Cotidiano

Supernova 1987A completa 30 anos ainda encantando e surpreendendo

RIO ? Em 23 de fevereiro de 1987, o astrônomo chileno Oscar Duhalde estava do lado de fora do observatório de Las Campanas, no Deserto do Atacama, Chile, olhando o céu limpo da região quando notou uma brilhante estrela que nunca tinha percebido antes na Grande Nuvem de Magalhães, uma tênue nebulosa que na verdade é uma galáxia-satélite da nossa Via Láctea. Na mesma noite, o astrônomo canadense Ian Shelton usava um dos telescópios então instalados no observatório justamente para estudar a Grande Nuvem de Magalhães. Analisando uma chapa fotográfica da galáxia-satélite, ele também notou um objeto brilhante que a princípio pensou que era um defeito.

Foi só quando mostrou a placa fotográfica para outros astrônomos também trabalhando naquela noite em Las Campanas que Shelton percebeu que o ponto brilhante poderia ser uma supernova, as poderosas explosões de estrelas gigantes muito mais maciças que nosso Sol, ao que Duhalde anunciou ter visto o mesmo objeto no céu. Assim foi descoberta a agora designada Supernova 1987A (SN 1987A), o mais próximo evento do tipo visto do nosso planeta em mais de 400 anos de astronomia com uso de telescópios.

Desde então, os astrônomos têm usado um exército de telescópios e observatórios na Terra e no espaço para acompanhar a evolução da Supernova 1987A. Entre eles está o Hubble, que ainda nem tinha subido para a órbita de nosso planeta quando a estrela explodiu, mas a teve como um de seus primeiros alvos depois de seu lançamento em 1990, assim como os mais recentes Chandra, um telescópio espacial de raios-X, e o Alma, um gigantesco complexo de antenas para observações na faixa milimétrica-submilimétrica instalado no Planalto de Chajnantor, também no Atacama, o que faz dela, de longe, a mais bem estudada da História, ajudando a revolucionar nossa compreensão sobre esta morte explosiva de estrelas maciças e encantando o público em geral com as séries de imagens feitas neste período.

Ainda nos anos 1990, por exemplo, o Hubble, graças à sua alta resolução, mostrou em detalhes o brilhante anel em torno da estrela destruída e revelou ainda outros dois tênues anéis mais distantes, que se estendiam à sua volta numa estrutura parecida com uma ampulheta. Até hoje, a origem destas estruturas ainda não é muito bem compreendida. Mas ao observar a expansão deste material ao longo dos anos, o Hubble indicou que ele foi ?ejetado? em uma erupção prévia da estrela cerca de 20 mil anos antes de sua explosão, com o flash inicial de luz da supernova iluminando-os.

Este brilho dos anéis caiu lentamente na década seguinte à explosão até que a onda de choque atingiu o anel interno em 2001, aquecendo o gás expulso a altíssimas temperaturas e gerando intensas emissões de raios-X.

– Os 30 anos de observações da SN 1987A são muito importantes porque eles nos deram informações sobre os últimos estágios da evolução estelar ? resume Robert Kirshner, astrônomo do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica em Massachusetts, EUA, e pesquisador da Fundação Gordon & Betty Moore, na Califórnia.

Os últimos dados fornecidos pelas observações com o Hubble e outros equipamentos indicam que a SN 1987A já superou um importante limite, com sua onda de choque já tendo ultrapassado o anel interno de gás mais denso expelido 20 mil anos antes da explosão. O que está além disso ainda é em grande parte um mistério para os cientistas, e o que acontecer a partir de agora deverá dar mais pistas sobre o que acontece com uma estrela quando ela atinge o estágio de gigante vermelha, um dos últimos antes dela explodir.

– Os detalhes desta transição darão aos astrônomos um melhor entendimento da vida desta estrela condenada e como ela acabou ? avalia Kari Frank, astrônoma da Universidade do Estado da Pensilvânia, também nos EUA, e que liderou o último estudo sobre a SN 1987A com base em dados do Chandra.

Além de tudo isso, os astrônomos sabem que supernovas como a SN 1987A podem agitar as nuvens de gás e poeira no espaço interestelar da região onde explodem, dando início ao processo de formação de novas estrelas e planetas. Elas também ?temperam? este material com elementos mais pesados como carbono, nitrogênio, oxigênio e ferro que são essenciais para o desenvolvimento da vida. Estes elementos são fabricados na fornalha nuclear da estrela antes dela explodir, sendo dispersados pela expansão de seus restos. Assim, o estudo continuado da SN 1987A também deverá dar mais informações de como este material se espalha inicialmente pelo espaço interestelar e entra na ?receita? de novas estrelas e planetas.