Agronegócio

Tarifas da China agravam a crise do setor avícola

Metade dos produtos vendidos pela região oeste para o mercado chinês é carne

Cascavel – De cada US$ 100 de mercadorias exportadas pelas empresas da região oeste do Paraná, US$ 30 vão para o mercado chinês e mais da metade dos produtos enviados para a China são carnes de frango. Isso significa que somente neste ano as aves vendidas para o país asiático, processadas no oeste do Estado, significaram mais de US$ 100 milhões para a balança comercial.

Assim, a decisão do Ministério do Comércio da China anunciada ontem de tarifação de até 35% sobre a carne de frango brasileira agrava ainda mais a avicultura, que tem passado por inúmeros problemas. A medida entra em vigor a partir deste sábado (9).

Na região, os principais frigoríficos e cooperativas que exportam para a China não se pronunciaram sobre o anúncio feito ontem, a exemplo das entidades que representam o setor agropecuário no Estado.

Já a Abpa (Associação Brasileira de Proteína Animal) emitiu nota manifestando seu protesto diante da decisão do Ministério do Comércio da China pela aplicação de medidas de tarifas à carne de frango brasileira. “A associação reafirma que não há qualquer nexo causal entre as exportações de carne de frango do Brasil e eventuais situações mercadológicas locais. Os esclarecimentos apresentados pelo setor produtivo e pelas agroindústrias exportadoras deixaram clara a ausência de qualquer possível dano aos produtores e ao mercado chinês”, afirmou a associação.

Em 2017, a China absorveu 391,4 mil toneladas de carne de frango do Brasil, equivalente a 9,2% de tudo que o País embarcou no mesmo período, segundo a Abpa. Das 29 empresas brasileiras listadas pelo ministério chinês, as taxas de depósito nos produtos da JBS e da sua divisão de aves e suínos Seara serão de 18,8%, já os produtos da BRF sofrerão uma taxa de 25,3% e os embarques da C.Vale – Cooperativa Agroindustrial serão taxados em 38,4%. Para a Cooperativa Central Aurora Alimentos o depósito será de 20,7%.

O gerente da Divisão Industrial da C.Vale, Reni Girardi, afirmou que “a decisão é preliminar”. “Os chineses impuseram a sobretaxa para negociar valores mínimos e máximos de preços, para ter uma referência. Agora a Abpa vai entrar nas negociações para buscar uma solução. É um mercado importante que consome pés e asas de frango [no caso da C.Vale]”, afirmou. Na cooperativa os impactos ainda não foram calculados.

Ainda de acordo com a Abpa, apesar de uma potencial retração no desempenho dos embarques em toneladas, o fluxo comercial deverá ser mantido mesmo com a imposição da medida, frente à necessidade e alta demanda do mercado chinês.

A investigação foi iniciada em agosto de 2017, por solicitação de produtores locais. O processo conduzido pelo governo chinês contemplou, inclusive, empresas que não exportam para o país asiático. “A entidade [Abpa] considera que a determinação da medida é um retrocesso nas boas relações comerciais construídas por brasileiros e chineses ao longo desta década, bem como na parceria visando à complementaridade na garantia da segurança alimentar da China. (…) A Abpa continuará a trabalhar no âmbito do processo, buscando reverter a decisão imposta temporariamente”.

 

Decisão da China pode beneficiar os EUA

 

Em 18 de agosto do ano passado a China lançou uma investigação antidumping sobre as importações de carne de frango do Brasil. Uma decisão preliminar do ministério chinês apontou que os produtores chineses foram “substancialmente prejudicados” pelos embarques do Brasil entre 2013 e 2016, quando o país forneceu mais da metade das importações chinesas de carne de frango.

Embora o resultado inicial da investigação fosse esperado para este mês de junho, a imposição das medidas ocorre também no momento em que os Estados Unidos tentam recuperar o acesso ao mercado avícola chinês, em meio a negociações comerciais em andamento.

A China concordou em aumentar suas importações de produtos agrícolas norte-americanos em recentes negociações destinadas a evitar uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.

As medidas antidumping são mais um golpe para os exportadores de carne do Brasil, que ainda estão se recuperando das consequências da operação Carne Fraca, da Polícia Federal.

Não está claro o que acontecerá com as remessas já a caminho da China. Um depósito antidumping incidente sobre o sorgo dos Estados Unidos em abril causou o caos no comércio de grãos, com dezenas de cargas retidas enquanto importadores tentavam vender para outros mercados para evitar pagar as tarifas.

Os preços dos frangos de corte na China se recuperaram significativamente desde o ano passado, quando caíram para mínimos em décadas depois que centenas de pessoas morreram por contrair o vírus H7N9 da gripe aviária.