Cotidiano

Tate Modern abre novo prédio e aumenta seu acervo

LONDRES – Desde que foi inaugurada, há 16 anos, a Tate Modern ? hoje o mais popular museu de arte moderna e contemporânea do mundo ? mudou completamente a margem Sul do rio Tâmisa. A área, que antes era esquecida, é agora uma das mais visitadas de Londres. A icônica construção industrial, uma antiga usina, acaba de ganhar um outro componente, como se fosse uma segunda chaminé gigante, porém em forma de pirâmide retorcida. A Tate abre hoje as portas de um novo prédio que transforma radicalmente suas galerias e promete modificar também, de novo, o lado cultural de uma cidade em metamorfose constante.

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Links Arte Contemporânea 17/06A construção, conhecida como Switch House, aumenta a capacidade do museu em 60%, deixando a Tate mais internacional e multimídia, com mais fotografias, vídeos e instalações. Quando abriu, o museu esperava receber dois milhões de pessoas por ano. Hoje esse número chega a cinco milhões. Com o novo anexo, de dez andares, há mais diversidade e menos barreiras entre a arte e o público. Um acervo bem mais global ? resultado de aquisições que ampliaram a coleção permanente em 75% nos últimos anos ? se espalha por espaços projetados para abrigar performances ao vivo e reforçar o clima de encontro de gerações que caracterizou o lugar desde o início. ?A arte muda, nós mudamos? é o slogan do projeto.

Uma torre gigante com 800 aparelhos de rádio do carioca Cildo Meireles (?Babel??, 2001), a instalação ?Tropicália?? (1966-7), de Hélio Oiticica, que inclui uma gaiola de araras, e a escultura ?8 Levels?? (2012), da paulistana Jac Leirner, marcam a presença do Brasil. A Switch House é assinada pela dupla de arquitetos suíços Herzog & de Meuron, a mesma que transformou a estação de energia elétrica desativada em galeria em 2000.

? Não se trata de uma mera extensão, mas de uma nova Tate, com uma outra visão de mundo ? disse o diretor do museu, Nicholas Serrota.

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TRÊS ANDARES PARA EXPOSIÇÕES

O espaço público tem três pisos para exposições. Os outros andares são ocupados por salas para cursos, atividades comunitárias, restaurante e um terraço. O novo anexo está conectado ao prédio já existente (Boiler House), o que permitiu que a exibição do acervo fosse repensada. A reforma resolve o que era considerado o ponto fraco da Tate: galerias apertadas e poucos lugares para os visitantes relaxarem. Agora o público pode circular por ambientes amplos, que abrigam 800 trabalhos de 300 artistas de 50 países.

A coleção junta nomes familiares, como Picasso e Matisse, a trabalhos menos vistos. A ideia é refletir não apenas o que é produzido em Londres, Paris e Nova York, mas também em cidades tão distintas quanto Zagreb, São Paulo e Tóquio. A principal responsável pela curadoria, Frances Morris, ressalta a maior representatividade feminina nas coleções em exibição. Metade das salas individuais é ocupada por mulheres, entre elas estrelas como a francesa Louise Bourgeois e a japonesa Yayoi Kusama, e nomes menos celebrados, como a romena Ana Lupa.

? Desde que a Tate abriu, o mundo mudou, e a arte também. O acervo era focado na Europa Ocidental e América do Norte. Agora inclui obras de América Latina, Ásia, África, Oriente Médio e Leste da Europa ? explicou Frances.

PROJETO AVALIADO EM R$ 1,2 BILHÃO

A Switch House abre com quatro exposições que têm um ponto em comum: mostrar como, a partir dos anos 1960, os artistas passaram a buscar um outro tipo de relação, mais dinâmica, com o público. Há obras como Pink Tone (2009), um cubo de vidro cor de rosa que muda de tom de acordo com a luz do dia, da americana Roni Horn, e a maquete de uma cidade feita de cuscuz, do argelino Kader Attia.

O principal desafio dos arquitetos Jacques Herzog e Pierre de Meuron foi criar um prédio que não destoasse do complexo, de 1950. O projeto, avaliado em 260 milhões de libras (cerca de R$ 1,2 bi), entre fundos oficiais e privados, reforça a tradição de Londres de oferecer espaços públicos invejáveis. A nova Tate é ousada, mas não foi criada só para quem entende de arte contemporânea. Na entrada, a instalação ?Tree??, do chinês Ai Weiwei, com partes de árvores mortas remontadas no estúdio dele em Pequim, simboliza as experiências criativas que o lugar quer promover.

* Especial para O GLOBO