Cotidiano

Ronan nega que recebeu empréstimo de R$ 6 milhões feito pelo PT

SÃO PAULO – Acusado de receber R$ 6 milhões de um empréstimo tomado pelo pecuarista José Carlos Bumlai no Banco Schahin a pedido do PT, o empresário Ronan Maria Pinto negou as acusações feitas pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF) durante audiência da Operação Lava-Jato na tarde desta segunda-feira. Ronan afirmou ao juiz Sérgio Moro que tomou o empréstimo na empresa ViaInvest, disse que nunca tratou sobre os valores com ninguém do PT e que não conhece o pecuarista nem nenhuma pessoa no banco.

Também prestaram depoimento nesta segunda-feira o ex-presidente do banco, Sandro Tordin, e o empresário Natalino Bertin, cujo frigorífico teria sido usado para viabilizar o empréstimo, na versão do MPF.

? Entendo que o Ministério Público se equivocou. Na verdade, (o empréstimo) não tem nada a ver com PT, não tenho nem essa relação, não faria algo relacionado a PT ou outros partidos. Meu negócio (empresas de ônibus) me colocou em condição de trabalhar com várias administrações públicas, de todos os partidos. Sou empresário político, mas não partidário. Não teria nenhuma razão para pegar dinheiro do PT e colocar em risco meu próprio negócio ? disse o empresário, durante seu depoimento, que durou quase duas horas.

Ronan contou que, em 2004, precisava um empréstimo de R$ 6 milhões para suas empresas de ônibus. Ele diz que não conseguia créditos em bancos ?de primeira linha? porque enfrentava, em suas palavras, ?um problema de exposição política, por fatos ocorridos em 2002, pelo assassinato do prefeito e propina?. O empresário foi condenado em novembro como participante de um esquema de corrupção na prefeitura de Santo André ? uma das linhas de investigação da morte do prefeito Celso Daniel relacionava o crime à corrupção.

Sem ter acesso aos bancos, Ronan teria procurado a empresa ViaInvest. Após negociar com a ViaInvest, ele teria recebido R$ 5,7 milhões de outra empresa, a Remar, que, no entendimento de Ronan, pertencia ao mesmo grupo empresarial. Para a Lava-Jato, Remar e ViaInvest foram apenas intermediários do empréstimo conseguido por Bumlai junto ao Banco Schahin. No mesmo processo, o publicitário Marcos Valério afirmou à Justiça que o PT fez o empréstimo porque Ronan estaria chantageando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu e Gilberto Carvalho.

? Não tenho nenhum conhecimento, não conheço essas pessoas (que teriam viabilizado o empréstimo), nunca tive nenhum contato. Quando vi um dia um gráfico que mostrava por onde esse dinheiro teria passado, pensei: “podia ter ido no banco Schahin diretamente” ? disse Ronan.

O empresário disse que, passados 12 anos, pagou apenas oito de um total de 54 parcelas e não quitou o valor que tomou emprestado porque passou por uma crise e os juros eram ?exorbitantes?. Segundo ele, o pagamento foi feito em dinheiro vivo e não há nenhum comprovante. Questionado se a Remar e a ViaInvest não cobraram a dívida, inclusive judicialmente, respondeu que não e que, nesse meio tempo, tentou negociar uma forma de fazer o pagamento. Ele afirmou que faz questão de pagar o que deve.

TORDIN ACHOU QUE EMPRÉSTIMO ERA PARA BUMLAI

O ex-presidente do Banco Schahin Sandro Tordin disse que não dava a palavra final nos empréstimos feitos pela instituição financeira, que era familiar. Segundo ele, todas as operações acima de R$ 5 milhões eram aprovadas pelos sócios, os irmãos Salim Schahin e Milton Schahin. Tordin disse que quem o procurou para pedir empréstimo foi Bumlai e que a justificativa era a compra de uma fazenda do banco Bertin.

Ele confirmou que Delúbio Soares participou de uma reunião, mas que ficou calado e que teria sido levado por Bumlai apenas porque “era uma referência” para os sócios do banco. Ele diz que, por causa da participação de Delúbio, percebeu que o empréstimo envolvia uma conotação política e avisou a um dos acionistas do grupo, Salim Schahin. O executivo afirmou que um telefonema de José Dirceu para Salim Schahin foi essencial para a liberação do empréstimo. Dirceu, há época, era ministro-chefe da Casa Civil.

? Na época, eu tive a impressão de que, sim, foi decisivo, porque ficou na mesa dele bastante tempo e ele deliberou apenas depois da ligação – disse.

O executivo disse que aprovar o empréstimo era fácil, já que ele era “totalmente solvente”. Explicou que Bumlai tinha 150 mil cabeças de boi e que 12 mil bois eram o suficiente para pagar a dívida.

O pecuartista não pagou a dívida de R$ 12 milhões, que acabou sendo quitada fraudulentamente, segundo o MPF, depois que o Grupo Schahin conseguiu com contrato de R$ 1,6 bilhão com a Petrobras. Bumlai confessou que o empréstimo era para o PT e foi condenado a 9 anos e 10 meses de prisão.

BERTIN MUDA VERSÃO SOBRE FAZENDA

O empresário Natalino Bertin, que chegou a dar um depoimento dizendo que o valor, em torno de R$ 12 milhões, correspondia ao pagamento de uma fazenda comprada por Bumlai, disse que se confundiu. No primeiro depoimento, ele disse que havia vendido uma fazenda em Campo Grande ao pecuarista por R$ 40 milhões e que o valor era o pagamento da entrada. A fazenda, disse o empresário, não foi vendida, mas desapropriada pelo Incra.

? Eu fiz confusão na época. Não teve negócio nenhum com ele ? afirmou.

Bertin, que foi dono de frigorífico, afirma que o dinheiro que passou pela conta da São Fernando ?foi uma surpresa?. Segundo ele, o movimento diário de compra e venda de boi era muito alto e ele só só acompanhava o caixa mensal. Por mês, o giro financeiro era de R$ 1,5 bilhão. Perguntado sobre o fato de ninguém ter visto entrar e sair da conta da empresa R$ 12 milhões, Bertin disse que só soube agora, ao pedir os extratos bancários.

? Fiquei indignado com isso aí. O movimento era muito grande, não tinha como eu pegar isso aí. Entrou e saiu não contabilizado.

(*Estagiário, sob supervisão de Flavio Freire)