Agronegócio

Soja: o “ouro” do campo vai para o tanque de combustíveis

A região oeste do Paraná é uma das principais produtoras de grãos do Estado. Na safra 20172018 a expectativa é de que somente a produção de soja ultrapasse as 3,7 milhões de toneladas. Número expressivo se consideradas as cadeias de abastecimento: trituração para o óleo, a ração animal para a pecuária interna, alimentação humana e a exportação do grão in natura.

E tudo isso pode melhorar. Ocorre que um mercado que começa a avançar trará mais uma importante finalidade para a oleaginosa: do campo para o processamento e daí direto para o tanque de combustíveis dos veículos.

Isso porque, à medida que sobe a pressão sobre a GEEs (emissão de gases do efeito estufa) e o preço do petróleo no mercado internacional vive picos de altos e baixos, os combustíveis renováveis surgem mais uma vez como a “menina dos olhos” do posto de gasolina – e do mercado agropecuário, mais de 40 anos após o boom do etanol na década de 1970, com o Programa Nacional do Álcool, o Proálcool.

Nos últimos dez anos, revela uma reportagem do Portal Gazeta do Povo, a destinação de óleo de soja para a fabricação de biodiesel – que respondeu por 70% do total ano passado – cresceu expressivos 243%, chegando a 2,75 milhões de toneladas, de acordo com informações da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais). No mesmo período, a produção de soja em grão subiu 84% e a de óleo de soja 31,6%, totalizando 110,2 milhões de toneladas e 8,3 milhões de toneladas, respectivamente. E isso mesmo com as usinas operando com apenas metade da capacidade, conforme a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

A aposta mais recente do segmento é a mudança na fórmula do diesel, que, desde o começo de março, passou a ter pelo menos 10% de biodiesel em sua composição. É o chamado B10 do programa federal Renovabio, que foi antecipado em um ano pelo Ministério de Minas e Energia. Até então, a mistura era de 8%.

O consultor da Terrafirma, Julio Favarin, explica que, no caso do óleo de soja, o aumento na última década é expressivo porque se deu sobre bases relativamente baixas. Mas a tendência, segundo ele, é de que tanto o B10 quanto a perspectiva de recuperação da economia – e, consequentemente, do setor automotivo – ajudem a alavancar a demanda por biodiesel.

“As usinas têm capacidade suficiente, o problema hoje é mais uma perspectiva de demanda. Elas fizeram investimentos e estão aguardando o aumento, para que a capacidade seja usada”, afirma Favarin. “Essa antecipação de um ano gera um efeito de 1,3 milhão de metros cúbicos na demanda neste ano”, acrescenta.

 

Aumento da demanda

Para a Abiove, a expectativa é elevar a demanda anual por óleo de soja a 3,7 milhões de toneladas na indústria brasileira de combustível, enquanto o esmagamento da oleaginosa para a produção de biodiesel pode alcançar 18,5 milhões de toneladas em 2018, o que corresponde a 16% da safra brasileira e 4 milhões de toneladas a mais do que no ano anterior.

A boa perspectiva para o setor já ficou clara no primeiro bimestre deste ano. Conforme informações da ANP, a produção de biodiesel fechou em 676,09 mil toneladas, um aumento de 31,2% no comparativo com o mesmo período de 2017. Para a Abiove, a demanda por biodiesel será de 5,5 milhões de toneladas, contra 4,3 milhões de toneladas em 2017.

Uma projeção da Terrafirma dá conta de que, até 2030, a produção de biodiesel tem potencial para atingir 7,5 milhões de toneladas. “A tendência é ter uma parcela cada vez maior de combustíveis renováveis, é uma tendência mundial”, salienta o consultor Julio Favarin.

 

Biodiesel

E o biodiesel, é o combustível do futuro? “Vai depender de mudança de tecnologia dos equipamentos. Os caminhões mais modernos já têm um padrão de emissão muito melhor, com o diesel S10, com menos enxofre. Não tenho dúvida que a substituição é uma tendência e isso é muito favorável para o campo. Temos cadeias agrícolas importantes que vão ser beneficiadas, como soja, a palma e a própria gordura animal, proveniente da atividade de proteína animal. Isso tende a se intensificar na medida em que a tecnologia seja capaz de suportar mistura cada vez maior”, projeta Julio Favarin.

 

Para o milho futuro também é promissor

Seguindo o ciclo das commodities no Brasil, o milho deve ganhar mais importância na matriz enérgica brasileira daqui em diante, na esteira da soja. O movimento de valorização do cereal ocorre de forma mais evidente no Centro-Oeste do País, que concentra a produção, principalmente no Mato Grosso.

É lá que foi instalada a primeira usina dedicada exclusivamente à produção de etanol à base de milho, em agosto passado, em Lucas do Rio Verde (MT). Cinco meses depois o grupo anunciou que iria dobrar a produção em 2018, chegando a 500 milhões de litros, e apenas poucas semanas mais tarde divulgou que construiria nova unidade em Sorriso, também no Mato Grosso. A estimativa é de que o consumo do cereal nas duas indústrias chegue a 3 milhões de toneladas e a produção do combustível a 1,2 bilhão de litros.

Hoje, segundo o Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), a demanda por milho no Estado é de 1,4 milhão de toneladas nas quatro usinas de etanol que trabalham com o grão.

O gestor técnico do órgão, Paulo Ozaki, salienta que ainda existe um longo caminho a percorrer, mas a indústria do álcool, assim como a das carnes, é mais uma opção para que se agregue valor ao grão, cujos preços têm se depreciado com safras cada vez maiores. “Isso tende a melhorar questões de comercialização, mas ainda temos um volume muito grande e a tendência é de ele cresça”, afirma Ozaki. “A exportação é um meio de escoar. À medida que se industrialize em termos de carnes e etanol, isso tende a melhorar algumas relações. Se não melhorarmos o consumo interno, dependeremos muito da exportação ainda.”

Com isso, o Paraná, que ainda engatinha nesta “nova” tecnologia, também se revela com espaço para ações de fomento e de agregação de valor.