Cotidiano

Sobrevivência da maioria das espécies de primatas está ameaçada

RIO ? O futuro da maioria das espécies de primatas do planeta está em risco, com muitas delas ameaçadas de extinção ou enfrentando queda na sua população. O alerta é do mais extenso estudo sobre o estado de conservação destes animais já feito, publicado nesta quarta-feira no periódico científico ?Science Advances?.

Segundo os pesquisadores liderados por Paul Garber, professor de antropologia da Universidade de Illinois, e Alejandro Estrada, da Universidade Nacional Autônoma do México, cerca de 60% das espécies de primatas estão sob risco de extinção, enquanto aproximadamente 75% veem seu número de indivíduos existentes se reduzir a níveis perigosos. A ordem dos primatas inclui desde os chamados primatas superiores, parentes mais próximos dos humanos no mundo animal, como chimpanzés, gorilas e bonobos, até pequenos micos e lêmures que habitam as cada vez menores e mais degradadas florestas do planeta.

– Esta é verdadeiramente a hora final para muitas destas criaturas ? lamenta Garber. – Várias espécies de lêmures, macacos e primatas superiores, como o lêmure-de-cauda-anelada (famosa pelo personagem Rei Julien, da série de filmes de animação ?Madagascar?), o macaco colobus vermelho de Udzunga, o macaco-de-nariz-arrebitado-de-Yunnan, o langur-de-cabeça-branca e o gorila de Grauer, estão reduzidas a uma população de apenas alguns poucos milhares de animais. E no caso do gibão de Hainan, uma espécie de primata da China, há menos de 30 animais vivos.

Segundo os cientistas, a ordem dos primatas enfrenta uma ampla gama de ameaças, como a caça, o comércio ilegal de animais de estimação e a perda de habitat ?de maneiras destrutiva e insustentáveis?, diz Garber. Um exemplo disso é o criticamente ameaçado orangotango de Sumatra, que perdeu 60% de seu habitat entre 1985 e 2007, destaca o pesquisador.

– Infelizmente, nos próximos 25 anos, muitos destes primatas vão desaparecer, a anão ser que façamos de sua conservação uma prioridade global ? alerta Garber. – Isto, por si só, já seria uma perda trágica. Mas agora considere as centenas de outras espécies que enfretam destino similar ao redor do mundo e podemos ter uma ideia do que está realmente em risco.

Garber lembra ainda que apenas quatro países ? Brasil, Indonésia, Madagascar e República Democrática do Congo ? abrigam dois terços de todas espécies de primatas do mundo, o que os torna alvos óbvios dos esforços de conservação numa tentativa de impedir ou prevenir a extinção destes animais. Para tanto, ele defende o combate à pobreza e práticas danosas ao meio ambiente nestas nações, abrangendo desde a construção de estradas até a mineração, agricultura e extrativismo.

– Combater a pobreza nestes locais e diminuir o crescimento da população são componentes necessários para a preservação dos primatas ? diz. – Construir economias baseadas na preservação das florestas e seus habitantes primatas e ampliar as oportunidades educacionais para as mulheres seriam um começo na luta contra as maiores ameaças a estes animais. Os primatas são criticamente importantes para a Humanidade. Afinal, eles são nossos parentes biológicos vivos mais próximos – conclui.