Cotidiano

Saúde pública: Paraná é o que mais paga em internações SUS e UTI

Para especialista, pode estar havendo subutilização de leitos convencionais para o uso de leitos que pagam mais

Mais de 11 mil pessoas passaram por cirurgia bariátrica ano passado no Paraná/ Foto: Divulgação
Mais de 11 mil pessoas passaram por cirurgia bariátrica ano passado no Paraná/ Foto: Divulgação

Reportagem: Juliet Manfrin

Cascavel – Um levantamento inédito feito com o cruzamento de dados do DataSUS, do Ministério da Saúde e o do IBGE, pelo site auditasus traz informações que chamam a atenção sobre a hospitalização dos paranaenses.

O Paraná está no topo do ranking brasileiro quando o assunto são os gastos com UTI e gastos gerais em internações pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

“Como ciência de dados também deve ser criatividade, criei um indicador de saúde pública. Já é possível saber quanto se paga por dia pelas internações SUS no seu estado”, explica o criador do Site, o auditor independente do sistema de saúde Eduardo Benoliel.

Entre os pontos que mais chamam a atenção é que o Estado até aumentou a oferta de leitos de UTI pelo SUS, saindo de 1,032 leito para cada 10 mil habitantes em 2009 para 1,555 em 2018, mas o número de diárias pagas em unidades de terapia intensiva disparou desproporcionalmente. “Se formos perscrutar os gráficos no que diz respeito a custo de UTI e aumento da quantidade de leitos de UTI, é possível ver que se pode estar usando UTI para superfaturar internações”, alerta o auditor.

Para os cálculos, são usadas as internações SIH/SUS (Sistema de Internações Hospitalares) no seguinte escopo: Brasil; unidades da Federação e municípios – considerando apenas os 319 que têm mais de 100 mil habitantes. “Consideram-se ainda os 4.342 estabelecimentos de saúde que, em algum ano, de janeiro de 2009 a dezembro de 2018, faturaram, em média, mais de 50 internações por mês. Esses 4.342 hospitais não estão necessariamente estabelecidos fisicamente nos 319 municípios com mais de 100 mil habitantes”, observa.

Subutilização de leitos

“Na evolução da taxa de ocupação por estado, ano a ano, é possível ver uma alta da subutilização de leitos comuns [não SUS] em internações SUS em todo o Brasil, mas os paranaenses são os brasileiros que mais pagam pelas internações com UTI pelo SUS”, destacou. “O Paraná perdeu em nove anos 14,85% de leitos SUS (não UTI) e, no mesmo período, aumentou seus leitos UTI-SUS em 50,7%”, pontuou Eduardo Benoliel.

Para o especialista, entre os pontos que contribuem para a chegada dessas condições estão as más gestões nas três esferas do SUS: municipais, estaduais e federal. “Gerir verba do SUS é o sonho de qualquer gestor mal intencionado”, completa.

No Paraná, de 2009 a 2018 houve um aumento do uso de UTI em internações SUS de 73,83% (uso de UTI equivale ao percentual de diárias de UTI pagas em relação ao total de dias de internação pagos).

Nesse mesmo período, o Paraná teve um aumento de 9,59% na quantidade de internações SUS faturadas e um aumento de faturamento de 83,11%.  Registra-se que, de 2009 a 2018, o valor médio de uma diária de UTI-SUS paga no Paraná variou de R$ 546,61 a R$ 565,40, ou seja, aumento de apenas 3,43%.

“Como num universo em que o custo de uma diária aumenta 3,43%, a quantidade de internações aumenta 9,59% e os custos com internação aumentam 83,11%, a conclusão é de que o aumento do uso de UTI em internações SUS – que foi de 73,83% – torna-se o único fator de aumento dos custos SIH/SUS no Paraná”, destacou.

Fraude?

Sendo assim, se houve fraude na cobrança pondo pacientes em UTI sem a real necessidade para supostamente superfaturar AIHs (Autorização de Internação Hospitalar), há caracterização de ao menos dois crimes considerados gravíssimos, um contra o erário e outro contra a saúde pública.

Como uma diária de UTI pelo SUS é até seis vezes mais cara que uma diária não UTI, pode-se inferir que o aumento do uso de UTI em internações SUS pode estar sendo usado para aumentar os faturamentos SIH/SUS no Ministério da Saúde.

Dentro dessa hipótese, alerta o especialista, há possibilidade de estabelecimentos em saúde cobrarem por diárias de UTI para internações de pacientes que não tiveram aquele tratamento diferenciado. Ou que colocaram pacientes em leitos de UTI mesmo sem a real necessidade desse tipo de cuidado.

Leitos convencionais

Outro ranking que o Estado lidera é o de internações nos leitos convencionais SUS.

Considerados os municípios de forma isolada, da lista dos 30 que mais gastaram com SIH/SUS em dezembro de 2018, quatro são paranaenses, inclusive o líder e o vice-líder. Essas duas posições são ocupadas por Campo Largo (com 130 mil habitantes, 24 mil diárias de internação faturadas e quase R$ 17,7 milhões pagos por elas), que lidera com US$ 1,197 custo por habitante/dia, e Arapongas (121 mil habitantes, 8,4 mil diárias e R$ 6,9 milhões faturados), com custo de US$ 0,503.

Na 17ª posição dessa lista aparece Cascavel, com pouco mais de 324 mil habitantes, 12.529 diárias e gastos de mais de R$ 6,5 milhões somente no último mês do ano passado, cujo custo habitante/dia ficou em US$ 0,178.

A outra paranaense que figura nessa relação é Londrina, na 26ª posição, com quase 564 mil habitantes 31 mil diárias e recursos que somaram R$ 9,2 milhões em internamentos em leitos do SUS.

O Paraná é o estado que mais se destaca na lista das unidades da Federação que mais custaram ao SIH/SUS em todo o País em dezembro passado, com mais de 68,7 mil diárias faturadas a um custo total de R$ 115,3 milhões.

A Secretaria de Estado da Saúde foi procurada pela reportagem do Jornal O Paraná há cerca de dez dias. A reportagem enviou os dados e os questionamentos sobre o assunto. O retorno do secretário Carlos Alberto Gabrim Preto e de técnicos da Sesa chegou a ser confirmado à reportagem, o que não aconteceu até o fechamento desta edição.

Clique aqui e tenha acesso as tabelas completas e outras informações. 

Paraná realiza 58,6% das cirurgias bariátricas pelo SUS

Curitiba – O Paraná realizou ano passado 6.692 cirurgias bariátricas pelo SUS, o que representa 58,6% dos 11.402 procedimentos realizados no Brasil para o tratamento da obesidade. O Estado conta com 13 hospitais credenciados para atendimento público e realiza cerca de 30 mil cirurgias por planos de saúde.

Para que se tenha ideia, São Paulo – 2º colocado – realizou no mesmo período 1.600 procedimentos, seguido por Minas Gerais, com 938. Os dados são do serviço de informações hospitalares do SUS (SIH/SUS).

Já os dados da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica) apontam que a população elegível a cirurgia no Brasil é de 4,9 milhões de pessoas, sendo 3,5 milhões pelo SUS.

Via planos de saúde, em 2017, foram realizadas 100 mil cirurgias no País.

Congresso

O cenário da obesidade no Brasil e os novos tratamentos para controle da doença serão debatidos entre os dias 15 e 18 de maio, durante o 20º Congresso Brasileiro de Cirurgia Bariátrica, realizado pela SBCBM, em Curitiba. “Hoje a obesidade e as doenças associadas a ela, como a diabetes e a hipertensão, estão sendo tratadas como o mal do século por médicos e especialistas no mundo todo”, afirma o presidente da SBCBM, Marcos Leão Vilas Boas.

Já estão inscritos no Congresso – que acontece no Expo Unimed –  mais de 1,8 mil profissionais entre cirurgiões, edocrinologistas, nutrólogos, educadores físicos, fisioterapeutas, psicólogos, psiquiatras, nutricionistas e outras especialidades envolvidas no tratamento da obesidade

Números

Em 2017, cerca de 39,5 milhões de brasileiros foram diagnosticados com obesidade, 78% a mais que em 2006. O custo estimado para o tratamento das consequências da obesidade é de R$ 84,3 bilhões/ano.

O Brasil é o segundo país do mundo em número de cirurgias bariátricas realizadas, perdendo apenas para os Estados Unidos.

A cirurgia realizada imediatamente após sua indicação contribui para a cura ou a remissão de diversas doenças associadas à obesidade como, por exemplo, a hipertensão, problemas nas articulações, coluna e diabetes tipo 2.