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Saiba por que a seleção escolheu se preparar em Quito para jogo contra o Equador

QUITO – Ser nascido, criado e treinado em cidades altas dá ao atleta um vantagem física em jogos disputados na altitude. No entanto, em um mês, tal vantagem de desfaz. O que significa que, na quinta-feira, pelo menos 22 dos 31 convocados pelo Equador para o jogo das eliminatórias estarão sujeitos aos mesmos sintomas que os jogadores da seleção brasileira: sentir-se ofegante em determinados piques, ter alguma dificuldade de recuperação e até lidar com dores de cabeça e mal-estar nas primeiras noites em Quito, durante a concentração para o jogo.

Equador x Brasil nas eliminatórias

Neste mundo globalizado, a avaliação de danos de uma equipe que viaja para uma cidade alta mudou. Em especial na capital equatoriana, com seus 2.800m acima do nível do mar, considerada uma “baixa altitude” pelos estudiosos. No entendimento do preparador físico Fábio Mahseredjian, a seleção estaria sujeita a um prejuízo mais técnico do que físico caso utilizasse o método tradicional: concentrar-se em Guayaquil, ao nível do mar, e viajar apenas no dia do jogo. Em geral, os efeitos da altitude se agravam após 12 horas de permanência na cidade, piorando nos dias seguintes, até que se inicie a adaptação, que demanda um prazo longo. Mas, em Quito, o prejuízo físico é menor.

– Não vamos disputar uma maratona, uma corrida de longa distância. O futebol é essencialmente técnico. Assim, vamos treinar três dias, o jogador vai se habituar à velocidade da bola, que é a grande diferença – afirma Mahseredjian, lembrando o alto índice de gols sofridos em bolas paradas por equipes com pouca adaptação a cidades altas.

Hoje, quase todo o elenco equatoriano pode ser considerado não adaptado à altitude. Dos 31 relacionados pelo técnico Gustavo Quinteros, 13 jogam no exterior, em cidades sem altitude da Europa, México ou América do Sul. Outros nove atuam em Guayaquil. Assim, mesmo os que nasceram em regiões altas do Equador e iniciaram suas carreiras nestas condições, perderam sua adaptação. Não há, como explicou Mahseredjian, uma reserva orgânica, uma memória do corpo para assegurar um bom desempenho.

Então, o que explicaria o fato de o Equador ter desempenho tão melhor em casa do que fora de Quito? Nas eliminatórias da Copa de 2014, o time ganhou 22 dos 24 pontos jogados em casa. Como visitante, ganhou só três. Uma das razões é justamente técnica, o hábito de jogar com a bola se deslocando mais rapidamente.

– Outra questão é que o atleta equatoriano sabe o que vai encontrar, sabe que vai ficar ofegante, quais os sintomas – afirma o preparador.

É como se o jogador da casa não se assustasse, não se impressionasse, além de saber administrar seus piques durante um jogo de alternâncias de ritmo como é o futebol. Mas, na prática, Brasil e Equador devem jogar em condições quase iguais na quinta-feira. Apenas dois dos 31 convocados jogam em Quito, outros três são do Independiente del Valle, sediado em Sangolquí, cidade 2.500m acima do nível do mar, um pouco mais baixa do que a capital. Na mesma altura está Cuenca, que tem um representante na seleção, além de três jogadores que atuam na Cidade do México, a 2.250m de altitude. Entre eles, Fidel Martínez, possivelmente o único jogador em atividade na altitude a ser titular.

– Haverá alguns efeitos, como dor de cabeça. Mas são efeitos muito menores do que em La Paz, por exemplo, que está a 3.600m. Lá se o atleta permanecesse três dias treinando, ocorreria sangramento de nariz, náusea, vômito. Seria impossível ter esta estratégia. Aqui, após conversa com a comissão técnica, estamos privilegiando a questão técnica – afirma Mahseredjian. Em todo caso, mesmo prevendo efeitos colaterais leves, a seleção recebeu ontem, no hotel, dois cilindros de oxigênio, encomendados na chegada ao país.

Mahseredjian acredita ser improvável que os jogadores recorram ao oxigênio. Ficar em Quito ajuda, ainda, a desmistificar a questão da altitude. A operação de ir para Guayaquil e voar no dia do jogo para a capital poderia preparar os jogadores para uma situação pior do que a real. Sem falar no prejuízo de não treinar em Quito, perdendo a adaptação à velocidade da bola.

OS CONVOCADOS

Goleiros: Alisson (Roma-ITA), Marcelo Grohe (Grêmio), Weverton (Atlético-PR)

Zagueiros: Gil (Shandong Luneng-CHN), Marquinhos (Paris Saint-Germain-FRA), Miranda (Internazionale-ITA), Geromel (Grêmio)

Laterais: Daniel Alves (Juventus-ITA), Fagner (Corinthians), Filipe Luis (Atlético de Madrid-ESP), Marcelo (Real Madrid-ESP)

Meias: Casemiro (Real Madrid-ESP), Giuliano (Zenit-RUS), Lucas Lima (Santos), Paulinho (Guangzhou Evergrande-CHN), Philippe Coutinho (Liverpool-ING), Rafael Carioca (Atlético-MG), Renato Augusto (Beijing Guoan-CHN), Willian (Chelsea-ING)

Atacantes: Gabriel Barbosa (Santos), Gabriel Jesus (Palmeiras), Neymar (Barcelona-ESP), Taison (Shakhtar Donetsk-UCR)