Política

Serviços pela metade deixam colégios estaduais no “escuro”

Abertura de investigação ocorre quatro anos depois da assinatura do contrato

Mercedes – Por mais de quatro anos estudantes enfrentam sistemas elétricos deficitários em colégios do Estado em função de serviços que foram contratados, mas nunca executados completamente como previsto em licitação. O reflexo nas instituições de ensino é a dificuldade de uso de mais de um equipamento de maneira simultânea. Em alguns casos, os professores têm que optar: ou ligam ventiladores e as luzes ou usam os computadores: ligar todos ao mesmo tempo significa que o colégio vai ficar sem luz.

Pelo levantamento feito pela Seed (Secretaria de Estado de Educação), 46 contratos estão no alvo de uma investigação – envolvendo reparos nas instalações elétricas e reformas. Uma Comissão Processante para Apuração de Responsabilidade foi formada para investigar possíveis infrações praticadas pela A.A. Cattuci & Cattuci Ltda de Pato Branco. A empresa de pequeno porte – que tem permissão para venda desde enfeites de Natal até construção de edifícios – não teria cumprido as obrigações previstas em contrato.

Dentre as várias instituições prejudicadas no Estado quatro são da região oeste: Colégio Estadual Antônio Carlos Gomes (Terra Roxa), Colégio Estadual Leonilda Papen (Mercedes), Colégio Estadual Irmão Germano Rhoden (Toledo) e Colégio Estadual Olivo Fracaro (Cascavel).

Além da possível irregularidade da empresa, nota-se um total descaso da gestão do ex-governador Beto Richa (PSDB). Os 23 contratos foram firmados entre 2012 e 2014 e somente agora, no apagar das luzes, a ex-secretária de Educação Ana Seres Trento Comin nomeou a comissão para investigar o caso.

Problemas

Em Cascavel, no Colégio Estadual Olívio Fracaro, 40% dos serviços previstos no contrato foram executados. O valor previsto era de R$ 100 mil.

Quando assumiu a direção do Colégio Estadual Leonilda Papen, o diretor Ítalo Ariel Zanelato soube da obra deixada pela metade. A empresa foi contratada para realizar serviços na gestão em 2014. “O problema com a queda de energia ainda persiste. O serviço foi solicitado diante das constantes quedas de luz. Mas desde então não houve melhorias. Apenas com recursos próprios a direção não tem condições de fazer todos os reparos necessários”, admite o diretor.

Na época, a empresa fez a ligação elétrica até a rede do colégio e o restante do serviço de ampliação da carga não foi executado. “A empresa ampliou em 400 ampéres a rede, porém não conseguiu fazer a distribuição dentro do colégio. A alegação era de que esse serviço não seria de responsabilidade dela”, conta Zanelato.

Prazo

Agora, a Comissão Processante terá o prazo de 180 dias para concluir a investigação, com encaminhamento do relatório final à autoridade competente. Enquanto isso, estudantes e professores tendem a enfrentar as dificuldades em virtude da falta de compromisso de empresas que não cumprem os contratos e o governo do Estado, que se omite na fiscalização.

A Comissão é composta pelos servidores: Sirlei Casado Valesi, presidente; Evanize Scheleider, secretário; José Roberto Faria, membro; e Thais Gama da Silva, suplente.

Sem resposta

Com a transição de governo, as assessorias de comunicação do Estado não souberam falar a respeito dos processos abertos. A reportagem entrou em contato com a empresa citada, deixou recado aos responsáveis, mas eles não se posicionaram nem retornaram as ligações.

OUTROS COLÉGIOS

Também não foram concluídas obras nas seguintes instituições: Colégio Estadual José de Anchieta (Quedas do Iguaçu); Colégio Estadual Dom Bosco (Goioerê); Escola Estadual Nicolau Copérnico (Mallet); Colégio Estadual de Faxinal dos Marmeleiros (Rebouças); Colégio Estadual Gonçalves Júnior (Irati); Colégio Estadual João de Mattos Pessoa (Irati); Colégio Estadual Frei Doroteu de Pádua (Ponta Grossa); Colégio Estadual Polivalente (Londrina); Colégio Estadual Carlos de Almeida (Londrina); Colégio Estadual Unidade Polo (Ibiporã); Colégio Estadual Professora Lucia Barros Lisboa (Londrina); Colégio Estadual Professora Margarida de Barros Lisboa (Londrina); Escola Estadual Cristo Redentor (Nova Prata do Iguaçu); Colégio Estadual Irmã Maria Margarida (Salto do Lontra); Colégio Estadual Rio D’Areia de Cima (Teixeira Soares); Colégio Estadual Ribeiro de Campos ( Goioerê); Escola Estadual do Campo Padre Antônio Vieira (Ampére); Escola Estadual do Campo Fernando Moreira (Mallet) e Colégio Estadual Antônio Dorigon (Pitanga).

Investigação atrasada

Só agora, após deixar o cargo para disputar o Senado, foi que o ex-governador Beto Richa deu permissão para a criação da Comissão Processante para apurar possíveis irregularidades na construção da unidade nova Centro Estadual de Educação Profissional de Ibaiti. A licitação aconteceu em 2012 e a vencedora foi a Empresa TS Construção Civil Ltda, empresa de pequeno porte de Araucária. A Comissão Processante terá o prazo de 180 dias para concluir a apuração dos fatos.