Cotidiano

Sem acordo de governo, Espanha já admite terceira eleição geral

SPAIN-POLITICS-RAJOY MADRI – O presidente interino do governo espanhol, Mariano Rajoy, chegou a um acordo para tentar efetivar um segundo mandato. Até agora num impasse político por falta de maioria no Parlamento, o conservador aceitou sete condições propostas pelo partido liberal Cidadãos para obter apoio em sua tentativa de formar o Executivo. No entanto, como uma coalizão dos dois ainda não resolveria a paralisia política no país, por somar menos deputados do que a maioria absoluta no Parlamento, ele já admitiria uma provável terceira eleição.

? Pedi a Rajoy duas coisas: primeiro, que assine o pacto anticorrupção, e ele aceitou. A segunda coisa é que não passe de hoje a definição da data de investidura (a votação para ratificá-lo como chefe do governo), e Rajoy se comprometeu a marcá-la nesta tarde (de ontem). Portanto, as duas premissas foram cumpridas ? afirmou Albert Rivera, líder do Cidadãos.

Rajoy então comunicou à presidente do Parlamento, Ana Pastor, que está pronto a se submeter ao processo. Ela marcou para 30 de agosto o início das sessões no Parlamento que definirão se ele tomará posse ou não para o segundo mandato formal ? até o momento, continua no cargo de maneira provisória. A primeira votação, para a qual ele precisará de maioria absoluta, será realizada no dia 31; a segunda será no dia 2 de setembro.

O conservador, líder do Partido Popular (PP), não entrou em detalhe sobre os acordos costurados com Rivera, que incluem uma reforma da lei eleitoral, a ampliação de medidas de transparência e a retirada da imunidade de parlamentares investigados. Tema de divisão entre o PP e os demais partidos, o pacto anticorrupção aceito prevê criar uma comissão parlamentar para investigar casos como o Bárcenas ? em referência a Luis Bárcenas, ex-tesoureiro da sigla, acusado formalmente em diferentes episódios de corrupção. Esta comissão avaliaria ainda um suposto financiamento ilegal ao PP, que será julgado pelo sumiço de arquivos referentes a pagamentos internos que passavam pelas mãos do ex-tesoureiro.

? Não viemos falar de condições (para apoio). Vocês nunca me escutarão dizer isso ? retrucou Rajoy a repórteres.

PARALISIA POLÍTICA

O país vive uma paralisia política desde que as eleições de dezembro e junho resultaram nos Parlamentos mais fragmentados em quatro décadas. O PP, no poder desde 2011, ganhou 137 assentos nas últimas eleições ? 39 menos do que a maioria necessária de 176 dos 350 lugares ? e precisa do apoio de outros grupos para que a sua posse seja aprovada. Em ambas as votações, ficaram atrás respectivamente o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE, 85 cadeiras), o Podemos (esquerda, 71) e o Cidadãos (centro-direita, 32) ? os dois últimos tiraram a hegemonia bipartidária do PP e do PSOE.

Até o momento, as tentativas de acordo para governar fracassaram. O apoio solitário do Cidadãos não daria maioria a uma coalizão chefiada por Rajoy. Sem sucesso em suas primeiras incursões, ele teve de abrir mão de investiduras para que o PSOE tentasse ? em vão ? encabeçar uma coalizão com apoio do Podemos e de outras siglas menores de esquerda.

2016 932569279-201608180850149433_RTS.jpg_20160818.jpgO acordo entre PP e Cidadãos precisaria ainda do aporte socialista para chegar a uma maioria estável de governo e evitar uma terceira eleição. Rajoy exortou o líder do PSOE, Pedro Sánchez, a fazer concessões para se juntar a ele e acabar com o impasse político, ou ainda que o socialista se abstenha na investidura e dê aval a um governo de minoria.

? Se não tivermos uma colaboração, teríamos que ir a novas eleições e estaríamos diante de um fracasso sem precedentes ? advertiu.

Apesar do tom firme de Rajoy, o diário ?El Mundo? diz, com base em diversas altas fontes do PP, que ele trabalha com a probabilidade concreta de ser vetado pelo PSOE. Pelo calendário previsto, isto levaria a uma nova eleição geral, que aconteceria em pleno Natal: 25 de dezembro.

? Vamos ver se Sánchez tem coragem de levar 36 milhões de espanhóis às urnas para repetir a eleição no dia de Natal ? alfinetou o líder do PP na Catalunha, Xavier García Albiol.

Sánchez saudou a decisão de marcar a investidura, mas indicou qual será seu voto. ?Por ética e coerência, o PSOE não virará uma muleta do PP?, disse o perfil institucional do partido no Twitter.

O líder do Podemos, o eurodeputado Pablo Iglesias, insinuou que sua sigla e o PSOE estão ?dispostos a explorar uma possibilidade de governo conjunto caso Rajoy não consiga formar?. Sánchez negou ter acordo fechado.

? São contatos habituais ? desconversou um porta-voz ao ?El País?.

Durante os meses de impasse desde a eleição de novembro, os dois partidos não conseguiram apresentar uma alternativa a Rajoy por divergirem de questões-chave como a ampliação de políticas de bem-estar social e a permissão para um referendo separatista na Catalunha. Analistas temem que o processo se arraste.

? Se o roteiro for seguido, o PSOE dirá ?não? na primeira sessão e talvez na segunda. Depois veremos se aceitará negociar para evitar novas eleições ? avaliou à AFP o cientista político Pablo Simón.