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Superclássico das Américas tem dificuldade para se firmar com história tumultuada

Brasil e Argentina vão disputar mais uma edição do Superclássico das Américas no dia 9 de junho, em um local no mínimo inusitado: um estádio de críquete com capacidade para 100 mil torcedores em Melbourne, na Austrália. A informação foi divulgada na noite de quinta-feira pela CBF, e confirmada nesta sexta pelo governo australiano.

Trata-se de mais um capítulo da trajetória tumultuada do Superclássico, que nasceu em 2011 como um resgate da Copa Roca, torneio disputado entre Brasil e Argentina entre 1914 e 1976 a intervalos (bastante) irregulares. Originalmente, a ideia do Superclássico das Américas era abrir espaço somente para jogadores que atuassem nos dois países. A primeira edição, em setembro de 2011, foi disputada nesses moldes.

À época, o então técnico Mano Menezes aproveitou na seleção brasileira nomes como Ronaldinho Gaúcho, que estava no Flamengo, Neymar, que ainda atuava pelo Santos, e Lucas Moura, recém-revelado pelo São Paulo. Na seleção argentina, o meia Montillo era o principal nome. Após empate sem gols em Córdoba, o Brasil fez 2 a 0 no Mangueirão, em Belém, com gols de Neymar e Lucas.

Os problemas começaram em 2012. No Serra Dourada, em Goiânia, o Brasil venceu por 2 a 1, gols de Paulinho e Neymar. Duas semanas depois, em 4 de outubro, a partida de volta teve de ser suspensa porque faltou luz no Estádio Centenário, da cidade argentina Resistência. O jogo seria retomado quase dois meses depois, no fim de novembro, com vitória da Argentina por 2 a 1 no tempo regulamentar, gols de Scocco. Fred, à época no Fluminense, descontou para o Brasil, que levou o título nos pênaltis.

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RESSACA DO 7 A 1

Em 2013, os clubes brasileiros já mostravam insatisfação com a perda de jogadores para o Superclássico. Felipão, que já havia substituído Mano Menezes no comando da seleção, também não se entusiasmou com o torneio, que tomaria datas de preparação para a Copa do Mundo. A edição daquele ano acabou cancelada, e o torneio só voltaria em 2014, repaginado: pela primeira vez, foi disputado em jogo único e levado para fora da América.

O destino seria o Ninho do Passáro, estádio construído para os Jogos de Pequim-2008. O mote original de só permitir jogadores que atuavam nos dois países foi abolido. Com atletas do futebol europeu, o Superclássico ganhou forma de excursão em busca de novos mercados.

Mas a data escolhida, outubro de 2014, deu ao jogo um tom de ressaca: foi a primeira reunião das seleções brasileira e argentina desde os fracassos de ambas na Copa do Mundo daquele ano. O Brasil venceu por 2 a 0, gols de Diego de Tardelli. A partida ficaria marcada por uma polêmica envolvendo o técnico Dunga, que gesticulou coçando repetidamente o nariz durante discussão com um massagista da seleção argentina.

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O gesto seria uma referência ao vício em cocaína de Diego Maradona. Dunga, por sua vez, argumentou após a partida que coçava o nariz porque o ar de Pequim estava muito seco.

Como se não tivesse trajetória suficientemente tumultuada, o Superclássico ainda passou por novo cancelamento em 2015, desta vez com o escrutínio do FBI sobre a Fifa como pano de fundo. A empresa Full Play, que organizaria a edição daquele ano no Canadá, era propriedade dos argentinos Hugo e Mariano Jinkins. Ambos foram presos sob acusações de corrupção, e o torneio acabou deixado de lado.