Cotidiano

Secretário de Segurança do AM admite que governo monitorava facções criminosas

MANAUS – O governo do Amazonas divulgou na tarde desta quarta-feira que vinha monitorando ações de facções criminosas dentro e fora dos presídios do estado desde o início do ano passado. O fato vai de encontro às declarações dadas pelo governador José Melo (Pros), de que não havia indícios de um confronto pré-anunciado entre os grupos rivais. No último domingo, um massacre deixou 56 mortos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus.

Massacre Manaus – 04.01 II

Em material divulgado nesta quarta-feira pelo governo, o secretário Estadual de Segurança Pública (SSP-AM), Sérgio Fontes, relata que ?a questão do fato ocorrido não se tratou de apenas uma ameaça de fuga ou rebelião, já que os presos planejavam matar os rivais e assim o fizeram, antes mesmo da polícia chegar ao local?.

Ainda segundo Fontes uma ação integrada entre os órgãos resultou, em outubro de ano passado, na criação do Comitê de Gerenciamento de Crise do Sistema de Segurança Pública que conta com representantes estaduais, federais, dentre os quais a Polícia Federal, a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), a Polícia Rodoviária Federal, Forças Armadas e Corpo de Bombeiros.

– Ameaças de fugas e rebeliões são detectadas constantemente pelos órgãos de inteligência e do Sistema de Segurança Pública e sempre foram tomadas as providências necessárias. Em função delas que montamos um comitê em outubro ? declarou Fontes.

O comitê a que Fontes se refere foi criado justamente para monitorar e pensar ações de inteligência para a área de segurança pública e evitar, inclusive, rebeliões e conflitos em presídios que resultassem em mortes. Entre domingo e segunda-feira, 60 presos foram assassinatos em duas unidades prisionais. No texto divulgado à imprensa, Fontes comemora o fato do comitê ter salvo a vida dos reféns.

– Graças ao comitê salvamos todos os reféns – disse o secretário.

SUCESSÃO DE ERROS

O ministro da Justiça e Cidadania, Alexandre de Moraes, disse nesta terça-feira que não era o momento para avaliar eventuais falhas ou culpados. Já na manhã desta quarta-feira, ele admitiu, em conversa com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, em Brasília, que houve uma ?série de erros?, mas que as investigações deverão analisar o caso.

O ministro da Justiça que as autoridades do Amazonas sabiam previamente que detentos do Complexo Penitenciário Anísio Jobim planejavam uma fuga entre o Natal e o Ano Novo. Ele afirmou que, a partir da informação, a Secretaria de Segurança estadual reforçou o monitoramento no presídio.

? Há relatos de que a Secretaria de Segurança tinha informações de que poderia ocorrer uma fuga, de que estaria sendo planejada uma fuga entre o Natal e o Ano Novo. Exatamente por isso, segundo as autoridades locais, foi reforçada a segurança local e eles passaram a monitorar dia a dia ? disse Moraes.

Moraes, porém, atribuiu a rebelião a um ?somatório de fatores?: além do plano de fuga e da briga de facções, ele mencionou a permissão para visitas durante o réveillon.

* Especial para O GLOBO