Cotidiano

Sequestro via Facebook

Quanto mais velhos ficamos, mais raposas nos tornamos. Os e-mails de banco informando renovação de cadastro – é fácil, basta clicar aqui – já não me pegam mais. E não tem dia que não os receba. Você pode até marcá-los como spam, eles voltam, e ainda mais sofisticados. Aviso urgente da Receita Federal e convocação pela Justiça Federal são alguns exemplos da criatividade que brota de mentes criminosas, talento que mostra a vulnerabilidade a que fomos submetidos com o desenvolvimento da tecnologia. Tanto lixo eletrônico fez com que desistisse de meu antigo email de dez anos. Na caixa de entrada, predominam assuntos importantes, paz e serenidade que tive por 11 meses, tempo que levou para o pedido de renovação de cadastro reaparecer. Os spams podem me incomodar, mas não prejudicam minha vida, diferentemente das crianças,  inocência exposta para qualquer criatura que tem em mente praticar o que sabe ser incorreto, imoral e desumano.

A internet levou o crime para dentro de casa, e no nosso sofá assistindo Peppa Pig estão nossos filhos. Não precisamos ter medo de perder nossas crianças em supermercados, parques e praças públicas: hoje em dia elas são fisgadas enquanto brincam inocentemente em seus quartos, bem debaixo de nossos narizes. E a preocupação não se restringe ao universo da pedofilia, sequestro com as mais variadas finalidades colocam os pais de orelhas em pé, mas não bastam os cinco sentidos estarem focados na preservação de nossos filhos. É necessário um sexto, aquela sensação de mal estar que nos adverte ser melhor deixar fechado aquele email, não abrir a porta nem atender o número de celular , de DDD de outro estado, que insiste em ligar.

As crianças, por sua vez, não colaboram muito. “Se o Joãzinho tem celular e facebook, porque eu não posso ter, mãe¿” Por que o Joãzinho não é meu filho, mas nenhum argumento é convincente o suficiente para quebrar a barreira da inocência de nosso filhos que adoram postar fotos de suas festinhas, de seus cachorros, da viagem de seus pais e do playground perto de suas casas. Agora é só uma pessoa do mal ter a infelicidade de cruzar pela foto de seu filho e, acredite, tem gente que passa o dia inteiro fazendo isso.

O cenário é preocupante e não estamos falando de filme, de documentários, de coisas esquisitas que só acontecem do lado de cima do Equador. Quando o mal espreita a infância da humanidade, somos todos atingidos. As consequências nefastas desassossegam as famílias,  todas com telhado de vidro. E wireless. Não tem essa de “eu quero, mãe!”. É não, e pronto. É fiscalização, e pronto. É deixa eu ver, e pronto. E a mãe do Joãozinho tem que dar limites para que todos nós consigamos convencer as crianças que são alvos fáceis para quem não conseguiu viver para o bem, para o coletivo. A mãe do Joãzinho e toda a sociedade deve entrar nessa corrente de proteção à inocência, o que não deixa de salvar nossa essência. Se um filho nosso é tocado, perderemos muito mais do que a inocência dele: perderemos nosso rumo e o sentido de viver. 

 Vivian Weiand