Cotidiano

Serra: crise na Europa causada por referendo britânico preocupa o Brasil

2016 913677408-2016 911934003-201605251938593773.jpg_20160525.jpg_20160603.jpgBRASÍLIA – O ministro das Relações Exteriores, José Serra, não acredita em um impacto significativo na economia brasileira causado pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE). Segundo Serra, as dificuldades que persistem nas negociações entre os países da região e o Mercosul para um acordo de livre comércio com o Mercosul permanecem as mesmas e não por causa do bloco sul-americano. O que atrapalha, afirmou, é o protecionismo europeu.

Com a saída do Reino Unido da União Europeia, o que pode acontecer com o Brasil?

Estimamos que os efeitos diretos sobre o Brasil não seriam graves num primeiro momento. Apenas 1,5% de nossas exportações é dirigida ao Reino Unido. O país responde por 1,6% de nossas importações. Nossa preocupação é maior com efeitos sistêmicos, como crise econômica na Europa ou instabilidade no mercado financeiro.

E quanto às nossas relações com o Reino Unido?

O Reino Unido é um grande investidor no Brasil, com 7,8% do estoque de investimentos estrangeiros diretos. Foi o quarto maior investidor no quadriênio 2011-2014. Esperamos que esses fluxos não sejam afetados significativamente.

O senhor acredita que a decisão do referendo vá afetar as negociações entre Mercosul e União Europeia para um acordo de livre comércio?

É possível que haja algum impacto, mas continuaremos negociando. Também ainda é cedo para se avaliar a possibilidade de acordo direto do Brasil ou do MERCOSUL com o Reino Unido. Vamos esperar os desdobramentos futuros.

O senhor acredita em um acordo entre os dois blocos a curto prazo?

Contrariamente a um mito que se estabeleceu, o principal obstáculo a uma negociação Mercosul-União Europeia para um acordo de livre comércio não vem do lado do Mercosul. Isso era verdadeiro até o governo da ex-presidente argentina Cristina Kírchner. Essa concepção mudou no governo de Maurício Macri. O Mercosul está bastante aberto para a negociação. A maior dificuldade vem da União Europeia. Eles fizeram uma oferta de liberalização inferior ao que tinham feito em 2004 e ainda não se manifestaram sobre dois itens que são fundamentais para o Mercosul: a carne bovina e o açúcar. Por outro lado, no ano que vem tem eleição na França e é muito pouco provável que a UE atenue as restrições protecionistas em função disso. Mas isso não significa que vamos deixar de dar batalha.

Que tipo de protecionismo o senhor enxerga nas negociações?

Eu quero lembrar que os países da UE dão de subsídios à sua agricultura cerca de 100 bilhões de euros pro ano, seja pelo orçamento da própria União Europeia, seja pelos orçamentos nacionais. Isso, evidentemente, é uma medida de protecionismo extremo.

E quanto a uma negociação direta com o Reino Unido?

A Inglaterra é mais uma oportunidade de negociação de mais comércio e investimentos.