Cotidiano

Segurança em xeque: quase 50 baixas na polícia do Rio

atentado.jpgRIO – No meio da crise na segurança pública ? que viu 30% do orçamento deste ano
ser contingenciado e depende agora dos R$ 2,9 bilhões prometidos pela União para
os Jogos Olímpicos, a fim de quitar dívidas e pagar salários e gratificações ?,
a área sofreu na quinta-feira mais um baque. Dois sargentos foram executados, elevando
para 47 o número de policiais civis e militares mortos este ano no estado, em
serviço ou de folga.

Uma das vítimas foi Ericson Gonçalves do Rosário, de 34 anos, 14 na
corporação. Lotado na UPP de Manguinhos, ele participava de uma operação na
Favela do Jacarezinho, juntamente com policiais da unidade local, quando foi
baleado na cabeça, por volta das 11h. O militar estava dentro de um carro da
corporação quando foi atacado.

ericson.jpgSegundo testemunhas, bandidos que se escondiam no alto de
uma fábrica abriram fogo contra o comboio de PMs, que checava uma informação
anônima quando foi emboscado numa localidade conhecida como Garganta. Houve
confronto e, no tiroteio, o comerciante Manoel Avelino, de 51 anos, foi ferido
no peito. Ele morreu no Hospital Salgado Filho.

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse que o PM ?foi vítima
de um ato de terrorismo?.

? Uma torpe emboscada, sem chance de defesa. O objetivo dessas tocaias em
comunidades onde se busca um projeto de paz é criar a cultura do terror, do
medo. Essas tocaias devem ser tratadas como terrorismo, pois atentam contra a
vida, contra as instituições e contra o Estado ? disse Beltrame.

SOCIÓLOGO DEFENDE MUDANÇAS

Para ele, bandidos que matam policiais ou invadem
hospitais com granadas, como aconteceu no domingo no Souza Aguiar, não devem ter
direito à progressão de regime se forem presos e condenados:

? É preciso recuperar o caráter exemplar e pedagógico da
lei, que, infelizmente, não é mais temida pelo crime.

Em entrevista ao ?RJ-TV?, da Rede Globo, Beltrame disse que não abriria mão
dos R$ 2,9 bilhões federais ? que, segundo medida provisória da União, devem ser
aplicados na segurança pública ? em favor, por exemplo, da conclusão da Linha 4
do metrô:

? Esse dinheiro vem para mim, quero todo o dinheiro.

O sociólogo Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj,
defendeu uma mudança no modelo de segurança pública. Violência – 17/06

? Não vejo isso (o ataque no Jacarezinho) como um ato de terrorismo. Essa
definição não ajuda. Definir assim é chamar de terrorismo tudo que estamos
vivendo no Rio há várias décadas. Eu acredito que a questão não passa pelo
endurecimento penal, que para o traficante tem muito pouco impacto. O que temos
que fazer é repensar o modelo de segurança, investindo mais em ações sociais, em
política de segurança e em proteção dos policiais ? afirmou Ignácio Cano.

Para o antropólogo Paulo Storani, ex-capitão do Bope, o Rio vive uma onda de
violência, cujo alto preço é pago por policiais, comunidades e cidadãos de bem.
O especialista não acredita que criminosos estejam querendo provocar medo na
população, mas nos policiais que estão na linha de frente.

? A palavra terror é muito forte, porque pressupõe uma ação de provocar medo
nas pessoas. Se o secretário está adotando esse conceito, concordo parcialmente.
O que parece estar acontecendo é uma ação para atacar policiais deliberadamente
? disse, defendendo políticas públicas que diminuam a circulação de armas e
drogas.

Pelas redes sociais, moradores do Jacarezinho relataram momentos de pânico na
comunidade durante o ataque aos policiais, que aconteceu perto da Cidade da
Polícia. Após o confronto, o comandante-geral da PM, Édson Duarte dos Santos
Júnior, determinou que sejam realizadas operações no Jacarezinho, por tempo
indeterminado, para tentar localizar os criminosos.

O outro PM morto foi o sargento João Batista Simas
Junior, do 40º BPM (Campo Grande). Por volta das 6h30m, ele foi executado,
dentro de um carro, perto da estação do BRT de Mato Alto, em Guaratiba, deixando
em pânico passageiros que aguardavam condução. Há suspeitas de que o crime tenha
ligações com a disputa de território na região por milícias.

ÔNIBUS FOI ATINGIDO POR TIROS

O policial teve o carro fechado por bandidos que estavam em dois veículos e
fizeram pelo menos 21 disparos. Um homem que acompanhava o PM e não foi
identificado ficou ferido. Ele foi levado para o Hospital Municipal Rocha Faria,
em Campo Grande. Um ônibus do BRT que passava pelo local na hora foi atingido
pelos disparos e teve as janelas quebradas. Não havia ninguém dentro do veículo,
que fazia o trajeto Mato Alto-Alvorada no corredor Transoeste. Policiais da
Divisão de Homicídios investigam o crime. O sargento havia sido detido há três
semanas. Ele circulava num Frontier, de cor preta e placa clonada. O registro do
caso foi feito na 35ª DP (Campo Grande).