Cotidiano

Sonda europeia chega a Marte, mas está incomunicável

Pouco mais de uma década após uma primeira tentativa fracassada de pousar um robô em Marte, a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) torce para ter alcançado o feito na tarde de ontem. Por volta das 13h, pelo horário de Brasília, o módulo Schiaparelli ? homenagem ao astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli, que observou atentamente Marte no século XIX, registrando pela primeira vez seus ?canais? ? teria chegado à superfície do planeta vermelho. Mas, até o início da noite de ontem, os cientistas da ESA ainda aguardavam sinais do módulo que confirmassem sua situação.

? O módulo pousou, isto é certo. Se pousou intacto, se atingiu uma rocha, uma cratera ou se simplesmente não pode se comunicar, isso eu não sei ? disse à agência AFP Thierry Blancquaert, responsável pelo Schiaparelli, no Centro de Operações Espaciais da ESA em Darmstadt, na Alemanha.

Segundo a ESA, o módulo de 2,4 metros de diâmetro e 577 kg entrou na atmosfera marciana a uma velocidade de 21 mil quilômetros por hora em uma sequência automática de pouso, em que usaria primeiro um paraquedas e depois retrofoguetes para desacelerar até ficar a cerca de dois metros do chão, quando faria pequena queda livre, amortecida ao fim por uma estrutura deformável na sua base.

A missão da ESA é realizada em conjunto com a Agência Espacial Federal Russa, conhecida como Roscosmos, e o pouso do Schiaparelli é a primeira fase de um projeto mais ambicioso, batizado ExoMars, que pretende enviar um veículo-robô a Marte com chegada prevista para 2020. O veículo-robô será capaz de coletar e analisar as propriedades químicas, físicas e biológicas do solo marciano em amostras tiradas de até dois metros de profundidade em busca de sinais de que o planeta pôde ou ainda pode abrigar vida. E o Schiaparelli tem como principal objetivo justamente testar tecnologias para uma descida controlada à superfície de Marte, o que as duas agências já tentaram sem sucesso no passado.

? Temos que esperar um pouco para ver o que acontecerá com a sonda teste ? disse o diretor-geral da ESA, Jan Woerner.

Simultaneamente ao pouso do Schiaparelli, a sonda TGO (sigla em inglês para ?orbitador de traços de gás?) ? com a qual o módulo viajou até Marte e se separou no último domingo ? acionou seus motores para entrar na órbita de Marte. Ainda segundo a ESA, esta manobra foi um sucesso. A TGO vai analisar a atmosfera marciana em busca baixas concentrações de metano e outros gases que indiquem a existência de processos biológicos ou geológicos ativos no planeta, além de mapear a presença de hidrogênio a até um metro de profundidade para revelar depósitos de gelo escondidos sob a superfície e caracterizar formações geológicas que possam estar associadas à emissão dos gases que encontrar, como vulcões.

? Queremos descobrir se já existiu ou se ainda existe vida em Marte, e isso é extremamente excitante ? disse Elliot Sefton-Nash, cientista da ESA, em entrevista à revista ?New Scientist?.

A TGO e o Schiaparelli foram lançados em abril do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. A missão apresentou um desafio tecnológico para as agências russa e europeia, que nunca conseguiram manter um equipamento em funcionamento no solo marciano. Anteriormente, a ESA pousou o módulo Beagle 2 ? homenagem ao navio Beagle, em que viajou Charles Darwin ? em dezembro de 2003, mas nunca conseguiu estabelecer comunicação. O destino do robô permaneceu um mistério até janeiro de 2015, quando foi localizado numa fotografia capturada por um satélite americano. As imagens sugerem que os painéis solares não abriram e bloquearam as antenas de comunicação.

Já o primeiro pouso bem sucedido em Marte aconteceu em setembro de 1975, com o módulo americano Viking 2. Desde então, a Nasa realizou outros seis pousos no planeta vermelho e hoje mantém dois robôs em operação lá: Opportunity e Curiosity.