Cotidiano

Santos não aceita demissão de chefe da negociação com as Farc

BOGOTÁ ? O presidente Juan Manuel Santos rejeitou a entrega do cargo pelo chefe negociador do governo colombiano com as Farc, Humberto De La Calle, que pediu demissão um dia após os colombianos rejeitarem o acordo de paz com as Farc. De La Calle, que seria a primeira baixa do Executivo após a derrota no referendo de domingo, defendeu “união” e um “acordo nacional”. farc

? O presidente nos disse que não mudará seu chefe negociador, em quem confia totalmente. Todas as chefias dos partidos expressaram que De La Calle é o melhor para este posto e que não poderia ser aceita a saída ? disse Armando Benedetti, presidente do partido De La U, um dos principais opositores do governo e quem manteve um encontro com o chefe de Estado após a vitória do “não” na consulta popular.

No encontro, Santos disse que será criada uma comissão de alto nível para um diálogo multilateral com os setores que deram apoio ao “não”, como o Centro Democrático (do ex-presidente Álvaro Uribe) e outras forças políticas.

Mais cedo, De La Calle disse que “os erros que cometemos são de responsabilidade exclusivamente minha”.

? Assumo plenamente a responsabilidade política. Consequentemente, vim dizer ao presidente que coloco a sua disposição meu cargo de chefe da delegação, porque não serei obstáculo para o que se seguir ? disse De La Calle a jornalistas a partir da Casa de Nariño, o palácio presidencial em Bogotá.

Em resposta ao resultado do referendo, o negociador considerou que ?a paz não foi derrotada?, observando que apesar das objeções ao acordo, a oposição também tem o desejo de paz. Ele ressaltou ainda que respeita opiniões contrárias, mas defendeu que é o ?momento de união? e que é preciso buscar um ?acordo nacional?. De La Calle assegurou que continuará trabalhando pela paz ?sem pausa no lugar onde possa ser útil?.

Os cinco pontos do acordo de paz que Uribe quer renegociar

A rejeição ao acordo foi recebida com surpresa na Colômbia e na comunidade internacional. Pesquisas anteriores indicavam vitória do “sim” no referendo de domingo. O revés, inesperado para o governo e para o líder máximo das Farc, Rodrigo Londoño (“Timochenko”), levou ambos a buscarem uma nova saída política para o conflito armado.

? Reafirmamos diante da Colômbia e do mundo que nossas frentes em todo o país permanecerão em cessar-fogo bilateral e definitivo como uma necessária medida de alívio às vítimas do conflito e em respeito ao acordado com o governo ? disse Timochenko, em um vídeo gravado em Havana, onde ocorreram as negociações de paz dos últimos quatro anos.

De acordo com Timochenko, o acordo final é “irrevogável” porque já havia submetido a uma corte em Berna como parte de um acordo humanitário previsto pelas Convenções de Genebra.

? O referendo não tem efeito legal, de qualquer maneira, porque os acordos já haviam sido assinados.

Nesta segunda-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, anunciou em Genebra que decidiu enviar um emissário especial a Havana para ?consultas?. Foi na capital cubana que o acordo de paz foi negociado durante quatro anos.

? Esperávamos um resultado diferente, mas estou encorajado pelo compromisso expressado pelo presidente Juan Manuel Santos e pelo comandante Rodrigo Londoño (Timochenko). Para apoiá-los, enviei urgentemente meu representante especial Jean Arnault a Havana para continuar suas consultas ? anunciou em entrevista coletiva em Genebra.

Negociador coloca cargo à disposição

A vitória do “não” está sendo considerada um duro golpe ao governo de Santos, colocando em dúvida o processo para superar meio século de violência.

O resultado apertado das urnas ? 50,21% para o “Não” e 49,78% para o “Sim” ? evidenciou ainda um país dividido sobre como alcançar a paz.

Quase 34,9 milhões de colombianos estavam registrados para comparecer às urnas. Mas o voto não era obrigatório e o índice de participação foi de apenas 37,43%. Colômbia inicia semana em choque após o ‘não’ vencer em referendo sobre as Farc