Opinião

Segunda ponte sob outro cenário

Por Carla Hachmann

Em março de 1965, Brasil e Paraguai inauguravam a Ponte da Amizade, importante marco de integração entre os dois países. Naquela época, ambos eram governados por militares (Castello Branco e Alfredo Strossner), mas as semelhanças acabavam aí.

Em franco desenvolvimento, o Brasil caminhava para a década de ouro e três anos depois registrava incríveis 11,4% de crescimento do PIB. Seu produto interno somava US$ 65 bilhões, e o PIB per capita era de US$ 739.

O Paraguai produzia modestos US$ 400 milhões e o PIB per capital nem chegava a US$ 185.

Agora, os dois países voltam a se dar as mãos para lançar oficialmente a construção da segunda ponte a poucos metros da cabeceira da primeira mas em condições completamente diferentes.

Nessas mais de cinco décadas, os dois países passaram pelo período de ditadura militar e conseguiram restabelecer a democracia. O Brasil se burocratizou cada vez mais enquanto o Paraguai manteve sua indústria de maquila e seu comércio à base da “la garantia soy yo”.

Hoje, ambos vivem cenários totalmente opostos.

Enquanto o Brasil patina para tentar voltar a crescer após forte recessão -com previsões inferiores a 1,5% de alta no PIB neste ano -, o Paraguai prevê crescer mais de 4%.

Para se ter uma ideia, ano passado o PIB per capita brasileiro ficou em US$ 8.186, e o do Paraguai registrou incríveis US$ 14.031.

Com sua política muito mais simplificada, o Paraguai vem atraindo indústrias brasileiras, que passam a ponte atrás de custos muito menores que os brasileiros. Já deste lado, a carga tributária continua consumindo um terço do PIB, pautada em uma complexa burocracia.