Cotidiano

Saneatins abre investigação sobre fornecedora usada para pagar propina

SÃO PAULO. A Saneatins e a Odebrecht Ambiental S.A informaram ter dado início a um processo de investigação interna sobre a ligação da empresa com uma de suas fornecedoras, a DAG Construtora, suspeita de ser usada para negócios ilícitos da Odebrecht. A decisão foi motivada por matéria publicada na última terça-feira no site do jornal O GLOBO, que mostrou indícios de que a DAG tenha sido usada pela Saneatins para pagar propina a agentes públicos. Nesta semana, 70% da Odebrecht Ambiental foi vendida para o fundo canadense Brookfield.

?Apesar da relação entre a Saneatins e a DAG Construtora Ltda. ser uma relação entre empresas privadas, a Companhia e a Odebrecht Ambiental, reiterando seu compromisso com a transparência, darão início imediato a um processo de averiguação interna sobre os fatos narrados na notícia em questão?, escreveram Saneatins e Odebrecht Ambiental no comunicado ao mercado.

De acordo com a empresa, o plano de negócios da companhia ?contempla a realização de investimentos voltados para a melhoria e ampliação dos serviços de saneamento nos municípios onde atua como concessionária superiores a R$700 milhões?. Segundo o comunicado, para implementar seus investimentos a empresa ?contrata diversas construtoras de médio porte, dentre as quais as mencionadas na referida notícia?.

Ao vender 70% da Odebrecht Ambiental para a Bookfield, os controladores foram obrigados a incluir cláusulas que mantém sob domínio da Odebrecht a responsabilidade sobre eventuais crimes cometidos em interesse da empresa. Executivos da Odebrecht fecharam acordo com o Ministério Público Federal (MPF), que ainda depende de homologação da Justiça. Nesta sexta-feira, a Brookfield não quis comentar a relação entre a empresa adquirida e a DAG Construtora, nem a investigação aberta para apurar o caso.

Uma planilha apreendida pela Polícia Federal mostra que contratos da Odebrecht com três fornecedoras ? a DAG Construtora, SPE Sanear e Construtora Saga ? serviam para viabilizar pagamentos de interesse do grupo baiano, como doações eleitorais e pagamentos em espécie a pedido da Saneatins. As três empresas são vinculadas a pagamentos da concessionária de água ao lado de uma observação: ?terrenos, pagamentos diversos e 450.000 (espécie)?.

O mesmo documento menciona outros contratos da Odebrecht com a DAG Construtora ? empresa onde ele foi apreendido ?, cujo objeto é locação de equipamentos. A PF suspeita se tratar de ?contrato superfaturado a fim de possibilitar o repasse de valores a título de doação?. Em outro pagamento da Odebrecht para a DAG, o autor da planilha, ainda não identificado, registrou: ?ver contrato, majorado para doação eleitoral e em R$?, seguido do comentário: ?com certeza 440.000 + 670.000 sai daqui (espécie ou doação, acho que doação)?. O papel faz distinções para cada despesa: ?valor faturado x medido x desviado?.

Por trás das três parceiras da Odebrecht contratadas pela Saneatins está uma pessoa: Demerval Gusmão, amigo e parceiro de negócios de Marcelo Odebrecht. A Lava-Jato já sabe que as empresas também eram porta de saída para ocultar atividades ilícitas da empreiteira, em atuação paralela ao setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, que ficou conhecido como o setor de propinas.

A DAG Construtora foi usada pela empreiteira para bancar despesas de avião do ex-presidente Lula em 2013 e para comprar um prédio oferecido ao Instituto Lula em 2010. A empresa também pagou pelo menos R$ 1,6 milhão ao lobista Fernando Baiano, acusado de ser operador de propinas para dirigentes do PMDB, em 2009 e 2010. Pagou ainda R$ 800 mil para Glaucos da Costamarques no fim de 2010, suspeito de ser laranja na compra de um apartamento para uso do ex-presidente Lula em São Bernardo do Campo (SP).

A relação da DAG e da Saga com a Saneatins é forte a ponto de a concessionária de água citá-la como responsáveis por parte dos ativos da companhia na demonstração financeira encaminhada à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Em dezembro de 2014 eram R$ 30,5 milhões e, em dezembro de 2015, R$ 12,4 milhões ? o que significa ter havido uso por parte da Saneatins de pelo menos R$ 18 milhões provenientes das duas empresas no ano passado.