Agronegócio

Safra de grãos pode chegar a 23,4 milhões de toneladas

O volume representa um acréscimo de aproximadamente 100 mil toneladas em relação à estimativa anterior, e um aumento de 19% na comparação com a produção da safra paranaense 2018/2019, que foi de 19,7 milhões. A expectativa é de manutenção da área plantada em seis milhões de hectares.

Foto - Foto: Geraldo Bubniak/ANPr
Foto - Foto: Geraldo Bubniak/ANPr

A safra de grãos de verão 2019/2020 deve atingir 23,4 milhões de toneladas, segundo estimativa mais recente do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, divulgada quarta-feira (25). O volume representa um acréscimo de aproximadamente 100 mil toneladas em relação à estimativa anterior, e um aumento de 19% na comparação com a produção da safra 2018/2019, que foi de 19,7 milhões de toneladas. A expectativa é de manutenção da área plantada em seis milhões de hectares.

No relatório deste mês, destaca-se a grande área de soja, quase 5,5 milhões de hectares, com aumento de 1% com relação da safra passada. Ainda assim, a soja é responsável por 91% da área total de grãos de verão. “Também chama a atenção a redução da área de milho na primavera, um fator preocupante, pois coloca a garantia do suprimento do consumo brasileiro e das nossas exportações na dependência da segunda safra”, diz o secretário estadual da Agricultura, Norberto Ortigara.

As condições climáticas no Paraná acabaram atrasando o plantio de culturas como a soja, o milho e o feijão. Se o clima colaborar, há chances de recuperação da produtividade, e consequentemente um aumento de produção. “A safra tem boa perspectiva. Estávamos com uma seca severa, mas a umidade foi restabelecida em praticamente todo o Estado, permitindo uma semeadura, especialmente de grãos de primavera, com mais tranquilidade”, afirma o chefe do Deral, Salatiel Turra.

SOJA – O clima seco do início de setembro atrasou o plantio de soja no Paraná, que está com 3% da área plantada, totalizando 175 mil hectares. No mesmo período do ano passado, esse índice atingiu 18% – cerca de um milhão de hectares. “Apesar de ser uma situação incômoda para o produtor, ainda é melhor do que ter plantado boa parte da soja e depois enfrentar seca. Se chover, é possível retomar o ritmo do plantio”, explica o economista do Deral, Marcelo Garrido. “Quem tem prejuízo é o produtor que desejava plantar mais cedo para adiantar o plantio do milho na segunda safra. Agora o clima precisa contribuir”.

Segundo Garrido, as regiões com maior área plantada até agora são Campo Mourão, com 68 mil hectares; Pato Branco, com 50 mil hectares; Toledo, com 24 mil hectares; e Cascavel, com 15 mil hectares, todos com o índice abaixo da média. A partir de agora, é preciso acelerar o plantio, principalmente na região Oeste. A tendência é que se confirme a área de 5,5 milhões de hectares e a produção estimada em 19,8 milhões de toneladas, se o clima colaborar. A comercialização da soja está em 15%, índice semelhante ao da safra passada.

Os preços reduziram de R$ 80,00 em 2018 para R$ 73,00 agora. A alta do dólar tem sido um dos fatores determinantes para segurar o preço da soja, que está satisfatório para os produtores que exportam. No entanto, com a peste suína, a demanda da China ainda é uma incógnita, pois a doença tem sido responsável pelo abate de boa parte do rebanho no país, com possível impacto na compra do produto brasileiro.

MILHO PRIMEIRA SAFRA – O clima também atrasou o plantio do milho, que atingiu apenas 39% da área, aproximadamente 140 mil hectares. No ano passado, o Paraná tinha 60% da área plantada, totalizando 200 mil hectares.

A previsão para a safra 2019/2020 é de 336 mil hectares, estimativa 6% menor do que na safra anterior. A produção é estimada em 3,1 milhões de toneladas. Com condições de clima mais favoráveis, o milho pode atingir as expectativas, com a produção expressiva da segunda safra. Os preços estão em R$ 27,00 a saca de 60 kg, sendo que no mesmo período do ano passado era comercializada por R$ 32,00. Essa queda se justifica pela oferta maior, já que no ano passado a segunda safra teve bons resultados, impulsionada pelo clima favorável e pelo calendário mais curto da soja.

FEIJÃO – O calendário de plantio do feijão segue até dezembro, com pico entre setembro e outubro. O plantio da safra das águas foi mais expressivo neste mês, atingindo 42% da área, depois de um plantio de 1% em julho e agosto.

No mesmo período do ano passado, no entanto, o Paraná já tinha 55% da área plantada. Esse atraso é resultado das variações climáticas, com estiagem e posterior excesso de chuvas.

Na avaliação do Deral, as condições das lavouras nos principais núcleos mostram que a produtividade pode ser prejudicada neste ano. Em Campo Mourão, por exemplo, 100% dos 1,5 mil hectares plantados estão em condições médias. Em Guarapuava, 20% das lavouras estão em condições médias e, em Ivaiporã, o índice chega a 50%. “No Estado como um todo, 91% das lavouras estão com boas condições e 9% em condições médias”, diz o engenheiro agrônomo Carlos Alberto Salvador. Segundo ele, a área estimada é de 154,2 mil hectares, com uma pequena redução em relação à primeira estimativa, e a expectativa de produção permanece em 309 mil toneladas.

As lavouras de feijão estão 42% em fase de germinação, 57% vegetação e 1% em floração. Os preços estão estabilizados e cobrem o custo de produção: a saca de 60 kg de feijão cores é comercializada por R$ 129,90. No ano passado, o valor era de R$ 95,26. O feijão-preto é comercializado por R$ 116,00. No ano passado, os preços estavam em R$ 119,00.

TRIGO – A estimativa de área mantém-se em um milhão de hectares, 7% menor do que na safra 2018/2019. Quanto à produção, houve uma queda de 28% na estimativa inicial, e o valor foi atualizado para 2,3 milhões de toneladas. Parte dessa produção já havia sido reduzida nos meses anteriores em virtude das geadas e, no último mês, a perda foi acentuada pela seca. As estimativas indicam que o Paraná terá uma das menores safras dos últimos anos, com as regiões Oeste e Centro-Oeste entre as principais atingidas.

A colheita do trigo evoluiu em setembro, colocando mais um milhão de toneladas no mercado, aproximadamente um terço da moagem estadual para o ano. O clima seco, embora tenha prejudicado a produção, colaborou para a colheita, e cerca de 60% da área do trigo está colhida. “Isso se justifica tanto pelo adiantamento do ciclo do trigo quanto pelo clima favorável para a atividade das máquinas. Estamos num percentual bastante próximo do recorde, que é de 65% para esse período do ano, e acima da média, que é de 42%”, diz o engenheiro agrônomo do Deral Carlos Hugo Winckler Godinho. No mesmo período de 2018, a colheita estava em 20%, em função do atraso no plantio, que não se repetiu nesta safra.

A grande oferta momentânea do trigo refletiu nos preços, que foram de R$ 49,00 por saca de 60 kg para R$ 44,00. “Se os preços permanecerem assim, isso vai comprovar que os produtores estavam certos em não ampliar a área de plantio neste ano. Eles previram que, provavelmente, o preço não se sustentaria”, acrescenta.

Outra avaliação do Deral inclui os derivados do trigo. Nos dois primeiros quadrimestres de 2018, o preço do pão foi mais elevado do que nos últimos meses do ano, quando se colhe. Em 2019, a tendência se repetiu: o preço médio esteve relativamente alto nos primeiros oito meses, e em setembro aconteceu um primeiro recuo.

Este recuo, simultâneo à redução nos preços ao produtor de trigo, pode ajudar os moinhos a não voltarem aos preços praticados anteriormente e, consequentemente, esses podem não ser repassados às padarias. Desta forma espera-se que, ao menos no período de colheita, o preço do pão possa ficar abaixo do preço no período de entressafra, a exemplo de 2018.

CEVADA – “As condições da lavoura melhoraram em comparação com o mês passado. O Paraná passou de 65% em boas condições para 78%, graças às chuvas”, diz o engenheiro agrônomo Rogério Nogueira. Cerca de 62% das lavouras estão em fase de frutificação – em estágio mais avançado do que no ano passado -, 32% em fase de floração, 5% em maturação e 1% em desenvolvimento. Houve recuperação no núcleo regional de Guarapuava, prejudicado pela seca em julho e agosto. A expectativa é de que a colheita da cevada comece em novembro. Na região de Ponta Grossa, que também tem boas condições de lavoura, o início da colheita está previsto para 10 de outubro. Juntos, esses dois núcleos concentram aproximadamente 80% da produção no Paraná. Para esta safra, espera-se a produção de 257,2 mil toneladas, um aumento de aproximadamente 17% em relação à safra anterior, e a comercialização segue em 31%.

OUTRAS CULTURAS – De maneira geral, Norberto Ortigara destaca ainda o crescimento da área de batata, cuja produção nacional é geralmente liderada pelo Paraná. A primeira safra mostra uma redução de área, mas com possibilidade de crescimento de produção de 4%. Além disso, há crescimento de área da cebola no cultivo da primavera, e manutenção da área cultivada do tabaco, com a possibilidade de crescimento de 8% na produção.

Além disso, houve ajuste na área plantada de mandioca, cuja produção de fécula e farinhas é liderada pelo Paraná. O relatório mostra ainda crescimento da área de amoreira, alimento básico da lagarta do bicho-da-seda, com quase 90% da produção brasileira concentrada no Estado. “É um fio que está ganhando confiança e mercado no mundo, especialmente no centro da moda. Nossa seda vem ganhando presença em cidades europeias como Lyon, Paris e Milão. Há um esforço da iniciativa privada e do Governo do Paraná, que vislumbra crescimento em torno de 500 novas famílias interessadas na cultura da amoreira para produção de casulos”, afirma Ortigara.