Cotidiano

Sede das Cias enfrenta a crise e se fortalece como espaço de resistência política e artística

INFOCHPDPICT000015322267RIO ? Desde agosto de 2013, o sobrado nº 10 localizado na Escadaria do Selarón, na Lapa, ganhou o nome de Sede das Cias., tornou-se um espaço aberto a atividades teatrais e um foco de resistência artística. Em paralelo a workshops, ensaios e apresentações, sobretudo de companhias dedicadas à experimentação, a Sede foi também palco de debates, reuniões do setor cultural e, no último fim de semana, da mostra Atos de Resistência, projeto que reuniu os dois esteios ? artístico e político ? que caracterizaram o lugar nos últimos três anos.

Neste ano, em meio às crises política e econômica enfrentadas pelo país, a Sede das Cias. se viu sem dinheiro e sob o risco de fechar as portas. Em junho, acabou o patrocínio de três anos estabelecido entre a Petrobras e a Cia. Os Dezequilibrados, um dos grupos estabelecidos no local, e que possibilitou ao diretor Ivan Sugahara e ao produtor Tárik Puggina coordenarem as ações no espaço, ao lado da Cia. dos Atores e da Pangeia Cia. Até agora, a Sede, que já apresentou mais de 80 espetáculos a preços populares, não conseguiu outro suporte financeiro, e segue com dificuldades para fechar suas contas.

Abaixo, o diretor Ivan Sugahara comenta as tentativas de manter a casa da Lapa em funcionamento e conta que precisou demitir ?quase toda a equipe? da Sede: ?Mantemos o espaço por ideologia, por acharmos que é importante ele continuar vivo?.

Como avalia esses três anos de ações, e como estão enfrentando esse momento?

Tudo começou ao ganharmos o edital da Petrobras de apoio a grupos e companhias, que estava previsto para durar até junho passado. O foco do patrocínio eram as atividades dos Dezequilibrados, a criação e a circulação das nossas peças. A manutenção da Sede era só uma parte do projeto, mas o apêndice virou a parte principal. Por isso, quando o contrato terminou, tentamos estender o patrocínio apenas para a Sede, a fim de garantir seu funcionamento. Mas não conseguimos, assim como tentamos e não fomos selecionados no edital do fomento (da prefeitura do Rio). Acho fundamental manter um lugar como esse aberto, numa cidade carente de espaços culturais, e sobretudo voltados para ações que fomentam o teatro de grupo, de pesquisa, e que abrem espaço para jovens criadores. Nesse tempo, acredito que a Sede tenha construído e consolidado um perfil de atuação e, também, um público cativo, e estamos empenhados em mantê-la viva.

Mas como a Sede tem se mantido e arcado com as suas despesas?

Tivemos de mandar embora quase toda a nossa equipe, e estamos trabalhando com muito pouca gente. Mantemos a Sede e pagamos contas e funcionários com aluguel do espaço para ensaios, oficinas e apresentações. Eu e o pessoal da Cia. dos Atores não ganhamos nada. Mantemos o espaço por ideologia, por acharmos que é importante ele continuar vivo. Temos trabalhado apenas para mantê-lo aberto.

A Sede é um projeto artístico que se tornou cada vez mais político, algo sintetizado na mostra Atos em Resistência. Como avalia a importância da Sede para o Rio?

A Sede se tornou importante para a cidade não só como um reduto para a cultura independente, mas como um local de resistência política. O movimento Teatro Pela Democracia nasceu na Sede, e a mostra (Atos de Resistência) é uma junção dessa resistência política com a artística. Foram quatro dias intensos, com muitos artistas passando por lá e trabalhando sem ganhar um real apenas para ajudar a Sede, por acreditar que ela é importante para o Rio, como uma resistência viva contra o avanço do conservadorismo, de todo o retrocesso, e contra o estrangulamento do setor cultural. É importante nos mantermos atuantes em meio a tantos revezes. Foi um ano em que as mobilizações artísticas e políticas cresceram, e por conta disso tivemos conquistas importantes, como a manutenção do Ministério da Cultura e da Secretaria de estado de Cultura. Agora a luta é para que a prefeitura pague neste ano o Programa de Fomento às Artes. Então esse espaço é importante porque nele a gente fortalece as nossas lutas comuns, a gente se fortalece diante de todas essas questões. Em 2017 a Sede vai seguir ativa, a partir de janeiro, mas estamos em busca de patrocínio, porque está difícil mantê-la. Precisamos muito de apoio.