Cotidiano

Santos, um líder audaz em busca da paz

RIO ? Juan Manuel Santos não se contentou em ser eleito presidente duas vezes da Colômbia. Seu objetivo era a paz, um sonho que foi frustrado pelo ?não? dos colombianos ao acordo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Mas ele não desistiu e prometeu voltar à mesa de negociações, cedendo, inclusive, para o seu principal adversário, o ex-presidente Álvaro Uribe.

Santos conseguiu um dos feitos históricos mais importantes para a Colômbia na atualidade: assinar um acordo de paz com as Farc, depois de mais de 50 anos de conflito armado. Apesar de o pacto ter sido rejeitado em referendo realizado no último domingo, ambas as partes se mostraram determinadas a continuar as conversas, e Santos abriu o diálogo com a oposição para rever alguns pontos do acordo.

Santos tem 65 anos e se formou em Harvard. Ele vem de uma das famílias mais ricas da Colômbia, segundo a agência Associated Press. Como ministro da Defesa há uma década, ele foi responsável por alguns dos maiores reveses militares dos rebeldes das Farc, incluindo uma incursão em 2008 na região da fronteira com o Equador, que resgatou três americanos que eram mantidos em cativeiro havia mais de cinco anos.

Antes de iniciar sua carreira política como ministro de Comércio Exterior do então presidente César Gaviria, em 1991, ele atuou no jornalismo no jornal ?El Tiempo?, então propriedade de sua família. Ganhou o Prêmio Rei da Espanha com uma crônica sobre a Revolução Sandinista na Nicarágua.

?Esse trabalho nos marcou profundamente?, disse o presidente sobre a pesquisa que realizou com seu irmão Enrique Santos, também fundamental no processo de paz com as Farc, formalmente estabelecido em Havana em novembro de 2012. Conversas confidenciais, no entanto, começaram ainda no primeiro mandato de Santos, em 2010.

Quando estreou na Casa de Nariño, o Palácio Presidencial, este político que se define como ?extremo-centro? já tinha traçado o caminho para uma solução negociada para o conflito armado.

Antes, como ministro da Defesa de seu antecessor, Álvaro Uribe, perseguiu as Farc com crueza implacável. Depois de decapitar a sua cúpula, se preparava para falar a partir de uma posição de força.

? Fez a guerra para alcançar a paz ? dizem analistas.

A sua mudança de rota lhe custou críticas de ?traidor? à doutrina linha-dura de Uribe, que desde então se tornou seu adversário mais feroz.

Ele negou que buscava coroar com o Prêmio Nobel da Paz a sua cruzada pela reconciliação da Colômbia, assolada por décadas de violência de guerrilhas, paramilitares e forças do estado que causaram oito milhões de vítimas, incluindo 260 mil mortos.

? Eu não busco aplausos. Quero fazer o certo ? afirmou.