Política

Sem Casas de Apoio, familiares e pacientes peregrinam pelo Estado

A irmã de Liliam Eufrânio passou por um processo cirúrgico ontem (25) na Capital do Estado. A família mora cerca de 600 quilômetros de Curitiba e precisou de hospedagem em uma Casa de Apoio. Até voltar para a cidade de origem, o transporte, alimentação e pouso são direitos garantidos e pagos pela prefeitura da cidade de origem, mas a história bem sucedida não é regra.

Ontem (25) em um grupo de ajuda online, uma família passava por uma situação parecida. Com um filho internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a mãe precisava de um local para passar as noites e acompanhar o tratamento do menino em Toledo. Cerca de 300 quilômetros longe de casa, ela enfrentou os riscos da internet para não passar as noites no relento. No fim da tarde a mulher foi acolhida por religiosos.

O fato é que nem todas as cidades possuem Casa Apoio e a saga de pacientes e familiares para conseguir tratamento ficam sem o amparo básico. Dormir, comer e cuidar da higiene pessoal se tornam atividades difíceis e que precisam contar com a solidariedade de cidadãos comuns e entidades filantrópicas.

Pagando a Conta

A maneira que muitos municípios encontram para tornar um pouco mais fácil a vida de pacientes e familiares é pagar as diárias através de uma licitação feita pelo Consórcio Intermunipal de Saúde da Costa Oeste do Paraná (Ciscopar). Nesse caso, sem nenhum incentivo do Governo do Estado.

Convênio com a Casa de Apoio Ideal em Curitiba, por exemplo, foi feito através do Ciscopar oito e abrange todos os municípios de do Consórcio. O apoio está garantindo em lei pela Portaria 55/99 do Ministério da Saúde.

Tentativas frustradas

Algumas cidades já tentaram a implantação de Casas de Apoio que em parceria com o poder público, mas as tentativas foram todas frustradas até o momento. Nem mesmo em Toledo, cidade em que o Hospital Regional está edificando não existe previsão para a construção de uma retaguarda nesse sentido. Projetos já foram apresentados, mas ainda não resultaram em esperança para os pacientes que hoje buscam atendimento nos hospitais credenciados ao SUS.

Sem responsabilidades

A Assessoria de Comunicação do Estado informa que não existe linha de financiamento disponível para esse tipo de investimento. A obrigação legal do Governo do Estado é promover, exclusivamente, o tratamento e que a preocupação com a acomodação e bem estar dos pacientes são delegadas aos municípios e também realizadas por entidades filantrópicas.

Cuidado Solidário, uma esperança

Uma cama quentinha, refeições balanceadas, banho quente e a possibilidade de ficar perto e dedicar cuidados com quem se ama. A Casa de Apoio Dona Vani recebe os familiares e pacientes há quatro anos em Cascavel. A ação é voluntária e sobrevive sem recursos públicos.

O nome é homenagem à moradora da casa que depois de sua morte foi transformada na Casa de Apoio Dona Vani. Depois de uma batalha de décadas contra o câncer, a mulher que esbanjou fé e solidariedade foi à inspiração para que seus antigos vizinhos, Cláudia e Paulo Frantiozi, que já tinha passado por uma situação semelhante.

Uma parede com dezenas de retratos de famílias que já passaram pela Cada Dona Vani enfeita uma singela e aconchegante sala de estar. Mais de cinco mil pessoas já foram atendidas na casa. A lotação máxima é de 12 pessoas.

Algumas pessoas ficam na Casa por um longo tempo, outras seguem viagem no dia seguinte. Durante a solidão de um tratamento prolongado não é raro que no espaço as histórias e experiências sejam compartilhadas.

Campanhas de adoção de diárias, um bazar anual e outras iniciativas sustentam o trabalho que é cuidado de muito perto por seus idealizadores e voluntários.

Uma lição de solidariedade, contribuição social e aconchego para as pessoas que já possuem desafios diários, que muitas vezes são agravados pelas condições precárias que passam dias e noites. A missão da Casa é cuidar de quem tem a missão de ser “cuidador”.