Cotidiano

Susan Segal: ?Vivemos em um mundo globalizado, isso não vai mudar?

INFOCHPDPICT000062681879Uma das mulheres mais influentes da América, a executiva assegura que a expansão do comércio vai continuar. Nesta entrevista exclusiva, Susan põe panos quentes na psicose que gerou em alguns círculos o triunfo de Donald Trump e suas ameaças de campanha de revisar acordos econômicos e fechar fronteiras.

PROTECIONISMO 1311O que a América Latina pode esperar de Trump?

A região claramente não estava na prioridade da agenda de Donald Trump nem de sua equipe. Ele fez declarações a respeito da fronteira entre Estados Unidos e México, do Nafta e da imigração, mas não houve declarações sobre América do Sul. Durante sua campanha, ele falou da classe média americana, que está preocupada com seus empregos e com o custo da saúde, da educação superior, e sobre muitos outros temas domésticos. A prioridade de Trump são os EUA e seus problemas domésticos, em seguida os temas globais, que são os de segurança nacional para o país.

Na campanha, Trump anunciou a construção de um muro na divisa com o México, a revisão de acordo comerciais…

Ele fez comentários, mas quando assumir a presidência terá que analisar, colocar os fatos sobre a mesa e decidir qual será a política, as soluções mais realistas. Existem fatos concretos. Um total de 6,5 milhões de empregos nos EUA são resultado do comércio com o México. Cada dólar que o México exporta tem 40% de conteúdo americano. As empresas latino-americanas estão investindo e adquirindo empresas e marcas muitos importantes nos EUA. Nossa relação com o Canadá e com o Nafta produz 20 milhões de empregos no país. Na verdade, a imigração, entre México e EUA é negativa, o que significa que mais mexicanos estão retornando ao seu país por causa do crescimento e das oportunidades que lá existem.

As ameças de revisão de acordos comerciais preocupam?

Não estou assustada. Quero ver um presidente Trump vitorioso, porque isso vai significar muitas coisas boas para o país. Trump tem de se preocupar com a criação de empregos em um mundo globalizado, porque vivemos em um mundo globalizado, e isso não vai mudar. A ideia de limitar o comércio internacional e a atitude mais protecionista me assustam, e muito. Obviamente, representa uma mudança, mas também ele quer criar empregos e crescimento, esse será seu motor.

Para analistas, o México será a grande vítima de Trump, a senhora concorda?

O México tem alguns dos melhores especialistas em políticas macroeconômicas do mundo. Tem um secretário de Finanças de gabarito mundial, assim como um diretor do Banco Central, e tem perseguido e implementado política de crescimento responsável. Não sou mexicana, mas entendo porque o peso tem reagido. Eles (as autoridades mexicanas) vão encontrar maneiras de continuar a relação com os EUA, porque é bom para as duas nações.

Para especialistas, o Acordo Transpacífico (TPP, na sigla em inglês) está morto…

Ele é parte do legado do presidente Obama. Não digo que há uma probabilidade muito alta de que seja aprovado no Congresso neste momento. As duas Casas são Republicanas, e há poucos incentivos para que votem a favor do acordo agora. Mas nunca digo nunca. Sou fervorosa defensora do tratado.

Quais seriam as consequências de um fracasso?

A expansão do comércio vai continuar. O mundo experimentou medidas ultraprotecionistas e fechamento de fronteiras, e não houve bons resultados, em termos de crescimento e expansão do emprego. Não vejo como uma alternativa real. Estou muito otimista a respeito da América Latina como região. Existe uma enorme oportunidade para que cada país possa expandir seu crescimento, sua classe média e criar mais comércio dentro da região.

A senhora vê com temor os efeitos mundiais do aumento de tarifas sobre produtos da China, proposto por Trump?

Eu não especulo. Donald Trump quer criar crescimento econômico, empregos e oportunidades nos EUA. Conversaremos em seis meses sobre este tema, quando já tiver sua equipe definida e soubermos quais são suas propostas e medidas.

A senhora tem alguma reunião programada com Trump ou a sua equipe?

Não existe planos no momento. Quando definir sua equipe para a América Latina, vamos fazer contato e convidá-lo para a nossa conferência anual que será realizada, em maio, em Washington.

Donald Trump é apropriado para unir o país?

Ele teve liderança suficiente para ser eleito. Ninguém pensou que seria nomeado, e muitos poucos acreditavam que seria eleito. No fim, foi nomeado, ganhou as eleições e destronou dinastias de políticos mais fortes, como os Clinton e os Bush, e hoje é o presidente eleito dos EUA. Tire suas próprias conclusões.

*El Mercurio/Chile/GDA