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Robert: Do Barcelona para o Boavista, via Belém

Robert seguiu a trilha dos velhos ídolos do rock e viveu 50 anos em cinco, quando experimentou o sucesso e pagou o preço da fama. Com 15 anos, surgiu como a grande revelação do Fluminense, prometeu que seria melhor que Neymar, conseguiu vaga no Barcelona B, foi chamado de gordo na Espanha, bateu de carro na Região dos Lagos, teve um filho e torceu o joelho direito. Quinta-feira, já com 20 anos, chegou a Saquarema, após passagem pela Belém do Paysandu, em busca de uma vida menos louca no Boavista.

Nas Laranjeiras, em 2011, vestido com a camisa 10 da seleção brasileira, Robert admirava o Cristo Redentor e se dizia abençoado. O garoto de São Gonçalo, então morador de Xerém, onde o tricolor mantém suas categorias de base, já havia sido campeão sul-americano sub-20 com o Brasil e em breve despontaria no Fluminense. Não havia nuvens em seu horizonte. Até que…

? A gente tem escolhas na vida e, por um determinado momento, eu escolhi o caminho errado ? disse Robert ao GLOBO.

?Todo mundo fala que eu lembro o Neymar. Fico feliz em ser comparado ao melhor e me inspiro nele. Igual a ele não vou ser, mas vou ser melhor?, disse Robert naquela tarde de 2011 nas Laranjeiras. Era um adolescente sonhando alto e assim continuou durante um tempo. Até ser acordado pela realidade.

? Eu fui lembrado como Neymar. Era bom, mas, agora, eu prefiro tirar o rótulo e construir minha história ? disse.

Os capítulos de sua história até a apresentação em Saquarema foram escritos com doses de esperança e drama. Graças ao contrato longo com o Fluminense, até 2019, Robert não caiu no limbo tão comum às jovens promessas que conhecem cedo o outro lado da fama. A estreia no profissional foi em 2013. Não jogou muitas partidas. Chamou mais atenção pelo episódio do acidente em Rio das Ostras.

No fim da madrugada da terça-feira de Carnaval de 2014, Robert e mais três amigos sofreram acidente com um Renault. Uma lixeira pública foi encontrada no porta malas do carro. Vídeos e fotos divulgados em redes sociais mostraram o carro bastante destruído após bater um poste. A suspeita era que eles teriam feito baderna, roubado a lixeira e, após serem perseguidos pelas autoridades, bateram no poste. Robert estava no banco carona, sofreu impacto no crânio e na face. O airbag funcionou. Ninguém morreu.

? A partir do momento em que você vai jogando no profissional, as coisas vão melhorando… Você conquista algumas coisas. Eu consegui comprar apartamento para meus pais… Mas agora mudou muita coisa. Eu amadureci, mudei o meu estilo de vida ? afirmou Robert.

Tauã e o renascimento

Em dezembro de 2015, ele já havia assinado com o Barcelona B e começou no ano passado o contrato que deveria ir até o fim de julho, renovável até o fim do ano. O clube catalão preferiu recusar novo acordo e dispensou o habilidoso meia, após ele ter feito apenas uma partida oficial, mesmo assim incompleta. Foi apelidado de ?Neymar Gordo?:

? Perdi muito tempo por causa de documentação (só foi regularizado em março). E eu estava parado, os caras que jogavam, não estavam. Dei uma desanimada, achei que não jogaria, vai desanimando mesmo. O técnico (Gerard López) não queria perder e nem descartar quem estava em forma. Mas foi um aprendizado.

Neymar conversou pouco com ele. A agenda impedia. Rafinha e Adriano eram mais chegados a Robert no Barcelona. Após deixar a Espanha, o destino foi Belém. No Paysandu, uma torção no joelho direito minou as chances. Foi praticamente um ano sem jogar. Os planos, agora, são cuidar da carreira e de Tauã, primeiro filho, que nasceu em 29 de dezembro. O Boavista estreia no Carioca contra o Flamengo, dia 29. O empréstimo é de três meses. Se for bem, a chance de voltar às Laranjeiras existe. Mas sem prometer ser melhor que Neymar desta vez.