Cotidiano

Socialistas espanhóis abrem caminho para governo conservador

RIO ? O Partido Socialistas Operário Espanhol (PSOE) vai se abster no processo de instalação de um novo gabinete no país, abrindo caminho para a instalação de um governo do rival conservador Partido Popular (PP) e pondo fim a um impasse político de quase dez meses. Em reunião neste domingo, o comitê federal dos socialistas decidiu não votar contra o atual primeiro-ministro Mariano Rajoy, interino desde dezembro passado, em um voto de confiança no Parlamento do país, efetivamente reconduzindo-o ao cargo depois que o PP não conseguiu obter maioria em duas eleições consecutivas.

Mas não foi uma decisão fácil do PSOE. Após um debate acirrado que teve mais de 50 intervenções, numa amostra da divisão dentro do partido, 136 dos 250 integrantes do comitê de liderança da agremiação votaram a favor da abstenção, enquanto 96 queriam forçar a realização uma terceira eleição em menos de um ano na Espanha se opondo a Rajoy. Estes ficaram ?órfãos? depois que o líder do PSOE, Pedro Sánchez, se viu obrigado a renunciar como secretário-geral há três semanas.

Uma vez conhecida a posição do PSOE, o rei Felipe VI receberá nesta segunda e terça os representantes dos partidos para propor Rajoy como candidato à presidência do governo espanhol, quase no limite do prazo para formar um novo governo, que terminava no fim deste mês. Se a data limite fosse superada, o Parlamento seria dissolvido para novas eleições.

PSOE e PP há décadas se revezam à frente do governo da Espanha, que nunca foi dominado por uma coalizão. Após a decisão deste domingo, o que fica, no entanto, é um partido socialista muito dividido e que em breve terá que enfrentar a delicada questão da liderança. Vários dirigentes regionais, como o catalão Miquel Iceta, chegaram à reunião afirmando que defenderiam o ?não?, em nome de uma militância que, afirmam, não vê com bons olhos a abstenção a favor do PP.

– Temos mais medo do abismo com os militantes e eleitores do que das terceiras eleições – afirmou Iceta.

– Deixar o PP governar é ruim para o Partido Socialista, mas sobretudo para a Espanha – disse a presidente da região de Baleares, Francina Armengol.

Durante a semana, a bancada parlamentar socialista deve explicar se a abstenção acontecerá em bloco ou com apenas 11 de seus 85 deputados, o mínimo indispensável para que concretizar a posse de Rajoy. A legislatura será, no entanto, complicada, já que o PP governará em minoria.

– Todos temos que ceder em nossas abordagens de máximos (…) se pretendo ter mais apoios, lógico que terei que adequar meu discurso à nova situação – disse o próprio Rajoy na sexta-feira.

Os dez meses de impasse político obrigaram o governo de Rajoy a elaborar um orçamento prorrogado e também começam a ameaçar a recuperação econômica de um país com quase 20% de taxa de desemprego.