Cotidiano

Sibéria planeja sacrificar 250 mil renas para conter surto de doença

Reindeer-on-the-rocks.jpg

RIO ? Numa estratégia para conter a ameaça de uma epidemia de antraz, 250 mil renas devem ser abatidas até dezembro na Sibéria. O distrito autônomo de Yamalo-Nenets, na região oeste da planície siberiana, no extremo norte da Rússia, possui rebanho estimado em mais de 700 mil animais da espécie, sendo 300 mil concentrados na península de Yamal, o que levanta preocupações de que o denso rebanho facilite a propagação da doença, informa o ?Siberian Times?.

No mês passado, um surto da doença provocou a morte de uma criança de 12 anos na região e 72 pessoas foram hospitalizadas. Foi a primeira morte provocada pelo antraz na região desde 1941. A suspeita pela proliferação da bactéria, cujo nome científico é Bacillius anthracis, recaiu sobre as renas, já que nove delas foram encontradas mortas com sinais de infecção. Na ocasião, 2.300 animais foram sacrificados.

De acordo com especialistas, o surto retornou por causa das mudanças climáticas. Temperaturas incomuns, de até 35 graus Celsius, devem ter descongelado carcaças de animais infectados há décadas e liberado a bactéria. A doença é mais comum em animais, mas é transmitida para os humanos pelo consumo de carne ou pelo uso de lã e couro de animais infectados.

Por esse motivo, Dmitry Kobylkin, governador de Yamalo-Nenets, pediu a preparação de um plano para reduzir a população de renas. Tradicionalmente, o animal é abatido nos meses de novembro de dezembro, mas, neste ano, o número de animais mortos deve sofrer um aumento significativo.

Nikolai Vlasov, vice-diretor do serviço sanitário russo, explicou que quanto mais densa for uma população de animais, maior é o risco de transmissão de doenças.

? A densidade dos rebanhos, especialmente nas áreas de tundra que são muito frágeis, deve ser regulada ? disse Vlasov. ? É impossível reproduzir renas sem limites.

RISCO PARA POPULAÇÕES NÔMADES

A situação é particularmente grave na península de Yamal. Segundo Vlasov, na região existem 300 mil renas competindo por alimento suficiente apenas para a manutenção de 110 mil animais. O excesso no rebanho pode destruir pastos, comprometendo a subsistência das populações indígenas locais. Vlasov não cita o extermínio em massa, mas a transferência para regiões mais ao sul.

Contudo, a antropóloga Olga Murashko expressa preocupação de que o sacrifício de animais afete o rebanho de pequenas populações nômades.

? Um grande número de nômades da península de Iamal vai perder seus meios de existência e oportunidades para manter seus modos de vida tradicionais ? disse Olga.

A pesquisadora destacou ainda que os planos para reduzir a população de renas coincide com o rápido aumento de licenças concedidas para extração de gás na região. O distrito de Yamalo-Nenets possui as maiores reservas de gás natural da Rússia, além de grandes poços de petróleo.