Economia

Short lines reduzirão custo do transporte de cargas e dos produtos

Em muitos casos, as ferrovias são uma possibilidade de transporte mais barato e eficaz

Cascavel – O custo logístico tem impacto direto no valor cobrado nas gôndolas do supermercado. Cerca de 10% do preço final é resultado da despesa de levar essa mercadoria até o ponto de venda. No Paraná, hoje quase tudo segue sobre rodas, na carroceria dos caminhões.

Em muitos casos, as ferrovias são uma possibilidade de transporte mais barato e eficaz. No Paraná, estudos indicam que a Nova Ferroeste pode reduzir o custo logístico em até 28% já no primeiro ano de operação. A estrada de ferro vai ampliar e modernizar o trecho já existente entre Cascavel e Guarapuava e ampliar o traçado, ligando Maracaju, no Mato Grosso do Sul, a Paranaguá, no litoral do Paraná.

Uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) votada em julho pela Assembleia Legislativa permitiu a inclusão da autorização para os modais ferroviário e aquaviário na Constituição, reforçando a iniciativa ferroviária no Estado. Assim, passam a valer as modalidades de concessão, permissão e autorização.

Para o modal ferroviário, essa novidade permite a construção de pequenas linhas, também chamadas de short lines, pela iniciativa privada. Dessa maneira, uma empresa localizada perto de uma estrada de ferro poderá levar seus produtos até o ramal principal por trilhos, sem o transbordo feito pelos caminhões. Em agosto, os deputados vão discutir as regras para essa nova alternativa.

“O trilho pode passar dentro da unidade produtiva e aí passa a carregar vagões. Uma locomotiva de manobra leva a carga até o tronco principal e encaixa no comboio. Existe uma grande redução de custo nessa mudança”, explica o coordenador do Plano Estadual Ferroviário, Luiz Henrique Fagundes.

Para João Mohr, gerente de Assuntos Estratégicos da Fiep (Federação das Indústrias do Paraná), a Lei de Autorização torna o investimento interessante para empresas que estejam localizadas a algumas dezenas de quilômetros da estrada de ferro principal (no caso, a Nova Ferroeste). “Ela poderá investir naquela faixa de domínio construindo e operando vagões nessa pequena linha e levar os vagões até a linha principal. De lá, a concessionária vai transportar até o destino final”, completa.

Quando o projeto da Nova Ferroeste começou a ganhar forma, com a ideia de um ramal vindo de Foz do Iguaçu à artéria principal, com base em Cascavel, esse novo desafio começou a aparecer de forma mais clara: estimular o acesso às empresas ou às cidades com potencial ao longo do caminho. Representantes da Fiep, dos governos federal e estadual, viajaram para os EUA e conheceram de perto o modelo americano, que foi a inspiração para a lei paranaense.

A construção das short lines permite à indústria unir seus terminais ou armazéns às linhas principais dos troncos ferroviários. “O privado identifica uma oportunidade de ligar dois pontos a partir de levantamentos econômicos e encaminha para o governo, que analisa e dá o parecer final. Essa é a ideia nos próximos anos”, explica Fagundes.

Um levantamento feito pelo governo do Estado indicou sete polos geradores de carga no Paraná com potencial para a implantação de pequenas linhas férreas. São empresas e cooperativas de grande porte com unidades de produção próximas à futura linha da Nova Ferroeste.

Instaladas nos municípios de Marechal Cândido Rondon, Assis Chateaubriand, Cafelândia, Francisco Beltrão, Matelândia, Maripá e Palotina, essas empresas estariam entre 5 e 100 quilômetros dos novos trilhos. O estudo avalia a possibilidade de investimento de R$ 2,5 bilhões na construção destas ligações pela iniciativa privada. Cada quilômetro de trilho construído sairia por R$ 10 milhões.

Ferroeste

Entre os terminais da Ferroeste em Guarapuava e Cascavel circularam no primeiro semestre desse ano 800 mil toneladas de produtos em 6.638 contêineres. O volume representa crescimento de 3% em relação ao mesmo período de 2020.

Segundo André Gonçalves, a Ferroeste poderia transportar até 5 milhões de toneladas por ano. Mas o traçado atual da Malha Sul, por onde segue a carga a partir de Guarapuava até chegar ao Porto de Paranaguá, possui dois grandes gargalos. “Não crescemos porque a operação na Serra da Esperança e na Serra do Mar não permite aumento de carga”, diz.

Por isso, o projeto da Nova Ferroeste é uma das apostas do setor produtivo. Vai ampliar a capacidade de transporte, melhorar o escoamento e praticar preços mais atrativos.