Opinião

Sem voo de galinha

Por Carla Hachmann

Após a expectativa criada na semana passada para a liberação de saques das contas de FGTS, frustrada com o limite de R$ 500 confirmado ontem, o governo e os presidentes da Caixa e do Banco do Brasil tentaram justificar que “é melhor assim”.

O foco foi convencer de que o plano de saque anual, que vai virar a “garantia de um salário extra”, é melhor e terá maior retorno do que um “voo de galinha” com a liberação de mais dinheiro agora.

A culpada novamente foi a imprensa, que teria “aplaudido” a proposta anterior que, segundo a Caixa, prejudicaria cerca de 80% dos trabalhadores que têm contas de até R$ 1.4 mil e que sacariam menos de R$ 500.

Esqueceram que quem anunciou os percentuais e criou uma expectativa foi o próprio governo, numa resposta à promessa de tentar aquecer a economia cujo fogo não quer pegar nem com gasolina.

O jeito foi tentar justificar o injustificável e que ninguém não estava nem mesmo questionando. Oras, o governo define quanto pode liberar e que sabe mensurar exatamente a extensão do que está anunciando.

Fato é que, dos R$ 40 bilhões sonhados semana passada, o saque não deve chegar a R$ 30 bilhões, isso se todos se dispuserem a enfrentar fila para tirar quinhentão, que não vai fazer nem refresco em quem está endividado até as tampas, quem dirá alguma agitada na economia.

O governo cedeu à construção civil, que usa tem no FGTS uma garantia sólida na quitação das prestações da casa própria.

A situação estava tão tensa, que fizeram o presidente Jair Bolsonaro ler na íntegra seu discurso, coisa que não tinha feito até hoje, nem mesmo na sua posse. Essa galinha foi o próprio governo quem soltou.