de Investimentos, Moreira Franco. Temer informou que, pelo menos
durante sua permanência nessa reunião, ninguém falou sobre a crise econômica e o
nome de Meirelles não foi pronunciado uma única vez.

Nesse encontro, porém,? e não apenas nele, mas em vários outros dos quais
essas pessoas citadas têm participado, ? discutiu-se abertamente, antes da
chegada do presidente, a saída de Meirelles.

A aflição dos tucanos tem um componente eleitoral. O partido ajudou a
viabilizar e entrou de cabeça no governo Temer. Um desembarque a esta altura
seria difícil de executar e, mais ainda, de explicar ao eleitor. Ao mesmo tempo,
a persistência da recessão e suas consequências sociais tendem a comprometer as
chances do candidato do PSDB à Presidência em 2018.

Mas a impaciência com a escassez de sinais de recuperação da economia não se
limita ao PSDB nem aos políticos.

Assim como os tucanos, lideranças importantes do PMDB sofrem pressão de
agentes econômicos que apoiaram o impeachment e agora se impacientam com a
gravidade da situação e a demora nos resultados do plano de Meirelles.

DEMORA PARA REDUZIR JUROS

Na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(Fiesp), apoiadora de primeira hora do afastamento de Dilma Rousseff, o discurso
elogioso à qualidade dos integrantes da equipe econômica foi trocado, nos
bastidores, pela pregação da necessidade urgente de reduzir mais acentuadamente
a taxa de juros, como único meio de promover alguma atividade no curto
prazo.

Embora os descontentes reconheçam as credenciais do
presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, argumentam que, preocupado em
se diferenciar do BC subalterno do governo Dilma, ele estaria promovendo uma
redução da Selic mais tímida do que a realidade exigiria. E excessivamente
concentrado em devolver a inflação para o centro da meta de 4,5% no fim de 2017,
?ainda que, nessa hora, possa não haver mais nem governo Temer nem economia para
recuperar?, diz um representante do setor produtivo.

Outra novidade do quadro atual é que as queixas partem também do setor
financeiro. Para executivos de grandes bancos, o principal motivo de alarme é a
crescente incapacidade das empresas para pagar o serviço de suas dívidas.

Colocado diante dessas questões, o presidente Temer, destacando os grandes
ensinamentos que diz ter recebido do ex-governador de São Paulo Franco Montoro,
de quem foi secretário, respondeu ao GLOBO com um exemplo:

? Certa vez, numa reunião de secretariado, o Montoro
passou a palavra para o seu secretário de governo, Bresser Pereira, que já tinha
feito a sua exposição. Bresser recusou a palavra, alegando não ter mais o que
dizer. E Montoro: ?Se eu, que estou aqui para ouvir, já ouvi mais de dez vezes,
por que você não pode falar mais de uma vez??. Aprendi então que devo ouvir e
muito: uma, duas, três, até dez vezes. Então, não sou refratário a conversas,
sugestões e críticas. E estou ouvindo muito sobre a crise econômica, mas sempre
em consonância com o ministro da Fazenda.

TEMER: ‘DEVO OUVIR MUITO’

E foi mais enfático, ao defender Meirelles novamente:

? Outra lição que aprendi com Montoro foi quando começaram a sair notinhas e
depois matérias de que eu estava sendo fritado no cargo. Antes de falar comigo,
ele chamou a imprensa e me garantiu no cargo. Só depois é que me comunicou. E é
o que eu estou fazendo agora, conversando com você. Estou te dizendo que
Meirelles tem minha total confiança. E, para ele, nem preciso dizer. Ele sabe
que tem o meu apoio e confiança.

O presidente comentou uma nota publicada ontem na coluna do jornalista Lauro
Jardim sobre o seu estado de espírito:

? O Lauro Jardim escreveu na sua coluna deste domingo que ando muito triste e
abatido. Muito pelo contrário, quanto maiores são os desafios, mas eu me sinto
animado e disposto a resolvê-los. Triste e abatido fico quando não tenho nenhum
desafio pela frente.