Cotidiano

Serra diz que acordo entre Mercosul e UE pode sair em dois anos

NOVA YORK E BRASÍLIA – Os chanceleres dos países do Mercosul, exceto a Venezuela, aprovaram na noite de domingo, em Nova York, uma declaração conjunta para tentar destravar o acordo entre o grupo e a União Europeia. José Serra, ministro das Relações Exteriores do Brasil, disse ter saído otimista da reunião e que acredita que um acordo com os europeus pode ser concluído em até dois anos.

? Aprovamos uma declaração que faz uma exortação à União Europeia para que prossiga, que dê mais agilidade de negociação com o Mercosul ? afirmou Serra, que disse que essa nota pode ser considerada como um passo para o acordo entre os dois grupos: ? É a nossa vontade e a nossa disposição. Existem resistências na UE por causa de mobilizações que eu diria protecionistas em alguns países. Mas a Espanha, Portugal, Suécia, Itália estão amplamente a favor. Eu confio que eles consigam maioria para acelerar o processo. Queremos acelerar (as negociações entre os dois grupos) em outubro. Mas é algo para um ano e meio ou dois anos (a conclusão do acordo).

Serra, que está em Nova York pela Assembleia Geral da ONU, afirmou que este documento seria importante para os europeus, de acordo com o ministro espanhol de comércio, com quem Serra se encontrou em Brasília. O Uruguai, segundo o ministro, será o país que vai ?pilotar? as negociações com a União Europeia.

Serra lembrou que os países ratificaram a declaração, divulgada no início da semana passada, que determina que o Mercosul seja administrado por uma comissão dos países, e não pela Venezuela. Seria a vez do país de Nicolas Maduro assumir a presidência do grupo, mas os demais sócios queriam evitar isso por causa da situação política venezuelana. O ministro brasileiro disso que isso não foi tratado na reunião dos chanceleres, convocada pelos argentinos. Questionado porque a Venezuela não participou do evento, Serra esquivou:

? O encontro foi convocado pela Argentina sobre aquela nota. Isso (Venezuela) nem foi posto. Não chegou a ser cogitado Não se falou sobre Venezuela, o que se falou foi o desejo de não ficar com o assunto da Venezuela pela frente ? disse Serra, lembrando que esta foi a sua primeira reunião do Mercosul à frente da diplomacia brasileira.

?EQUILIBRADO, AMBICIOSO E ABRANGENTE?

Os chanceleres de Argentina, Susana Malcorra, Brasil, José Serra, Paraguai, Eladio Loizaga, e Uruguai, Rodolfo Nin Novoa, reunidos em Nova York, examinaram a agenda de negociações comerciais externas do bloco. Nessa perspectiva, destacam a importância de impulsionar as negociações do Acordo de Associação Birregional Mercosul?União Europeia, pelos tradicionais laços culturais, comerciais e de investimentos que já unem os dois blocos e pelo grande potencial de crescimento dos fluxos de comércio e investimentos entre eles.

?Nesse sentido, (os países do Mercosul) conclamam os países da União Europeia a reforçarem seu engajamento no processo de negociação em curso?, afirmou a nota assinada pelos quatro países. ?Os Chanceleres reiteram, por fim, a expectativa de conclusão, o quanto antes, de um acordo equilibrado, ambicioso e abrangente?.

De acordo com o chanceler brasileiro, o presidente Michel Temer, que abrirá pela primeira vez a Assembleia Geral da ONU amanhã, deverá focar seu discurso nos ?valores? brasileiros: Paz, direitos humanos e desenvolvimento sustentável.

Depois do encontro, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, divulgarão uma carta, que terá um recado claro: o Mercosul quer um acordo “equilibrado, ambicioso e abrangente” com os europeus. Os chanceleres da Argentina, Susana Malcorra, do Brasil, José Serra, do Paraguai, Eladio Loizaga, e do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa, querem avançar numa negociação que começou no século passado. As primeiras conversas foram feitas em 1999. O objetivo do grupo, agora, é dar prioridade para o acordo com os europeus, aproveitando o alinhamento do bloco depois das trocas de governo no Brasil e na Argentina.

Segundo a fonte ouvida pelo GLOBO, uma das grandes expectativas de avanço nessas negociações é a Sessão XXVI do Comitê de Negociações Birregionais (CNB) que será realizada no mês que vem em Bruxelas. As discussões que serão feitas são sobre a troca de ofertas de acesso mercados de bens, serviços e compras governamentais.

*Correspondente