Cotidiano

Senadores republicanos cobram inquérito sobre relação Trump-Rússia

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WASHINGTON – Altas lideranças republicanas no Senado pediram nesta terça-feira uma investigação sobre supostos laços do governo Trump com a Rússia, um dia após a renúncia do conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn. O ex-general deixou seu posto na Casa Branca após a revelação de contatos secretos com o embaixador russo para discutir o levantamento de sanções de Washington a Moscou. Esta é a primeira baixa no governo Trump, que ainda não completou nem mesmo seu primeiro mês. FLYNN

O segundo senador na hierarquia republicana, John Cornyn, e outros parlamentares em cargos de peso na Casa pediram a intervenção da Comissão de Inteligência. O senador Roy Blunt, membro do comitê, pediu que Flynn testemunhe sobre o caso.

? Acho que todo mundo precisa que esta investigação aconteça ? disse Blunt a uma rádio local. ? A Comissão tem a responsabilidade principal de conferir isso. (…) Deveríamos falar com o general Flynn muito em breve e ele responder muitas questões.

O senador Bob Corker, que chefia a Comissão de Relações Exteriores, afirmou que o caso Flynn reforça a tensão com a Rússia. Já Lindsey Graham, também republicano, defendeu ainda uma investigação específica sobre os contatos de Flynn com o embaixador russo no período de transição presidencial.

? Quero saber. Ele fez isso por conta própria ou foi instruído por alguém?

Richard Burr, presidente da Comissão de Inteligência, disse que ainda não tem uma decisão sobre se Flynn deveria testemunhar. Mas também sofre pressão dos colegas democratas.

? O público americano merece saber mais sobre a renúncia ? questionou o senador Mark Warner, principal democrata na comissão. ? Acho que há mais sobre este assunto.

CONTATOS DIPLOMÁTICOS FORA DA REGRA

Segundo a Casa Branca, quem assume interinamente ao cargo será o general aposentado Joseph Kellogg. Ao lado de Flynn, ele aconselhou Trump em assuntos de segurança nacional e política exterior durante a campanha. E foi, inclusive, considerado para o cargo de Conselheiro de Segurança Nacional antes de Flynn ter sido oficialmente nomeado.

Pela lei americana, Flynn, como cidadão privado que ainda era antes da posse, não poderia ter tratado de diplomacia com outros países em nome dos EUA. Na carta de demissão, ele se defendeu, dizendo que agia em interesse do futuro governo. Mas também admitiu que “transmitiu sem querer ao então vice-presidente eleito e a outros informações incompletas sobre suas conversas telefônicas” com o embaixador russo.

“Cumprindo meus deveres como futuro Conselheiro de Segurança Nacional, mantive várias ligações com homólogos, ministros e embaixadores estrangeiros. Estas ligações tinham o objetivo de facilitar uma transição suave e começar a construir as relações necessárias entre o presidente, seus conselheiros e líderes estrangeiros. Estas ligações são práticas de praxe em qualquer transição desta magnitude”, disse em nota.

Conselheiro de Segurança de Trump renuncia

Não é incomum que equipes de transição tenham conversas com governos estrangeiros antes de tomar posse. No entanto, os contatos repetidos entre Flynn e a Rússia vieram em um momento sensível, quando os Estados Unidos reforçavam o debate sobre as sanções ao governo russo, o que pode ter moldado a reação russa ao novo governo.

De acordo com o texto de renúncia, ele pediu desculpas ao vice-presidente, Mike Pence, e ao presidente Trump. Flynn também afirma que sentiu-se honrado de ter prestado serviços ao país sob as ordens de Trump. Flynn caiu diversas vezes em contradições ao tentar explicar o teor de suas conversas com o diplomata russo e chegou a envolver Pence, que saiu em sua defesa em várias ocasiões.

Algumas horas antes do anúncio da renúncia, o porta-voz da Presidência, Sean Spicer, havia admitido que Trump avaliava a situação criada por Flynn e estava em contato com Pence para analisar o tema. Congressistas democratas exigiam que o assessor renunciasse ou fosse demitido. Enquanto isso, os republicanos haviam optado por permanecer em silêncio.

Segundo o site ?Politico?, o presidente teria revelado a pessoas próximas que alguns assessores seus não confiavam no então conselheiro de Segurança Nacional, cargo determinante na definição da política externa americana.

Em reação, o Kremlin disse que este é um assunto interno dos Estados Unidos.

? É um assunto interno dos Estados Unidos, um assunto interno do governo do presidente Trump não é assunto nosso ? declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a jornalistas. ? Dissemos o que queríamos dizer. Os quatro cotados para Conselheiro de Segurança Nacional de Trump

UMA FIGURA CONTROVERSA

Inicialmente, o ex-general negou ter discutido o levantamento das sanções à Rússia. Pence e o chefe de Gabinete da Casa Branca, Reince Priebus, saíram em sua defesa. Após reportagens do ?New York Times? e do ?Washington Post? publicadas na última sexta-feira ? citando nove atuais e ex-funcionários que confirmam o teor do contato ?, um porta-voz de Flynn voltou atrás e disse que ele não tinha completa certeza de que o assunto não tivesse surgido durante a conversa.

No cerne do caso estão telefonemas, mensagens e encontros entre Flynn e o embaixador russo, Sergei Kisliak, nas semanas que antecederam a posse de Trump. Os contatos que já eram conhecidos, mas ganharam ainda mais força depois das reportagens, que revelam que os dois falaram diretamente sobre as sanções adotadas pelo governo do ex-presidente Barack Obama contra a Rússia.

Esta não é a primera vez que Flynn deixa um cargo em condições nada agradáveis. A sua carreira militar terminou quando Obama o demitiu da chefia da Inteligência de defesa. Na época, Flynn disse que foi tirado do cargo pelas suas visões rígidas sobre o extremismo islâmico. No entanto, uma ex-autoridade americana que havia trabalhado com o militar disse que ele foi demitido por insubordinação, porque não seguiu orientações de seus superiores.

Fora do governo, saiu de cena por algum tempo e, cerca de um ano após a sua demissão, surpreendeu seus antigos colegas ao comparecer em um banquete oferecido pelo presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou. Na campanha de Trump, Flynn se tornou um importante aliado do republicano e se juntou aos manifestantes contra a democrata Hillary Clinton. Na época, chegou a tuitar: “Ter medo dos muçulmanos é RACIONAL”.

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