Educação

Sem professor, projeto a autistas pode fechar

A saída de 24 professores PSS (Processo Seletivo Simplificado) da Apae de Cascavel, em 31 de dezembro de 2017, e a não renovação dos contratos por parte do Governo do Paraná tem motivado um grupo de pais e mães a organizar uma manifestação para os próximos dias e acionar, na tarde de hoje, o Ministério Público com a entrega de um abaixo-assinado.

Isso porque, segundo eles, não há docentes suficientes para atender os alunos, que sofrem agora com a superlotação nas salas de aula, além do risco iminente do fechamento de projeto importante ao desenvolvimento pedagógico de alunos autistas. É o caso do Protea (Projeto Transtorno Espectro Autista), que após os cortes está com os dias contados. A própria diretora da Apae, Wagna Sutana, confirma esta ameaça. O projeto traz mais autonomia e melhora o desempenho do aluno autista.

Uma mãe que preferiu não se identificar por medo de represálias conta que o filho autista corre o risco de deixar o Protea, apesar de ter demonstrado grande evolução em seu quadro no período em que permanece estudando. “A informação que tivemos foi que o projeto poderia acabar porque não tem professor suficiente”, relata a mãe, que lembra: “meu filho não pode ficar fora disso [do projeto], pois só percebi melhoras depois que ele iniciou estas aulas. Seria uma perda muito grande e não tenho dúvidas que ele iria regredir”, lamenta.

Nas aulas do Protea, alunos autistas são ensinados pelo método teach, que segundo a mãe, “é a única maneira de eles aprenderem algo”. Todos os materiais são adaptados para o aprendizado, trabalhando com texturas, formas e cores. Para se ter uma ideia da eficácia deste projeto, um aluno matriculado há apenas um ano teve avanços significativos na vida em comunidade. A mãe conta que houve melhora na socialização, na compreensão de ordens simples e o início de um desenvolvimento de habilidades nas atividades aplicadas em sala.

Irreparável

O pai Luiz Antonio Carneiro Chaves, que tem um filho autista matriculado no Protea, comenta que o encerramento do projeto seria uma perda irreparável. “Assim como meu filho, outros alunos tiveram grandes avanços na compreensão. Antes, uma professora ensinava até três alunos, hoje ensina dez”, afirma.

Outro agravante é a distribuição de alunos por síndromes, que antes da saída dos professores PSS, determinada pelo Estado, era feita separadamente, de acordo com a limitação de cada um. “Hoje, está tudo misturado numa sala só. Várias síndromes tratadas juntas não é aceitável, visto que isso traz um retrocesso muito grande em relação ao desempenho do aluno”, diz Chaves.

 

12 alunos autistas em uma sala

Outro caso é de um estudante autista, já adulto, que após os cortes, tem dividido a sala com mais 11 alunos. O problema se dá em decorrência da dificuldade de aprendizagem dos autistas, que precisam de uma atenção especial e em muitos casos individual. Um dos agravos percebidos pelas mães é a recorrência de crises entre esses alunos, que dependendo do grau do transtorno, se autoagridem. “E isso é ruim por eles estarem com mais alunos na sala, pois alguns têm muitas dificuldades em se relacionar com várias pessoas. A superlotação só piora”, comenta.

Segundo Wagna, a saída dos professores PSS da Apae de Cascavel cumpre com uma determinação estadual e vai de acordo com a nova organização pedagógica proposta pelo governo. Esta organização, conforme a diretora, visa reduzir gastos. “A Apae só reorganizou as turmas dentro da determinação”, garante.

Agora, as salas são compostas da seguinte forma: 8 alunos por turma na educação infantil; 10 estudantes nas turmas de 7 a 15 anos, e acima desta faixa etária, somam-se 12 estudantes por turma. Geralmente, para apenas um professor. “É humanamente impossível que um professor consiga atender todos os alunos da maneira como era feito anteriormente”, comenta Chaves.

A direção da Apae, na tentativa de minimizar os danos causados aos alunos, tenta reverter, com o apoio da Federação Paranaense das Apaes, 50% das baixas. Porém, até o momento não houve nenhuma manifestação do Estado.

Legenda: A diretora da Apae de Cascavel, Wagna Sutana

(13local wagna)

 

O que diz o Estado?

De acordo com a Seed (Secretaria Estadual da Educação), a Apae de Cascavel mantém parceria com o Estado que, atualmente, disponibiliza um total de 44 professores para o atendimento de 331 estudantes matriculados na Escola Valéria Meneguel e 25 professores para o atendimento de 117 estudantes na Escola Luiz Pasternak, dentre os demais profissionais como diretor, pedagogo, secretário, atendente, serviços gerais, merendeira e instrutor.

“A parceria tem como objeto a oferta de escolarização a estudantes com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e múltiplas deficiências, sendo o cálculo dos profissionais cedidos, computados por meio dos instrumentos legais que definem o porte das escolas, ou seja, o número de profissionais que cada escola tem direito a partir do registro oficial de matrículas, sendo: 08 estudantes atendidos nas turmas de educação infantil, 10 nas turmas do ensino fundamental e 12 nas turmas de educação de jovens e adultos – fase I”, informa a Seed, que reitera: “esta questão é definida por legislação e normas específicas, que devem ser seguidas por todos estabelecimentos que ofertam educação especial e mantém termo de colaboração com a Secretaria da Educação”.

A Seed diz ainda que estão agendados para o segundo semestre encontros com a Secretaria e as equipes pedagógicas das escolas especializadas, com a finalidade de rever e ressignificar a organização pedagógica desses serviços.