Cotidiano

Ted Cruz evita endossar Trump e é vaiado

WASHINGTON Donald Trump, candidato republicano para as eleições presidenciais de novembro, segue sem unir o partido. Ontem, terceiro dia da convenção da legenda em Cleveland, Ohio, grandes nomes do partido, como o senador Ted Cruz e o governador John Kasich, continuaram negando apoio ao magnata e geraram novos protestos. E Cruz, que discursou na convenção, surpreendeu ao não expressar suporte efetivo a Trump nem pedir diretamente votos para o candidato, recebendo até vaias em determinados momentos. O senador incluiu-se numa lista de oradores cuja imensa maioria ? excetuando-se os de sobrenome Trump ? está mais concentrada em criticar Hillary Clinton do que defender as propostas do bilionário.

Senador texano derrotado por Trump na reta final das primárias, Cruz ? que sempre foi chamado de ?mentiroso? pelo magnata ? citou três vezes o nome de Hillary Clinton e apenas uma vez o de Trump, de maneira muito formal e sem entusiasmo.

? Quero parabenizar Donald Trump pela nomeação na noite passada. E, como cada um de vocês, eu quero ver os princípios que o nosso partido acredita prevalecer em novembro. ? disse Cruz, que terminou o discurso sem pedir o voto direto no magnata. ? Votem de acordo com suas consciências, em quem você confia para defender nossa liberdade e ser fiel à Constituição.

Cruz foi muito vaiado pela atitude. Com um discurso forte, defendeu a construção do muro na fronteira com o México ? a proposta mais famosa de Trump ? e diversos valores ultraconservadores. Disse que Obama ?exporta empregos e importa terroristas? e emocionou o público com um discurso sobre a filha de um policial morto na emboscada de Dallas, no começo do mês.

Newt Gingrich, ex-presidente da Câmara dos Representantes, que subiu ao palco logo depois, tentou minimizar a polêmica, dizendo que o público ?não tinha entendido? bem o discurso de Cruz:

? Quando ele disse que você pode votar pela sua consciência em quem vai defender a Constituição… Nesta eleição, existe apenas um candidato que vai defender a Constituição. Então, parafraseando Ted Cruz, se você quiser defender a Constituição dos Estados Unidos, o único candidato é a chapa Trump-Pence ? disse o republicano, aliado de primeira hora de Trump.

Maquiadora conta sobre suposto assédio

O governador de Ohio, John Kasich, que não foi à convenção em seu estado natal, disse, em entrevista à MSNBC mais cedo, que não apoiar Trump até agora ?era questão de consciência?. Ele afirmou que o dilema entre votar em Trump ou na democrata Hillary ?é uma situação irritante?:

? Nós (eu e Trump) temos visões diferentes, culturas diferentes, direções diferentes ? ressaltou Kasich, indicando que as divisões internas na legenda continuam.

Marco Rubio, senador pela Flórida que também disputou com Trump, foi mais comedido e pediu votos por Trump:

? O tempo para lutar entre nós acabou. É hora de nos unirmos e lutar por uma nova direção para os Estados Unidos ? disse, em vídeo exibido na reunião republicana.

Na convenção, quase não se falou, até agora, das propostas de Trump. Pelo contrário: o que tem empolgado o público são mensagens que pedem a prisão de Hillary ou os gritos de guerra que afirmam que o país não precisa de um terceiro mandato democrata e evitar que exista, em alguns anos, uma ?maioria progressista? na Suprema Corte ? os juízes são indicados pelo presidente e aprovados pelo Senado, que pode voltar a ter maioria democrata nestas eleições.

Segundo veículos especializados, republicanos importantes já estão, nos bastidores, tratando de pensar o futuro do partido no caso de uma derrota de Trump.

E ontem, mais uma vez, uma nova polêmica atingiu Trump: pela primeira vez, a mulher que acusa o candidato republicano de assédio sexual revelou detalhes do episódio, que teria ocorrido em 1997. A maquiadora Jill Harth deu uma entrevista ao jornal britânico ?The Guardian? contando detalhes da suposta abordagem do magnata, que teria chegado a levá-la para o quarto de uma das filhas dele, então com 10 anos.

? Ele me empurrou contra a parede, colocou suas mãos sobre todo o meu corpo e tentou tirar meu vestido ? afirmou Jill Harth. ? Eu tive que dizer: ?O que você está fazendo? Pare!?

Ainda segundo o jornal, Jull decidiu contar que foi perseguida por Trump depois que, numa entrevista em abril, ele disse que as alegações dela ?careciam de mérito?, indicando que se tratava de uma mentira. A campanha de Trump classificou de ?absurdas? as alegações.