Cotidiano

Sanepar diz que não vai desassorear Lago e Paranhos fala em municipalizar sistema

Sanepar diz que não vai desassorear Lago e Paranhos fala em municipalizar sistema

Sem esconder sua irritação, o prefeito de Cascavel, Leonaldo Paranhos, divulgou, via transmissão ao vivo por suas redes sociais, que a Sanepar se recusou a desassorear o Lago Municipal, desautorizou o Município a fazê-lo e ainda disse que vai monitorar a qualidade da água do Rio Cascavel. “Depois de muito tempo a Sanepar diz que não vai fazer o desassoreamento”, resume Paranhos, que acrescenta: “Entendo essa insinuação como uma ameaça e não sou moleque para receber ameaça”.

Um dos principais cartões-postais de Cascavel, o Lago Municipal vem há dois anos agonizando com o avançado grau de assoreamento evidenciado pela estiagem prolongada que assola o Paraná. É que o local é um reservatório da Sanepar, que passou a utilizá-lo quando os mananciais baixaram de vazão. Há um mês, o nível do lago estava 2,7 metros abaixo do normal. Com as chuvas de dezembro, havia subido um metro, ainda insuficiente para esconder as imensas ilhas que já estão até cobertas de vegetação.

Paranhos apresentou uma resposta da estatal a um pedido de desassoreamento. Apesar de várias tratativas e de o assunto ser abordado constantemente, nesse documento a Sanepar parece se recusar a desassorear o lago, proíbe a prefeitura de fazê-lo e ainda alerta que passará a monitorar para denunciar às autoridades qualquer intervenção.

“Recebi há menos de um mês um documento extenso, e vou direto ao tema: no item 16, ‘em razão das considerações descritas, em que pesem os esforços da Sanepar, no sentido de possibilitar a obtenção de elementos técnicos para a tomada de decisão’ – está se referindo ao desassoreamento -, ‘registra que não cabe à Sanepar deliberar ou autorizar intervenções nas bacias de mananciais, especialmente o desassoreamento do lago’, diz que não cabe a eles nem de fazer nem de legislar”, cita Paranhos, que segue a leitura: “Registra-se que a prefeitura é responsável pela manutenção do Lago Municipal e, uma vez que a decisão é de fazer o desassoreamento, a Sanepar informa que intensificará o monitoramento da qualidade da água, em especial do Rio Cascavel, e alertará as autoridades e demais interessados caso ocorram situações adversas aos recursos hídricos, os quais possam ocasionar descontinuidade do abastecimento da cidade”.

O documento, segundo o prefeito, é assinado por Julio Cesar, diretor de Meio Ambiente e Ação Social, a quem Paranhos mandou um recado: “Está dizendo que vai monitorar a prefeitura se fizer o desassoreamento do Lago. Depois de muito tempo, de anos, vem uma resposta dessas que eles não vão fazer, que não autorizam a prefeitura a fazer, e que vão monitorar a qualidade da água. Quero mandar um recado para esse Julio: A água nossa está em péssima qualidade. Comece agora a fazer o monitoramento desta água, que, aliás, contaminou mais de 60 mil pessoas em Cascavel. E acho que deveria rever sua posição e fazer uma proposta de parceria com o Município de Cascavel para fazer o desassoramento ou vocês não têm interesse no reservatório do Lago? Eu entendo essa insinuação sua como uma ameaça e não sou moleque para receber ameaça”.

 

Mais de 60 mil contaminados

Logo no início da transmissão, Leonaldo Paranhos lembrou do surto de diarreia que afetou Cascavel no fim de 2018 e início de 2019, quando mais de 60 mil pessoas adoeceram. Na ocasião, foi preciso que o Ministério da Saúde viesse investigar o caso, quando alertou que o problema estava na água encanada, o que sempre foi negado pela Sanepar.

“A gente vem cooperando, pedindo, implorando à Sanepar para que mude seu comportamento”, disse o prefeito, chamando de “descaso” o tratamento dispensado à população local.

Ele seguiu: “Aliás, aquela contaminação lá atrás, descobrimos que a Sanepar usa filtros ultrapassados. A contaminação de rios tem se elevado muito, pelo perfil dos agrotóxicos, dejetos, e a Sanepar não avançou com a mesma velocidade que tinha que avançar. Os filtros que usa são ultrapassados, de muitos anos, e, lamentavelmente, isso tem trazido problemas”.

Paranhos lembrou então que a Sanepar chegou a fazer o desassoreamento do Lago, pouco depois de assinar o contrato para mais 20 anos de concessão, em 2004. “Já no passado, a Sanepar fez o desassoreamento do lago, que foi muito mais uma piada que um desassoreamento. Foi feito um investimento, tenho esses dados aqui, do que foi gasto, e pouco tempo depois está tudo aí. Venho há tempos pedindo, estive em Curitiba, falei com a diretoria sobre uma ação da Sanepar, até porque o Lago é responsabilidade do Município, mas o reservatório é da Sanepar. Não é possível que a Sanepar, a única empresa que vende água em Cascavel, não tenha interesse em preservar seu grande reservatório. Estou pedindo o desassoreamento há muito tempo, fizemos um acordo verbal, era para ter acontecido ano retrasado, não aconteceu, ano passado não aconteceu”.

 

Prefeito sugere municipalizar sistema

Após ler o trecho do documento sobre a recusa em desassorear o Lago, o prefeito Leonaldo Paranhos sugere que vai endurecer o jogo para a continuidade da Sanepar em Cascavel, cujo contrato de concessão termina em 2024. “Entendo que a Sanepar não tem interesse em continuar com a concessão da água, e então quer dizer que podemos aqui fazer uma concessão para uma empresa privada, ou o Município encampar a estrutura que tem e passar a ser a operadora do sistema de água. Vou pedir neste momento para que a nossa assessoria faça um estudo sobre isso. Pelo que estou vendo, a Sanepar não tem mais interesse em continuar abastecendo a cidade de Cascavel. Primeiro por essa forma terrível de tratar a Prefeitura de Cascavel e os nossos moradores. Problemas nos hidrômetros, ar na rede…”, e finaliza: “Vamos jogar o jogo que tem que ser jogado”.

 

Outro lado

A reportagem questionou a Sanepar a respeito do posicionamento sobre o desassoreamento e as falas de Paranhos, mas a assessoria informou apenas que a empresa não irá se manifestar.