Cotidiano

Rumo ao Estado binacional

2016 911808306-201605250759217825_AFP.jpg_20160525.jpgIsrael está sob intensas críticas no cenário global. Algumas, como da campanha Boicote, Desinvestimento, Sanções (BDS), são um movimento para destruir Israel mascaradas de crítica política. Mas um monte delas são impulsionadas pelo desejo de Israel de autodestruir-se ? agradeçam ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu por eliminar qualquer possibilidade de separação de Israel dos palestinos na Cisjordânia.

Netanyahu é um homem que está sempre patinhando no meio do Rubicão, nunca o cruzando, sempre brincando (?Estou indo na sua direção ? Vou tomar uma decisão?), apenas para permanecer justo onde está, equilibrando-se entre todos os rivais, de modo que só ele sobreviva. Enquanto isso, Israel se afunda cada vez mais num Estado binacional de fato controlado por extremistas judeus.

Em breve, vamos chamar Netanyahu pelo que ele se tornou: ?Primeiro-ministro do Estado de Israel-Palestina.?

Israel sob Netanyahu tem ido de mal a pior. Ele forçou a saída do ministro da Defesa, Moshe Yaalon, ex-chefe do Exército, um homem muito decente ? soldado dos soldados, determinado a preservar o Exército israelense como um exército do povo, que aspira a elevados padrões de integridade no meio de uma vizinhança muito perigosa.

Netanyahu substituiu Yaalon pelo extrema-direita Avigdor Lieberman, que se gaba de se lixar para o que os judeus americanos pensam sobre como Israel se comporta. Um homem que, como o ?Haaretz? reportou, foi tratado pela equipe de Netanhyahu como ?um falastrão insignificante?, inadequado até para ser analista militar, e cuja situação mais próxima de uma batalha foi se esquivando de uma ?bola de tênis?.

Lieberman, quando não estava sob investigação por corrupção, pensava em explodir a represa egípcia de Aswan, denunciava como traidores os israelenses que querem que Israel saia da Cisjordânia e elogiava um soldado israelense, o sargento Elor Azaria, que baleou fatalmente na cabeça um agressor palestino ferido, caído no chão à espera de atendimento médico.

Descrevendo a opção de Netanyahu por Lieberman, o colunista Nahum Barnea, do ?Yediot Aharonot?, escreveu: ?Em vez de apresentar ao mundo um governo mais moderado, diante das batalhas diplomáticas que estão por vir, Netanyahu está apresentando o governo mais radical que jamais existiu na História de Israel.?

O próprio Yaalon alertou: ?Forças extremistas e perigosas assumiram Israel e o movimento Likud, e estão desestabilizando o nosso lar e ameaçando prejudicar seus habitantes.? O ex-ministro da Defesa trabalhista Ehud Barak disse que ?o que aconteceu é uma tomada hostil do governo de Israel por elementos perigosos?. Enquanto o ex-ministro da Defesa Moshe Arens, do Likud, escreveu no ?Haaretz? que Netanyahu e seus companheiros de extrema-direita ?insultaram não só Yaalon, mas o Exército israelense. É um exército do povo?.

Tudo isso começou em 24 de março, quando Azaria, um médico, foi flagrado num vídeo atirando contra o palestino ferido. Ele foi um dos dois palestinos que tinham atacado um soldado israelense a facadas, ferindo-o levemente. Azaria decidiu matá-lo por conta própria.

Yaalon e o chefe do Exército, tenente-general Gadi Eisenkot, reagiram rapidamente, dizendo que esta não é a forma como o Exército de Israel se comporta. Azaria foi acusado de homicídio e conduta militar inapropriada. Primeiro, Netanyahu também disse que a morte violava valores do Exército, mas quando sua base de colonos manifestou-se a favor do assassinato, Netanyahu mudou, instando o Judiciário a ter uma visão equilibrada sobre o que aconteceu. Lieberman foi à corte mostrar apoio a Azaria.

E tudo isso perturbou profundamente Yaalon e a liderança do Exército, e explodiu no Dia da Recordação do Holocausto, quando o vice-chefe do Exército, major-general Yair Golan, falando à nação, disse: ?É assustador ver situações terríveis que tiveram lugar na Europa começarem a ocorrer aqui.? Sim, você leu certo.

Netanyahu rebateu Golan, mas Yaalon, em discurso aos principais generais do Exército, disse: ?Mantenham-se agindo de acordo com sua consciência humana e bússola moral, e não de acordo com o caminho para onde os ventos estão soprando.?

Segundo o filósofo religioso Moshe Halbertal, da Universidade Hebraica, testemunhamos o ?partido que governa Israel sendo transformado de falcão nacionalista, com uma costumeira base humanitária e democrática, num partido ultranacionalista que agora é direcionado a voltar-se contra os ?inimigos? internos ? tribunais, ONGs, sistema de ensino, minoria árabe e, agora, o Exército ? qualquer um que fique no caminho de seu projeto de ocupação permanente da Cisjordânia?.

Netanyahu faz exatamente o oposto. Para quem se preocupa com o futuro de Israel, é um momento sombrio.