Cotidiano

Selo Bandeira Azul em Itacoatiara divide associações no bairro

NITERÓI – Um selo de qualificação ecológica que costuma ser recebido com satisfação é motivo de discórdia em Itacoatiara. Alguns moradores defendem que a praia receba a Bandeira Azul, certificação que exige, antes, melhorias como a instalação de banheiros, chuveiros e acessibilidade. O grupo representado pela Soami, a associação de moradores do bairro, rejeita a proposta, porque considera que o bairro não suporta aumento na demanda turística e vê incoerências como a exclusão da Prainha no certificado. Para difundir a ideia de que o selo internacional traria benefícios aos frequentadores e ao local, um ato será realizado neste sábado, às 10h, na praia. Vestidos de azul, os apoiadores farão uma caminhada pela areia até a pedra do Pampo, onde prometem um “abraçaço.”

— Itacoatiara aparece no topo de todos as listas de destinos turísticos, do Trip Advisor ao Guia Quatro Rodas. Não dá para dizer que virá mais gente, porque esse momento já foi. O necessário agora é preparar a praia para as pessoas que invariavelmente vêm. Ou segura a bandeira e luta pela preservação, ou vai ladeira abaixo — avalia a produtora Marisa Furtado, que organizou a caminhada e um abaixo-assinado on-line com 456 assinaturas.

A Soami ressalta que Itacoatiara já é protegida, pois está incluída na zona de amortecimento do Parque Estadual da Serra da Tiririca. Na avaliação da associação, a iniciativa aumentaria ainda mais o turismo na praia, já saturado na alta temporada e nos fins de semana.

— A Soami é contra o fato de a candidatura não incluir a Prainha, porque considera as duas praias como um todo. Ali desce a descarga de águas pluviais, às vezes um mar de lama, que impacta a qualidade da água. Um dos critérios do programa é não ter despejo de detritos na praia. Suspeitamos que a Prainha não foi incluída porque, para conseguir a aprovação, a prefeitura precisaria resolver essa questão. Se há uma preocupação ambiental, a principal é essa descarga que sai ali na Prainha. Se quer fazer, vamos cuidar da praia por inteiro — afirma Fernanda Atarian, presidente da Soami.

A associação destaca ainda que sua preocupação é que as intervenções não descaracterizem o bairro, ressaltando que é a favor da instalação dos banheiros. E lembra que já desenvolve ações de preservação, como manejo e proteção da restinga e sinalização informativa.

— A Soami é uma das responsáveis por não haver prédios, flanelinhas, resorts, música alta no bairro. O que é o grande barato de Itacoatiara — diz Fernanda.

FALTA MONITORAMENTO NA PRAINHA

A Coordenação Nacional da Bandeira Azul esclarece que a Prainha não foi incluída na inscrição porque não há monitoramento da qualidade da água naquele trecho — o Inea realiza medição apenas nos cantos do Costão e da pedra do Pampo. De acordo com a coordenadora da Bandeira Azul, Leana Bernardi, o programa exige um histórico de medições nos últimos quatro anos para atestar que o local atende ao critério de boa balneabilidade.

— É uma surpresa. É a primeira vez que alguém não quer de forma tão veemente essa melhora ambiental na praia. Na Prainha do Rio, no primeiro momento, houve resistência por parte dos surfistas, mas hoje eles são nossos maiores parceiros — relata Leana. — Embora ganhe mais visibilidade, nossa experiência mostra que não ocorre um aumento violento na visitação. E quem vai atraído pelo selo tem um perfil diferenciado, consciente da questão ambiental.

EXPERIÊNCIA POSITIVA NA PRAINHA (RJ)

A Prainha, no Rio de Janeiro, hasteou em dezembro de 2012 a Bandeira Azul. Para atender aos critérios, a prefeitura do Rio investiu cerca de R$ 700 mil na melhoria dos banheiros, em sinalização e em novas rampas até a praia, também protegida, já que é considerada um Parque Natural Municipal (PMN) e integra uma Área de Proteção Ambiental (APA). A experiência carioca foi positiva, avalia Abílio Fernandes, gestor do PMN. Ele admite que houve certa desconfiança no início.

— Mas aconteceu justamente o contrário. Aqui no Rio, a prefeitura passou a dar uma atenção maior, disponibilizou mais gente para tomar conta. É a única praia com presença fixa dos guardas do Grupamento Especial de Praia (GEP). Se houver desordem, chuveiro quebrado, praia suja, a bandeira é arriada, e quem fiscaliza isso é a Associação de Amigos e Surfistas da Prainha (Asap) — explica Abílio, acrescentando que alguns dias de bandeira arriada levam à perda do selo.

A prefeitura de Niterói inscreveu no ano passado as praias de Itacoatiara e do Sossego para a fase piloto da Bandeira Azul. A partir dai, técnicos do programa visitaram os dois lugares e prepararam um relatório com recomendações de questões que precisam ser adequadas. A falta de banheiros é uma delas. De acordo com o Bandeira Azul, cabe ao município decidir com a comunidade qual o formato e local para instalação. O plano inicial era hastear a bandeira em Itacoatiara durante a Olímpiada, mas como ainda não foram feitas melhorias, a praia só poderá conseguir o certificado no ano que vem.