Policial

Sobrecarga na saúde prejudica população

A sobrecarga na saúde pública tem trazido prejuízo à população em geral e dificultado, inclusive, o trabalho do Corpo de Bombeiros em atendimentos de ocorrências em Cascavel. Vários problemas que, unidos, formam um verdadeiro caos, que soma a alta demanda nas UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento) à imprudência no trânsito e à falta de vagas hospitalares, além da escassez de recursos do Corpo de Bombeiros.

Em um acidente grave registrado na tarde de ontem [leia mais na página 19], mais de uma vítima ficou ferida. Nesses casos, o Siate costuma encaminhar mais de uma ambulância para atendimento, já que cada veículo tem capacidade para atender apenas uma pessoa. Porém, isso não foi possível. Sem duas ambulâncias disponíveis, apenas uma do Siate foi deslocada e o apoio do Samu foi necessário para atendimento.

Um dos motivos é que as macas de ambulâncias ficam retidas nas UPAs e no HU e, por consequência, o veículo parado, o que tem sido recorrente para o Corpo de Bombeiros. Não há macas suficientes nas unidades hospitalares e é preciso esperar até uma seja liberada na unidade de atendimento regulada, para colocar o paciente. Enquanto a maca da ambulância do Siate fica no local, o veículo não pode sair, e isso interfere em outros socorros.

Segundo informações do Consamu, na manhã de ontem, uma ambulância ficou retida por cinco horas na UPA Veneza, e isso ocorre nas unidades por conta da alta demanda de atendimento. “Está tudo travado. As UPAS e o HU cheios desde a parte da manhã. No pronto-socorro do HU, em que cabem 20 pessoas, tem 23”, afirma o diretor-técnico do Consórcio, Rodrigo Nicácio. Já no feriado do dia 1º, não houve ambulância retida. Isso porque as pessoas não procuram as UPAs nestas datas. “Assim como no jogo do Brasil na Copa, final do BBB [Big Brother Brasil, programa da rede Globo], no feriado, as pessoas não procuram atendimento médico. A população precisa entender que a porta inicial são as unidades básicas de saúde e que não precisa ir direto para a UPA”, lamenta o diretor.

Acidentes

Apenas na quarta-feira, 17 ocorrências foram atendidas em Cascavel, sendo 10 acidentes de trânsito, segundo relatório online do Corpo de Bombeiros em Cascavel. Aliás, a média diária é de aproximadamente 17 a 20 atendimentos na cidade. Do início do ano até ontem, por volta das 15h, 938 acidentes de trânsito foram registrados, média de mais de 7 por dia. Tudo isso com apenas quatro viaturas. O problema se agrava porque, com a quantidade diária de acidentes de trânsito e vítimas em estado grave, as unidades de pronto atendimento e os hospitais ficam lotados.

Equipamentos escassos

Em todo esse processo, pesa também a escassez com que trabalha o Corpo de Bombeiros em Cascavel. São apenas quatro ambulâncias para fazer o atendimento de traumas em toda a cidade e, muitas vezes, essas viaturas também são deslocadas para rodovia e até mesmo municípios próximos para fazer o atendimento. O agravante é que as existentes já passaram da hora de serem substituídas. O Estado não repassa recurso suficiente para isso e o bombeiro conta com colaborações como a Taxa de Proteção a Desastre. Só que ela é a mesma antiga taxa de sinistro considerada inconstitucional e que agora foi ‘remodulada’ para auxiliar nessas questões. Porém, é questionada novamente pela Câmara de Vereadores por meio de um projeto de lei que quer derrubar a contribuição e está em trâmite nas comissões da Câmara de Vereadores. Conforme a Secretaria de Finanças, só poderá deixar de ser cobrada no ano que vem se for revogada ou declarada inconstitucional pelo judiciário.

Com a arrecadação de 2018 da taxa, a previsão era repassar R$ 2,2 milhões, 70% para o Corpo de Bombeiros e 30% para a Defesa Civil. Há necessidade, também, da compra de outros equipamentos, além das ambulâncias, mas não há informação do comando sobre como o dinheiro será investido.

Falta de efetivo

Ter ambulâncias a mais também não resolveria muita coisa para o Corpo de Bombeiros. Até ajudaria, mas aí vem outro problema: não há capacidade de efetivo operacional para compor as viaturas a mais, que normalmente abrigam três socorristas e a maca para atendimento a vítima. Em casos mais graves, o médico do Siate também é acionado nas demais viaturas. “O previsto na área de atuação do 4º GB [Grupamento de Bombeiros], que abrange 42 municípios, é de 377 bombeiros. Hoje trabalhamos com 267”, afirma a tenente Marcela Schwendler, oficial de relações públicas do 4º GB. Há alguns dias a reportagem do Hoje solicitou informações ao Estado sobre falta de efetivo e equipamento dos bombeiros, mas até agora não recebeu resposta.

Macas escondidas??

A retenção de maca nas unidades de pronto-atendimento é proibida por lei e, para a 10ª Regional de Saúde, não existe falta de maca. “Tem que ver se tem maca escondida, porque não é possível. Se há falta de macas, a responsabilidade é dos gestores. Recentemente acompanhamos que um vereador encontrou macas empilhadas na UPA da Tancredo. É claro que nós temos sobrecarga no sistema, primeiro porque as pessoas procuram errado as UPAs. Há gente nas unidades buscando atestado ou receita, coisa que poderia ser resolvida nas unidades básicas. Para quem vai doente, uma cólica renal, por exemplo, se resolve com medicamento simples, mas em duas ou três horas as pessoas já são clicadas na Central de Leitos. Além das pessoas que procuram errado, temos uma demanda muito grande de acidentes de trânsito. As pessoas não respeitam, não é possível um acidente em perímetro urbano com tombamento do veículo se o motorista estiver na velocidade de 40 km por hora”, dispara o chefe da 10ª Regional de Saúde em Cascavel, Miroslau Bailak.

Superlotação

O Hospital Universitário informou que nos últimos tempos enfrenta dias de superlotação em setores como o pronto socorro e centro obstétrico que já chegou a ter 38 pacientes em um espaço para 20. O samu tem macas que podem ser emprestadas, e muitas vezes ficam no hospital por pouco tempo. Ressaltamos que existe o empréstimo da maca, não deixando a ambulância retida e rapidamente são devolvidas ao serviço. Esse procedimento é de praxe não só para o Huop, mas para outras unidades de saúde. Na tarde de hoje eram 27 pacientes internados no pronto socorro.