BRASÍLIA ? Após encontro com o líder da oposição venezuelano Henrique Capriles, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, anunciou que vai propor um canal humanitário na ONU e na Organização dos Estados Americanos (OEA) para ajudar a Venezuela, que sofre carência de remédios e alimentos. Capriles
Em pronunciamento fechado para perguntas, o chanceler não falou especificamente sobre eventual apoio ao referendo revogatório, articulado pelos adversários de Nicolás Maduro para destituí-lo, mas disse que não reconhece o país vizinho como uma “democracia” e que o
Brasil não pode ser “indiferente” à situação venezuelana.
? Para mim, um país que tem preso político não é um país democrático ? disse Serra. ? Temos uma política de não interferência nas questões internas de outros países mas nunca podemos ser indiferentes ao atropelo da democracia, ao desrespeito aos direitos humanos e à situação brutal de carências que hoje envolvem a população venezuelana.
Serra afirmou que já havia, em nome do presidente interino Michel Temer, oferecido apoio a Venezuelana com doação de remédios produzidos por laboratórios nacionais, mas que não houve “receptividade do governo venezuelano a esse respeito”. Dessa forma, o chanceler quer propor o canal humanitário nas instâncias internacionais como uma forma de não deixar a população do país vizinho desabastecida.
Capriles saiu da reunião dizendo que considerou a vinda ao Brasil como uma “missão cumprida” pelo fato de ter ouvido a mensagem de que o país tem “posição firme de respeito à Constituição”. Ele disse que uma convulsão social na Venezuela terá impacto em toda região, inclusive no Brasil, e voltou a pedir que o governo brasileiro não seja mais
indiferente à situação:
? Para nós, era dolorosa a indiferença do Brasil.
Capriles ressalvou que não pede uma intervenção brasileira, mas apenas suporte público em defesa do cumprimento da Constituição, que prevê o referendo revogatório. Para ele, exemplo de ingerência “inaceitável” foi o apoio do ex-presidente Lula a Maduro durante as eleições. O oposicionista diz que espera do Brasil um posicionamento a favor da democracia na Venezuela em todas as instâncias internacionais, como Mercosul, Unasul e OEA.
PROTESTO DO LADO DE FORA
Após a reunião de parlamentares com Capriles, o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, afirmou que o Brasil deve apoiar a oposição venezuelana pela saída de Maduro. Ele defendeu que o país se posicione, na próxima reunião da Organização dos Estados Americanos, por sanções contra o presidente venezuelano.
? Se mudou o governo do Brasil, é fundamental que mude nossa postura em relação aos vizinhos.
Enquanto Serra se reunia com o opositor venezuelano Henrique Capriles, um grupo de manifestantes tentou invadir o prédio do Itamaraty. Com cartazes em que chamam o chanceler de ?entreguista do pré-sal?, os militantes gritaram palavras de ordem contra a saída de Dilma Rousseff, chamando de golpe. Eles hastearam bandeiras do MST e do Brasil.